Facebook desiste de conteúdos jornalísticos para gerar audiência

A plataforma ofereceu recursos novos e os editores continuaram apostando nelas. Mas, talvez, ela nunca tenha levado a questão das notícias a sério

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Rob Pegoraro 5 minutos de leitura

Duas manchetes recentes pontuaram dois golpes contra as ambições jornalísticas da Meta: uma delas relatava a saída do chefe de parceria de notícias Campbell Brown, que a empresa havia atraído do jornalismo em 2017.A outra destacava uma queda no tráfego de encaminhamento do Facebook para sites de notícias.

Ambos os artigos devem ter deixado claro para qualquer jornalista que ainda estivesse em dúvida sobre esse assunto: as notícias estão passando longe das postagens na timeline da Meta, não importa o quanto os editores tenham torcido pelo contrário.

O Facebook não é o único a promover recursos para o jornalismo que não são realmente úteis para os editores.

"O problema não é o fato de o Facebook estar se afastando das notícias", diz Damon Kiesow, presidente da cadeira de inovação em jornalismo da Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri. "O problema é que muitas agências de notícias presumiram que essa fonte gratuita de referências era, de alguma forma, garantida."

Mas foi preciso quase uma década para que o relacionamento com a meta-mídia chegasse a esse ponto.

Crédito: Istock

A primeira grande aventura do Facebook com o jornalismo ocorreu, sem dúvida, em 2011, quando o "Washington Post" lançou o Social Reader como um aplicativo na rede social. O app sugeria artigos do Post e de outros veículos com base em informações como os hábitos de leitura dos amigos. Outras editoras lançaram aplicativos semelhantes, resultando em uma espécie de poluição de links de notícias no Facebook. 

Meses depois, a rede social ajustou o layout do feed de notícias para colocar esses links compartilhados em um módulo menor. Isso fez com que o tráfego de leitores das redes sociais entrasse em colapso – uma das muitas vezes em que os gerentes de mídia social de veículos jornalísticos foram prejudicados pela priorização do Facebook em detrimento do trabalho dos jornalistas.

VIDEO IN/ VIDEO OUT

Depois de alguns anos em que as redações tentavam decifrar cada mudança no algoritmo do feed de notícias, o Facebook divulgou uma mudança muito maior no início de 2015, quando anunciou um salto maciço nas visualizações de vídeo e convidou as redações a se voltarem para esse formato de modo a aproveitar a onda. "Acho que haverá mais vídeos, muito mais vídeos", declarou à época Fidji Simo, diretor de produtos do Facebook.

Vários editores apostaram nessa previsão, demitindo repórteres e editores para dar lugar a produtores de vídeo. Mas o aumento do tráfego nunca se concretizou – e o Facebook admitiu que havia superestimado suas estatísticas de visualização.

A primeira grande aventura do Facebook com o jornalismo foi em 2011, quando o Washington Post lançou o aplicativo Social Reader na rede social.

Naquela época, porém, o Facebook tinha outra novidade para o jornalismo: o formato Instant Articles, de carregamento rápido, lançado em maio de 2015. Isso resolveu um problema real, pois muitos sites de notícias ainda sofriam com velocidades de carregamento terrivelmente lentas em navegadores móveis.

A publicação cruzada nos Instant Articles do Facebook era complicada, mas os veículos de mídia enfrentavam um problema maior: a estratégia não parecia gerar muito dinheiro, nem trazer muito público. Isso fez com que veículos como o "The New York Times" e a Fox News abandonassem o experimento conforme iam melhorando suas próprias presenças em dispositivos móveis.  

Depois de alguns anos de fracasso contínuo no lançamento do Instant Articles, o Snapchat e o TikTok se tornaram grandes ameaças à Meta, o que exigiu uma realocação do espaço mais importante da tela do Facebook.

Assim, em julho do ano passado, a Meta reformulou o recurso feed para promover Stories e Reels, suas respostas a essas plataformas concorrentes. Com as notícias agora em baixa, a empresa anunciou em outubro passado que encerraria os Instant Articles.

NEWS NÃO SÃO PRIORIDADE

No entanto, outra iniciativa prometeu um impulso mais direto aos editores em 2019: pagá-los para reproduzir seu trabalho no Facebook em uma News Tab dedicada. Inicialmente, os editores gostaram da guia Notícias, que foi uma resposta construtiva às suas queixas de que a publicação de links para artigos extraía injustamente o valor do negócio de notícias. 

Mas, no final das contas, concorrer com o TikTok continuou sendo a prioridade da Meta, e o sistema News Tab não ajudaria nisso. Nos Estados Unidos, a empresa começou a informar aos editores, em julho de 2022, que encerraria os pagamentos do News Tab. Agora está removendo o News Tab também na Europa.

Instant Articles (Crédito: Divulgação)

Em 2021, o Facebook introduziu mais um recurso, este voltado para jornalistas independentes que poderiam se sentir atraídos pelo concorrente Substack. A plataforma de boletins informativos Bulletin foi lançada com pagamentos adiantados para escritores selecionados. 

"Esperamos fazer disso um negócio sustentável e de longo prazo para todos os nossos redatores", disse, na ocasião, a gerente de parcerias estratégicas do Facebook, Samantha Bennet. Entretanto, em outubro passado, a Meta disse que encerraria o Bulletin no início de 2023.

as notícias estão passando longe das postagens na timeline da Meta, não importa o quanto os editores tenham torcido pelo contrário.

O Facebook não é o único a promover novas plataformas para o jornalismo que não são realmente úteis para os editores. Tanto a Apple quanto o Google criaram seus próprios formatos simplificados para publicações, que geraram muito pouca receita para os editores, mas atenderam aos motivos comerciais desses gigantes da tecnologia.

"Esse é o imperativo para empresas que são totalmente voltadas para o lucro", diz Kiesow. Ele reconhece o mérito da Meta por suas atitudes anteriores para apoiar o jornalismo, dizendo que elas "ajudaram centenas de redações a criar negócios de assinatura". Mas isso não fez com que as propriedades da empresa se tornassem uma base sólida para impulsionar notícias.

"O público era do Facebook o tempo todo", diz Chris Krewson, diretor executivo do grupo de notícias locais Lion Publishers. "Estávamos apenas morando ali de aluguel".


SOBRE O AUTOR

Rob Pegoraro é jornalista e escreve sobre computadores, gadgets, mídias sociais, aplicativos e outras coisas que pisquem ou bipem. saiba mais