Famílias de famosos que já morreram reclamam de deepfakes de seus entes queridos

Parentes de Robin Williams, George Carlin e outras figuras públicas criticam o uso de suas imagens em vídeos criados por inteligência artificial

telas de celulares com imagens de celebridades que já morreram
Créditos: Katrin Bolovtsova/ Time Miroshnichenko/ Nothing Ahead/ Pexels/ Eddie Addams/ Wikimedia Commons

Sarah Bregel 3 minutos de leitura

Familiares de celebridades falecidas, como Robin Williams e o comediante George Carlin, estão revoltados com o uso de suas imagens em vídeos gerados por inteligência artificial no novo aplicativo da OpenAI, o Sora.

O app, lançado há poucas semanas, rapidamente alcançou o primeiro lugar na lista de aplicativos mais baixados da App Store nos Estados Unidos. Mas, junto com esse sucesso, surgiram as polêmicas: especialistas e artistas levantaram preocupações em relação a direitos autorais, já que a plataforma permitia que usuários criassem deepfakes de figuras públicas.

A OpenAI já impôs restrições para esse tipo de conteúdo, mas reportagens do “The Washington Post” e de outros veículos apontam que as famílias de celebridades falecidas acreditam que a empresa ainda faz pouco para proteger a imagem de seus entes queridos.

No lançamento, a OpenAI afirmou que vídeos com “figuras históricas” não teriam as mesmas limitações aplicadas aos deepfakes de pessoas vivas.

O QUE DIZEM AS FAMÍLIAS

Na semana passada, Zelda Williams, filha de Robin Williams, fez um desabafo no Instagram. “Por favor, parem de me enviar vídeos de IA do meu pai”, escreveu. “Se vocês têm um mínimo de decência, parem de fazer isso com ele, comigo – com todos nós, na verdade. É ridículo, uma perda de tempo e de energia, e, acreditem, NÃO é o que ele gostaria.”

Kelly Carlin, filha do comediante George Carlin, expressou a mesma indignação. Em uma publicação no BlueSky, ela afirmou que os vídeos que usam a imagem do pai são “angustiantes e deprimentes”.

tela de celular mostra imagem do ator Robin Williams feita com IA

A filha do rapper e ativista de direitos humanos Malcolm X também condenou a prática em entrevista ao “The Washington Post”. “É muito desrespeitoso e doloroso ver a imagem do meu pai sendo usada de forma tão leviana e insensível, quando ele dedicou sua vida à verdade.”

Em nota enviada à Fast Company, a OpenAI afirmou: “embora existam argumentos de liberdade de expressão ao retratar figuras históricas, acreditamos que figuras públicas e suas famílias devem ter o controle sobre o uso de suas imagens. No caso de pessoas públicas falecidas recentemente, representantes autorizados ou responsáveis pelo espólio podem solicitar que suas imagens não sejam usadas em vídeos do Sora.”

Ainda não está claro se a empresa pretende aplicar restrições também a personalidades históricas mais antigas. No aplicativo, ainda circulam vídeos com Elvis Presley, Michael Jackson e Martin Luther King Jr.

QUESTÕES DE PRIVACIDADE E DIREITOS AUTORAIS

Especialistas alertam para as implicações do Sora em relação à privacidade e aos direitos autorais. “É como se os deepfakes tivessem ganhado um assessor de imprensa e um contrato de distribuição”, disse Daisy Soderberg-Rivkin, ex-gerente de confiança e segurança do TikTok à “NPR”, a rádio pública norte-americana. “É a amplificação de algo que já era assustador – agora com uma plataforma completamente nova.”

Ainda não está claro se a empresa pretende aplicar restrições também a personalidades históricas mais antigas.

O presidente da Motion Picture Association afirmou em comunicado que a OpenAI deveria assumir a responsabilidade de evitar violações de direitos autorais, em vez de transferir essa obrigação para os detentores dos direitos. “As leis de direitos autorais são claras e protegem os criadores – e isso também se aplica nesse caso.”

Os especialistas também ressaltam o potencial uso nocivo da ferramenta, já que ela pode ser usada para praticar bullying, assediar ou difamar pessoas.

“O Sora não tem qualquer respeito pela história nem compromisso com a verdade”, disse um pesquisador de desinformação ao “The Guardian”. “Quando pessoas mal-intencionadas têm acesso a ferramentas como essa, elas as usam para espalhar o ódio, praticar assédio e incitar a violência.”


SOBRE A AUTORA

Sarah Bregel é uma escritora, editora e mãe solteira que mora em Baltimore, Maryland. Ela contribuiu para a nymag, The Washington Post... saiba mais