Fãs fazem vaquinha para financiar estúdio que criou “The Walking Dead”

Criador da série anuncia que pretende levantar US$ 75 milhões em investimentos vindos de fãs

Crédito: Freepik/ iStock

Chris Morris 4 minutos de leitura

A Skybound Entertainment, fundada pelo co-criador de The Walking Dead, Robert Kirkman, lançou na última segunda-feira (23/01) uma vaquinha online que permite aos fãs adquirir uma cota da popular franquia ou de outras propriedades intelectuais da mesma empresa de entretenimento.

Quem está hospedando e supervisionando a campanha é o aplicativo de crowdfunding Republic. Antes mesmo de ser anunciada, ela já havia arrecadado US$ 11,6 milhões, vindos de mais de 4,5 mil investidores. A Republic considera que esse foi um de seus lançamentos de maior sucesso até hoje. 

Investir via Republic é um pouco diferente de comprar ações de uma companhia listada na Bolsa de Valores. Os investidores recebem um contrato de investimento que a plataforma chama de Crowd SAFE, dando a eles uma participação financeira na empresa.

Isso, no entanto, não lhes dá o direito de receber dividendos ou outros benefícios que uma empresa com ações no mercado poderia oferecer. Mas, caso a Skybound seja adquirida, abra o capital ou venda todos os seus ativos, os investidores poderão ter um retorno sobre o que investiram na marca.

É uma aposta arriscada para o dinheiro de quem investe, e a empresa é a primeira a admitir isso. “Este investimento envolve alto grau de risco”, diz, por escrito, o contrato de subscrição.

The Walkind Dead (Crédito: Star Brasil/ Divulgação)

É um investimento adequado apenas para pessoas que podem assumir o risco econômico por um período indefinido e que podem arriscar perder todo o seu capital. Além disso, os investidores precisam entender que seu investimento é ilíquido e espera-se que continue a ser ilíquido por tempo indefinido. Não existe mercado público para as ações e não há a expectativa de que nenhum mercado público se desenvolva após a oferta”, alerta o documento.

Quando fala em “investimento líquido”, a Republic quer dizer que, se o comprador mudar de ideia, terá dificuldade em receber seu dinheiro de volta. Além disso, as cotas não podem ser vendidas por pelo menos um ano, e não há garantia de que alguém vai querer comprá-las.

MAIS QUE FÃS, INVESTIDORES

Esse tipo de financiamento é conhecido como oferta do Regulamento A+. Basicamente, é uma alternativa a um IPO (oferta púbica inicial, na sigla em inglês) que permite que as empresas evitem o registro total na Comissão de Valores Mobiliários mas, mesmo assim, comecem a oferecer valores mobiliários. Algumas empresas recorrem a essa estratégia para "testar a temperatura do mercado" antes de fazer uma oferta mais formal, embora esse não seja o único caso.

Acontece que The Walking Dead, Invincible, da Amazon, e quase outras 150 propriedades de televisão e quadrinhos da Skybound têm uma legião de fãs muito leais, e alguns deles têm forte propensão a querer investir por conta da afinidade com essas propriedades.

Se esse for o caso, a pessoa precisará desembolsar pelo menos US$ 500 para cada ação ordinária (e essas ações não podem ser fracionadas, então ela precisará investir em lotes de US$ 500).

Invincible (Crédito: Amazon Prime Video/ Divulgação)

“Estamos muito entusiasmados com esta oferta do Regulamento A +, pois o conceito se alinha com um dos principais valores da Skybound: conectar-se com os nossos fãs”, disse o CEO da empresa, David Alpert, em um comunicado. “Acreditamos que capacitar nossos criadores a fazer o que eles fazem de melhor e convidar seus superfãs a participar do conteúdo pelo qual são apaixonados é uma vitória para todos.”

Funciona assim: quanto mais o fã investe na Skybound, mais “vantagens” ele ganha. Se colocar US$ 5 mil na empresa, receberá uma caneca de cerveja personalizada da Skybound Universe junto com as suas ações. Com US$ 100 mil, é convidado para um tour pela sede e pelo estúdio da empresa. E com US$ 2 milhões, tem direito a pisar no tapete vermelho em um próximo filme ou lançamento para TV.

A empresa espera arrecadar US$ 75 milhões antes do fim da campanha, previsto para 14 de agosto de 2023. Ela autodeclarou o seu valor de mercado antes desses investimentos em US$ 500 milhões, mas não há indicação de que essa seja uma estimativa auditada.

É uma quantia alta, mas há algum precedente para isso. A Realm Metaverse Real Estate, startup com um portfólio de ativos digitais em 13 metaversos, já levantou US$75 milhões via Republic e tem uma lista de espera para investidores. SpaceX e Robinhood são outras das empresas que, segundo a Republic, já fizeram uso da plataforma.

Até o momento, a Republic diz que mais de um milhão de pessoas já fizeram mais US$ 500 milhões em investimentos. Dentre os consultores financeiros da plataforma estão Randi Zuckerberg, irmã do fundador do Facebook, e o músico Chamillionaire.


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais