Fim do Bluesky? “Continuamos crescendo”, garante a CEO Jay Graber
Para Graber, a ideia de que só há espaço para uma rede social dominante está ficando para trás – e ela tem razão

Recentemente, um boato sobre o fim de uma rede social começou a se espalhar rapidamente pelo Bluesky. O mais curioso é que a plataforma em questão era o próprio Bluesky.
Ninguém sabe ao certo como esse rumor começou. Uma das teorias é que tenha ganhado força após uma matéria de Max Tani, do site “Semafor”, mencionar que assessores de deputados democratas nos EUA estariam abandonando a rede depois que seus chefes passaram a ser alvo de críticas de usuários frustrados com a falta de ação dos parlamentares.
Outro fator pode ter sido a desaceleração no crescimento de usuários. Após um salto expressivo, quando milhões de ex-usuários do Twitter migraram para o Bluesky depois das eleições presidenciais norte-americanas e das manifestações públicas de apoio de Elon Musk a Donald Trump, o ritmo esfriou.
Entre o fim de outubro e meados de dezembro, o número de usuários saltou de 11 para 25 milhões, mas desde então aumentou em apenas 10 milhões.
“As notícias sobre o nosso fim são bem exageradas”, diz Jay Graber, CEO do Bluesky. “O crescimento acontece em ondas. E em cada fase, novas comunidades se formam. O mais interessante é ver como nossa estrutura é diferente. Não queremos ser só mais uma rede tentando vencer todas as outras em um modelo no qual só há lugar para um ganhador.”
Para Graber, essa ideia de que só há espaço para uma rede social dominante está ficando para trás – e, honestamente, parece fazer bastante sentido. Esse é um fenômeno maior do que o próprio Bluesky.
Pessoalmente, não acho que nenhuma rede vá tomar o lugar do Twitter como a principal plataforma para acompanhar o que está acontecendo no mundo e na cultura pop em tempo real. Mas o Bluesky continua avançando na tentativa de preencher o vazio deixado pelo desmonte promovido por Musk.
UM LUGAR DE PASSGEM, NÃO UM JARDIM MURADO
Um novo estudo do Pew Research Center mostra que, após as eleições presidenciais norte-americanas, houve um aumento significativo na presença de influenciadores de notícias na plataforma – ainda que muitos deles continuem ativos no X/ Twitter. Além disso, o Bluesky está testando ferramentas para estimular conversas sobre os assuntos do dia.
Em maio, por exemplo, a plataforma começou a testar, em fase beta, um recurso que transforma a imagem de perfil da NBA (a liga nacional de basquete dos EUA) em um portal que direciona os usuários para transmissões ao vivo.
Segundo a empresa, a conta da WNBA (liga de basquete feminino) também vai receber esse recurso, que pode ser útil para qualquer criador que produza vídeos ao vivo, seja no YouTube, na Twitch ou em outras plataformas.
"isso aqui é como um livro-jogo: você escolhe o caminho. E o Bluesky é só o começo."
Esse novo recurso, chamado Live Now, lembra, de certo modo, a tentativa ambiciosa – e cara – do Twitter, em 2016, de se tornar uma plataforma de eventos ao vivo, transmitindo jogos da NFL (a liga de futebol americano).
A diferença é que, no caso do Bluesky, a plataforma não hospeda as transmissões, apenas facilita a saída dos usuários para assistirem ao conteúdo em outro lugar.
Isso é muito mais barato do que comprar direitos de transmissão e está totalmente alinhado à filosofia da empresa: derrubar os muros entre as plataformas. “Queremos ser um canal de passagem. Assim, quem cria conteúdo pode levar o público diretamente para o seu site de forma simples”, explica Graber.
SERVIÇOS POR ASSINATURA NOS PLANOS DO BLUESKY
Embora o Bluesky ainda esteja se consolidando como uma rede social realmente voltada para comunidades – como o Twitter já foi um dia –, ele também conseguiu evitar alguns dos problemas antigos que sempre atormentaram outras plataformas.
O estudo do Pew mostra que os influenciadores mais ativos por lá têm perfil mais progressista – algo que não surpreende quem já passou um tempo na rede.
Se a diversidade política crescer, os debates tendem a ficar mais intensos. O clima na plataforma já mostra um certo tom impaciente – como demonstraram tanto o episódio relatado pelo “Semafor”, com críticas a parlamentares, quanto a recepção hostil à Adobe, quando a empresa começou a postar na rede, em abril.
Mas, e se o Bluesky acabar sendo invadido por trolls, como aconteceu com o Twitter anos antes de Musk assumir? Perguntei a Graber como a plataforma lida com a moderação, especialmente em um momento em que a Meta parece orgulhosa por ter seguido o exemplo do X/ Twitter ao reduzir drasticamente seus esforços para as conversas respeitosas e baseadas em fatos.

“Temos uma equipe enxuta, mas desde o início contamos com moderadores humanos – e acreditamos que as pessoas precisam estar no centro do processo. Afinal, lidamos com seres humanos”, diz ela. “Ao mesmo tempo, há sistemas automatizados atacando as redes o tempo todo – e por isso também usamos automação para lidar com isso. É uma combinação dos dois.”
Outro desafio importante para o Bluesky é a monetização. No palco do Web Summit, em Vancouver, Graber afirmou que a empresa está desenvolvendo serviços por assinatura – uma alternativa mais saudável à publicidade em massa nos feeds, embora seja um modelo mais difícil de escalar. Em outubro, a startup levantou US$ 15 milhões em uma rodada de investimentos Série A.
“O que queremos mostrar é que isso aqui é como um livro-jogo: você escolhe o caminho. E o Bluesky é só o começo”, diz Graber. “O céu é o limite.”
Se ela vai conseguir realizar tudo o que planeja, ainda não dá para saber. Mas posso dizer: gosto muito mais dessa nova fase das redes sociais do que da época em que apenas um ou dois gigantes gigantes dominavam tudo.