Finalmente a Apple torna as novidades mais acessíveis para quem já tem iPhone

Novos produtos não reservam os melhores recursos só para os modelos mais caros. Tem novidades até para os dispositivos que você já possui

Crédito: Apple

Harry McCracken 3 minutos de leitura

Houve uma época – que durou anos – em que grande parte da estratégia de produtos da Apple se resumia a subtrair elementos. O caso mais famoso foi quando pouco importava se você estava perfeitamente satisfeito em conectar seus fones de ouvido com fio.

A empresa virou a página em 2016 e removeu o conector de fone de ouvido do iPhone, informando que esse era um ato de coragem. Parecia algo razoável que o objetivo de longo prazo da empresa fosse transformar o iPhone em uma elegante tela de bolso, sem nenhuma entrada ou botão.

Ultimamente, porém, a empresa tem se mostrado mais aberta a acrescentar elementos, em vez de tirá-los. No entanto, essas adições têm sido, muitas vezes, um incentivo para que o cliente compre um produto top de linha, em vez de se contentar com um modelo de preço mais baixo ou ficar com aquele que já tem. 

Tudo isso nos leva ao evento de lançamento realizado pela Apple na última segunda-feira. Em vez de depenar seus novos produtos, a empresa os incrementou. Também não deixou de destacar as versões mais econômicas. E uma porcentagem considerável do evento foi dedicada até mesmo a novos recursos para os produtos já na mão dos consumidores.

A coisa toda me pareceu uma demonstração de abundância, de um jeito que eu achei totalmente surpreendente.

Um exemplo: o novo controle da câmera. É mais um botão – um botão que você pode apertar com vários graus de pressão e deslizar para tirar fotos, aumentar e diminuir o zoom e aplicar filtros, entre outras funções fotográficas.

Também é possível usá-lo para obter informações (por IA) sobre itens na visualização da câmera, como a raça de um cachorro que você encontrar. Os desenvolvedores de aplicativos de terceiros, como o Snap, também têm acesso ao botão, o que lhes permite criar recursos exclusivos em seus próprios aplicativos.

Crédito: Apple

Sua materialidade fez com que o iPhone se parecesse muito mais com uma câmera do que quando você interage com ele apenas tocando na tela. Mas a maneira como a Apple já está usando o recurso como uma porta de entrada para o Apple Intelligence e abrindo-o para outros criadores de aplicativos mostra seu potencial para ser muito mais do que um mero botão do obturador.

A Apple está incluindo o controle da câmera em todos os novos iPhone a partir do modelo 16 de US$ 799, dando a ele a chance de se tornar um recurso icônico e diferenciado para toda a linha. 

E tem mais. No ano passado, quem quisesse um Apple Watch com uma tela de tamanho gigante precisava pagar pelo Apple Watch Ultra 2 (US$ 799). Este ano, a Apple colocou uma tela ainda maior na versão de US$ 429 do Apple Watch 10. Em relação aos AirPods, a Apple está lançando uma versão do novo AirPods 4 que inclui cancelamento ativo de ruído por US$ 179. 

Crédito: Apple

A edição deste ano do evento da Apple destacou vários novos recursos que não exigem a compra de um novo hardware. Não é surpreendente, por si só, que a empresa continue a aprimorar a funcionalidade dos aparelhos existentes.

A questão é que ela promoveu esses aprimoramentos com a mesma pompa e circunstância que teria feito se fossem diferenciais de seus produtos mais recentes.

a Apple tem se mostrado mais aberta a acrescentar itens nos seus dispositivos mais baratos, em vez de tirá-los.

Pode estar ocorrendo uma dinâmica estranha em relação a produtos tão consolidados como o iPhone, o Apple Watch e os AirPods. As pessoas adoram dizer que não se impressionam com as novas versões. E não deixa de ser um “problema bom” o fato de elas ainda estarem satisfeitas com um aparelho que compraram anos atrás. 

No entanto, essa satisfação permanente é um desafio para a Apple. Divulgando amplamente os novos recursos, a empresa pode tornar as atualizações mais tentadoras. Ainda assim, ela também demonstra um zelo cada vez maior por atualizações ambiciosas de produtos mais antigos – a coisa mais distante possível da obsolescência planejada que às vezes ela é acusada de praticar.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais