Finalmente um produto plant-based que pode reduzir o consumo de carne

O novo hambúrguer Indulgent promete conquistar um público maior ao entregar um sabor tão bom ou melhor que o da carne

Crédito: Impossible Foods

Brian Kateman 4 minutos de leitura

Até agora, 2023 tem sido um ano bastante tenso para as empresas que fabricam “carnes” à base de vegetais. Artigos de grandes veículos de comunicação, como Bloomberg e Washington Post consideraram a indústria de alimentos à base de plantas um fracasso ou uma tendência em extinção. Os números de vendas revelam um movimento de queda em relação aos anos anteriores.

Estima-se que a pecuária industrial seja responsável por cerca de 15% das emissões de gases de efeito estufa, globalmente.

Considerando esse cenário, o mais recente lançamento da marca Impossible Foods, nos EUA, veio em boa hora. O Impossible Indulgent Burger não se propõe a ser um alimento saudável. Na verdade, ele tem mais calorias, gordura e sódio do que os hambúrgueres padrão da Beyond Meat ou da própria Impossible Foods. E é exatamente por isso que acredito que ele possa salvar a reputação da categoria de carne à base de plantas.

A empresa descreve seu novo hambúrguer como o “mais suculento, grosso e carnudo” já feito, pesando 150 gramas (mais do que um hambúrguer padrão de 115 gramas). O teor de gordura aumentou: são 18% de gordura em comparação com os 11% do hambúrguer clássico.

Crédito: Impossible Foods

O marketing enfatiza o sabor do produto, que é “feito para ocasiões especiais em que o sabor é prioridade”. Mas a verdade é que é ilusão acreditar que apenas o gosto é prioridade nas decisões sobre comida feitas em ocasiões especiais. Se fosse esse o caso, a indústria de fast food, por exemplo, não teria o tamanho que tem hoje.

Se há um fato que não podemos negar é que temos que mudar drasticamente a maneira como comemos se quisermos evitar os piores efeitos da mudança climática. Acima de tudo, é preciso reduzir o consumo de carne. Essa foi a principal conclusão do relatório climático de 2019 da ONU.

Estudos mais recentes apenas reforçam esse alerta. Quase 60% dos gases de efeito estufa liberados na produção de alimentos vêm da carne. Estima-se que a pecuária industrial seja responsável por cerca de 15% das emissões de gases de efeito estufa, globalmente. A necessidade de reduzir o consumo de carne no planeta é clara e urgente.

A QUESTÃO DO SABOR

Mas a ameaça da mudança climática parece não bastar para motivar mudanças reais. Tampouco são suficientes a vasta e horripilante crueldade com os animais criados para o abate, ou mesmo as preocupações com a saúde humana. De um modo geral, as pessoas estão cientes dessas questões. O maior obstáculo é realmente partir para a ação.

Mudar a forma de comer significa quebrar hábitos, atualizar tradições, aprender novas habilidades e experimentar novos sabores. É aí que entra a carne à base de plantas. Se as pessoas tivessem uma alternativa realmente viável e atraente à carne, seria mais fácil fazer a troca.

Só o tempo dirá se a carne à base de plantas catalisará a mudança de que precisamos, mas é do nosso interesse descobrir isso quanto antes. Se toda a categoria está fadada ao fracasso, devemos descartá-la e passar para a próxima ideia, seja ela carne cultivada com células – carne cultivada a partir de células animais, em vez de animais abatidos – ou algo totalmente diferente.

Crédito: Impossible Foods

Os produtos análogos da carne são normalmente feitos e comercializados para pessoas que já são vegetarianas ou veganas. Esse público não espera que sua comida tenha gosto de carne. Podem até preferir que não tenha.

Os produtos da onda mais recente, como os hambúrgueres clássicos da Beyond Meat e da Impossible Foods, certamente fizeram um trabalho melhor do que os que vieram antes deles, no sentido de chamar a atenção dos carnívoros.

Mas são produtos que contam com o comprometimento do consumidor. Eles são feitos para pessoas que estão dispostas a sacrificar um pouco do sabor a que estão acostumadas pelo bem de sua própria saúde e do planeta.

TÃO BOM OU MELHOR

O problema desse tipo de compromisso, porém, é que ninguém fica satisfeito. Embora as pessoas possam ficar felizes em fazer concessões de vez em quando, elas não vão criar o hábito de comer determinados alimentos só porque eles atendem a requisitos que aliviam a consciência.

Se as pessoas tivessem uma alternativa realmente viável e atraente à carne, seria mais fácil fazer a troca para produtos plant-based.

Quem já se preocupa com saúde e nutrição não come muitos alimentos processados. Aqueles que estão mais preocupados em comer as coisas que gostam provavelmente não vão se contentar com opções que não sejam saborosas. A estratégia de desenvolvimento de produtos que tentam agradar a todos acaba não agradando ninguém.

É por isso que o novo hambúrguer da Impossible Foods pode ser um divisor de águas. Se as pessoas tiverem uma opção que realmente tenha um sabor tão bom quanto os alimentos que gostam, não vai parecer que estão fazendo um sacrifício. E, pela primeira vez, esse pode ser o caso.

De acordo com a Impossible, 82% dos consumidores avaliaram o novo hambúrguer “tão bom quanto ou melhor que” a carne moída real. Mas só o tempo dirá como os consumidores responderão ao produto.

Se mais gente concordar comigo que, de fato, o sabor é tão bom ou melhor do que um hambúrguer de carne bovina, pode ser que ele tenha chance não apenas de vender bem, mas de ajudar as pessoas a reduzir bastante o consumo de carne de origem animal. Por isso, esse pode ser o hambúrguer mais importante que você já experimentou.


SOBRE O AUTOR

Brian Kateman é cofundador e presidente da Reducetarian Foundation, organização sem fins lucrativos dedicada a reduzir o consumo de ca... saiba mais