Criptoarte: o que ver na ArtRio 2021

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 5 minutos de leitura

As obras de arte em NFT’s – Non Fungible Tokens – viraram notícia pelo mundo depois da realização de alguns leilões milionários dessas obras artísticas que existem somente no universo hiperprotegido da tecnologia blockchain. Mas a familiaridade com a criptoarte tende a se ampliar cada vez mais, e a ArtRio 2021, que será realizada entre 8 e 12 de setembro na Marina da Glória, no Rio de Janeiro e também no ambiente virtual, dará uma forcinha neste sentido ao incluir diversas NFT’s entre as obras em exposição, através das presenças da plataforma de criptoarte Tropix (apoiadora da feira) e da galeria virtual de criptoartes Metaverse Agency, além da exibições de algumas obras em criptoarte nas galerias Bianca Boeckel e Bailune Biancheri.

Depois de 11 edições deste que é um dos maiores eventos de arte da América Latina, esta será a primeira a disponibilizar estas obras – produzidas e validadas como NFTS através de contratos digitais e imutáveis registrados em blockchain, basicamente bancos de dados à prova de violação. E esta não é exatamente a “arte do futuro”. Já é possível enxergá-la como arte do presente, uma vez que só no primeiro semestre deste ano ela já movimentou US$ 2,5 bilhões pelo mundo.

O curador e produtor da Metaverse, Byron Mendes – fundador da Galeria de arte Kunst e nos últimos anos dedicado a exposições de arte-tecnologia -, diz que no Brasil a criptoarte ainda é nova, embora já tenha causado estardalhaço em outros países. E que por isso, esta primeira experiência na ArtRio terá um papel essencialmente educativo, ao apresentar o universo dos NFTs e da criptoaarte como um todo aos colecionadores tradicionais.

“A tecnologia blockchain é hoje o que a internet era nos anos 90. Mudará o mundo e as nossas vidas. Era inevitável que chegasse ao mundo das artes.”, observa. A criptoarte melhorou a vida dos artistas digitais, que estavam praticamente alijados do mercado.

“A legitimação digital permite a uma obra ser considerada única, e não copiada aos milhares”, diz.

O CEO da Tropix, Daniel Peres Chor, que é também diretor de inovação e herdeiro do grupo Multiplan, diz que a criptoarte vem mudando a forma com que galerias, artistas e colecionadores se relacionam com a arte através da tecnologia, na medida em que “empodera” o artista, garantindo a veracidade da obra e o direito de sucessão, além da segurança para o comprador. Sua aposta neste mercado em forte crescimento o levou a criar a Tropix há apenas um mês, com o intuito de ser uma ferramenta para as galeria de arte.

 

O QUE VER

 

A Metaverse terá um stand da Marina da Glória – que por si só será uma atração com seus dois enormes videowalls – e também disponibilizará as obras nas plataformas ArtRio.com, Makersplace, Portium, Biance e Open Sea. Vale dizer que serão aceitas, além do Real, as moedas Ethereum, Bitcoin, Tezos e BNB.

O grupo de artistas é muito representativo e inclui desde nomes internacionais consagrados e os primeiros criptoartistas brasileiros, a artistas mais “nichados” que trabalham com códigos e programação (arte generativa) e Comics, além de outros mais tradicionais da arte contemporânea que ampliaram as possibilidades de interfaces das suas obras.

Sacred Masculine – Nature – parte da série do artista Vamoss

Entre as séries de alguns percursores de criptoarte no Brasil está  “Sacred Masculine” (O Sagrado Masculino), composta de três obras (Integração, Natureza e Cosmos) do artista-programador, designer e mestre em economia criativa, Vamoss, que há mais de 10 anos busca explorar conceitos visuais e possibilidades algorítmicas em novas mídias. Reconhecida internacionalmente e premiada com o MAK Schindler do Museum of Applied Arts de Viena, a artista Monica Rizzolli trará Raining in the Cerrado (Chovendo no Cerrado), obra que traz como tema central representações botânicas em ambientes geométricos ao som de uma trilha sonora desenvolvida pela percussionista Lan Lan e o DJ Deeplick.

Wandering, obra de Monica Rizzolli

Paula Klien, uma das pioneiras no uso de NFTS em arte contemporânea, irá expor uma rara série de digigrafias, que são misturas digitais entre pinturas feitas com a tradicional tinta chinesa e fotografias tiradas dentro de um aquário intitulada “Mother Flower”.

Paula Klien

O autor e diretor de teatro Gerald Thomas exibirá a Série “Scratching the surface”, que propõe analogias entre tubarões e artistas, enquanto Beto Gatti marcará presença com uma mistura de pintura com fotografia, apresentando pela primeira vez criações as em 3D “Saudade” e “Sapiens 2.0”. Rejane Cantoni, que é referência em arte e tecnologia e criou a primeira instalação em NFT brasileira, virá com “Flora”, composta por 50 obras.

Obra de Alexandre Murucci

Outras presenças: Alexandre Rangel com as obras de vídeo-arte “Excruzilhada” e “Suuba”; o artista Adhemas, expondo a série “Born Daily” com influencia do seu trabalho publicitário; o escultor, cenógrafo premiado e diretor de arte Alexandre Murucci, com sua obra “Tangará”, que critica a situação atual dos povos indígenas.

Lord of Darkness, obra de Luke Ross

Os quadrinistas Mike Deodato e Luke Ross apresentam, respectivamente, duas obras baseadas em personagens icônicos e uma animação da saga Star Wars. Ross faz parte do seleto grupo de artistas que desenham para o universo de Star Wars para a editora Marvel Comics, e no momento está ilustrando para o evento “Star Wars: War of the Bounty Hunters”.

Entre os artistas internacionais, estão o alemão Mario Klingemann – conhecido por seu trabalho envolvendo redes neurais, código e algoritmos -, com o trabalho “Siren Experiment #2”, retrato gerado por uma rede neural; o espanhol Javier Arréz, pioneiro em criptoarte, apresentando a sua principal obra “Capitol City” premiada na Bienal de Arte de Londres, e o americano Jeff Davies, fundador do projeto Art Blocks, apresentando sua vertente artística com três obras de sua coleção pessoal: “Rhythm 228”, “Algorithmic” e “Edition”.

Siren, obra de Mauro Klingemann

LEILÕES

A Tropix terá um espaço físico na Art Rio: um container que reproduz uma sala de estar, enquanto monitores de TV apresentarão obras digitais. E leiloará 14 obras dos artistas Camila Soato (Zipper), Giselle Beiguelman (galeria Verve), Renato Pera (Bailune Biancheri) e Gerald Thomas (Metaverse). Também haverá um sorteio de uma obra da artista Monica Piloni, que virá junto com uma TV de 65 polegadas.

 

 


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais