Golpes com criptomoedas estão crescendo. Aprenda como evitá-los

Roubos envolvendo moedas digitais custaram aos investidores quase US$ 14 bilhões apenas no ano passado

Crédito: Aalashi/ GettyImages

Yaniv Hanoch e Stacey Wood 5 minutos de leitura

Em agosto de 2021, um de nossos alunos nos disse que abandonaria a faculdade. Mas esta não era a primeira vez que víamos alguém desistir prematuramente do curso.

O que era novo, porém, era o motivo. O estudante havia sofrido um golpe de criptomoeda e perdeu todo o seu dinheiro, inclusive um empréstimo bancário. O que além de tê-lo deixado falido, também o deixou endividado. A experiência foi bastante traumática, tanto financeira quanto psicologicamente, para dizer o mínimo.

Este aluno, infelizmente, não está sozinho. Atualmente, existem centenas de milhões de proprietários de criptomoedas, e estimativas preveem um crescimento ainda maior. À medida que mais e mais pessoas entram para o mundo das moedas digitais, cresce também o número de vítimas de golpes.

Estudamos economia comportamental e psicologia e publicamos recentemente um livro sobre o crescente problema de fraudes, golpes e abuso financeiro. Existem razões pelas quais os golpes com criptomoeda são tão comuns. E há medidas que você pode tomar para reduzir as chances de se tornar uma vítima.

A POPULARIZAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS

Golpes não são um fenômeno recente. O que mudou, fundamentalmente, é a facilidade com que os golpistas podem alcançar milhões de pessoas apenas apertando um botão. A internet e outras tecnologias mudaram radicalmente as regras do jogo e as criptomoedas simbolizam essas novas oportunidades de crimes cibernéticos.

As criptomoedas foram originalmente impulsionadas por cypherpunks, indivíduos preocupados com a privacidade. Mas o conceito se expandiu e chegou às mentes e aos bolsos de pessoas comuns – e também de criminosos, sobretudo durante a pandemia, quando o preço de várias criptomoedas disparou e elas se tornaram mais populares. Os bandidos logo capitalizaram sua popularidade.

O que mudou é a facilidade com que os golpistas podem alcançar milhões de pessoas apenas apertando um botão.

A pandemia também causou uma interrupção em negócios tradicionais, levando a uma maior dependência de alternativas, como as criptomoedas. Um relatório de janeiro de 2022 da Chainanalysis, plataforma de dados blockchain, sugere que, apenas em 2021, os golpes com criptomoedas custaram aos investidores cerca de US$ 14 bilhões.

INVESTIMENTOS FALSOS

Existem dois tipos principais de golpes com criptomoedas, que tendem a atingir diferentes tipos de pessoas.

Um tem como alvo os investidores, que tendem a ser traders ativos com portfólios arriscados. São, na maioria das vezes, investidores mais jovens, com menos de 35 anos, com rendimentos elevados, alto nível de escolaridade e que trabalham com engenharia, finanças ou TI. Nesse tipo de fraude, os golpistas criam moedas ou trocas falsas.

Um exemplo recente é a Squid, criptomoeda que leva o nome original da série sul-coreana da Netflix “Round 6”, Squid Game. Depois que o preço da nova moeda disparou, seus criadores simplesmente sumiram com o dinheiro.

Uma variação desse golpe envolve atrair investidores para serem os primeiros a comprar uma nova criptomoeda – um processo chamado “oferta inicial de moedas” – com a promessa de retorno rápido e alto. Mas, ao contrário do Squid, nenhuma moeda é de fato emitida e os possíveis investidores ficam de mãos vazias. Na verdade, muitas ofertas iniciais de criptomoedas acabam sendo falsas.

Qualquer um que considere comprar criptomoedas deve pesquisar minuciosamente a oferta.

Como em todo empreendimento financeiro arriscado, qualquer pessoa que considere comprar criptomoedas deve seguir o antigo conselho de pesquisar minuciosamente a oferta. Quem está por trás dela? O que se sabe sobre a empresa? Existe um white paper, um documento informativo emitido pela empresa que descreve as características de seu produto?

No caso do Squid, um sinal de alerta foi que os investidores que compraram as moedas não conseguiam vendê-las. O site também estava cheio de erros gramaticais, o que é típico de muitos golpes.

EXTORSÃO

O segundo tipo de golpe simplesmente usa a criptomoeda como método de pagamento para transferir fundos das vítimas para os golpistas. Isso inclui casos de ransomware (um malware de sequestro de dados), romance scams (quando o golpista tenta ganhar a confiança da vítima fingindo intenções românticas), golpes durante reparos no computador, “sextorsão” (tentativa de coerção e chantagem sexual), esquemas Ponzi (investimento fraudulento que promete retornos altos e constantes, como os esquemas de pirâmide), entre outros. Os ladrões se aproveitam da natureza anônima das criptomoedas para esconder suas identidades e evitar consequências legais.

Há uma clara necessidade de ampliar as campanhas de educação para incluir todas as faixas etárias.

Num passado recente, as vítimas eram obrigadas a fazer transferências eletrônicas ou enviar cartões-presente, que são irreversíveis, anônimos e não-rastreáveis. No entanto, esses métodos de pagamento exigem que elas saiam de casa, aumentando o risco de falarem com terceiros, que podem intervir e possivelmente detê-las.

Moedas digitais, por outro lado, podem ser compradas de qualquer lugar e a qualquer momento. Então, se alguém lhe pedir que transfira dinheiro via criptomoeda, redobre a atenção.

TERRA SEM LEI

No campo da exploração financeira, muito tem sido feito para estudar e educar idosos vítimas de fraude, devido aos altos níveis de vulnerabilidade desse grupo. A pesquisa identificou traços comuns que tornam alguém especialmente vulnerável a solicitações fraudulentas. Eles incluem diferenças na capacidade cognitiva, educação, avaliação de riscos e autocontrole.

É claro que adultos mais jovens também são vulneráveis e, de fato, estão se tornando vítimas. Há uma clara necessidade de ampliar as campanhas de educação para incluir todas as faixas etárias, inclusive investidores jovens, instruídos e privilegiados financeiramente. Acreditamos que as autoridades precisam intensificar e implementar novos métodos de proteção.

Golpes com criptomoeda são especialmente custosos porque a probabilidade de recuperar o dinheiro perdido é próxima de zero. Por enquanto, as moedas digitais não têm nenhuma supervisão. São, basicamente, uma terra sem lei do mundo financeiro.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Yaniv Hanoch é professor associado de gestão de risco na Universidade de Southampton. Stacey Wood é professora de psicologia na Scripp... saiba mais