Boas perspectivas do agronegócio mantêm as inovações das agtechs em alta

Novos produtos e processos de cultivo estão na mira dos produtores; Brasil lidera na adoção de produtos biológicos

Crédito: Abdullah Baloch/ iStock

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Fazendeiros no mundo todo estão abertos a inovar, apesar de incertezas macroeconômicas mundiais. Esta é uma das principais conclusões do relatório que a consultoria McKinsey realizou junto a 5,5 mil fazendeiros em nove países, sendo 750 no Brasil.

Novos produtos e processos de cultivo estão na mira dos produtores, contando com o suporte de muitas agtechs que evoluem com inovações que melhoram a produtividade com sustentabilidade.

Muitos produtores indicam interesse em ampliar seus portfólios de produtos para aproveitar a oportunidade de bons preços futuros das commodities. Cerca de 70% dos produtores no mundo têm expectativa de que o lucro no setor se manterá estável ou cresça.

A oportunidade de lucros, por conta de valores maiores para os produtos, é consenso como o principal atrativo para ampliar os investimentos. Por outro lado, os produtores entendem que os custos de produção são ameaças significativas aos negócios. Entre os brasileiros, a soma das expectativas de lucros maiores e estáveis nas diversas culturas deixa pouca margem de erro na decisão de investir.

A tendência positiva no Brasil está refletida também no aumento dos valores das áreas agrícolas, conforme indicado pelo Valor Econômico. Os preços das áreas de milho e soja subiram 127% nos últimos três anos por conta das buscas por novas áreas para plantio. Ainda assim, o produtor está motivado a investir em novas plantações, equipamentos, produtos e serviços que dão suporte à atividade.

DIGITALIZAÇÃO AVANÇA NAS RELAÇÕES COMERCIAIS

Existe uma forte preferência por experiências de uso de omnichannel, unindo as transações online e presenciais. Somados os produtores do Brasil e da Argentina, 66% já realizaram a compra de algum item online. Na Europa, o percentual cai para 54% e na América do Norte, 53% – mesmo considerando-se que as vendas online são bem consolidadas nessas regiões.

Fonte: McKinsey/ Global Farmers Insights 2022

Na soma global, 50% já compraram pela internet, principalmente equipamentos, peças e serviços de tecnologia, como forma de reduzir os custos. Os outros itens que entram nas prioridades de compras online para os próximos dois anos são hardware de agricultura de precisão e software para gestão de fazendas – aquisição de insumos como sementes, defensivos, fertilizantes para plantio não aparece entre as prioridades.

Metade dos produtores já compraram pela internet, principalmente equipamentos, peças e serviços de tecnologia.

Esta é uma boa oportunidade de investimento em plataformas que agregam produtos que ficarão mais acessíveis aos produtores. Elas devem ser acompanhadas de interações presenciais, para a obtenção de melhores resultados nas vendas.

O estudo aponta que há forte tração de uso de meios digitais de pagamentos e de financiamento, apesar de 60% ainda preferirem pagar à vista. Pagamentos digitais são usados por 30%.

A China lidera a adoção de pagamentos digitais no mundo, enquanto a América do Sul demonstra grande expectativa de crescimento com a adoção de plataformas que integram serviços de documentação, dados cadastrais, consultas a órgãos de controle e financeiros.

BRASIL SE DESTACA EM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS

A pesquisa da McKinsey apresenta uma informação que merece atenção: somente os produtores da América do Sul e da Ásia entendem que as questões ambientais estão entre as três principais ameaças ao setor.

Enquanto o mundo discute as consequências da mudança climática na produção de alimentos e cobra dos produtores brasileiros o cumprimento de regras ambientais, os produtores agrícolas na América do Norte e Europa não consideram a crise climática uma ameaça prioritária em suas regiões.

O Brasil lidera na adoção de produtos biológicos (biocontrole, bioestimulantes e biofertilizantes) de forma muito expressiva, enquanto América do Norte e Europa focam em novas tecnologias. Há entendimento de que o uso de novos produtos melhora a produtividade e protege as plantações – prioridade para que os produtores consigam aproveitar o momento de boas perspectivas.

No entanto, é interessante notar que na Europa e nos Estados Unidos, que concentram grande parte da produção mundial, a adoção dos biológicos é reduzida e não há grande intenção futura de adoção. Esses mercados se mantêm com o uso de produtos de base química.

Apenas 5% têm programas de carbono, iniciativa liderada pelos produtores no Canadá. A pesquisa indica que há ainda grande desconhecimento sobre como participar desse mercado. Produtores indicam que não aderem por não terem sido abordados por empresas que oferecem participação em programas de carbono.

Esta pode ser uma boa oportunidade para as empresas que atuam nos processos de certificação, compra e venda de carbono, de mapeamento de processos de fixação de carbono no solo e de redução de emissões de gases de efeito estufa.

Segundo o relatório McKinsey, os produtores devem ser melhor atendidos com a oferta de produtos e serviços que foquem em práticas agrícolas mais sustentáveis e mais acessíveis a todos os portes de produtores. Isso inclui os pequenos produtores que têm grande relevância na oferta de alimentos à população. Melhorar a acessibilidade inclui tornar a experiência de usuário mais fluida e fácil.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais