Comida plant-based com uma pitada de carne natural – para quê?
A Momentum Foods fabrica produtos 90% à base de plantas, mas adiciona partes de carne animal, como colágeno e gordura
Saba Fazeli passou cinco anos trabalhando com hambúrgueres vegetais e outros alimentos veganos quando era engenheiro-chefe de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Beyond Meat.
Mas no ano passado, ao lançar sua própria marca, a Momentum Foods, ele e o cofundador Brice Klein adotaram uma estratégia diferente: seus produtos são principalmente à base de plantas, mas incluem uma pequena quantidade de carne.
Tanto Fazeli quanto Klein conheceram de perto as deficiências no universo das alternativas à base de plantas. “Os produtos eram muito caros e o sabor não era bom o suficiente”, relembra Klein.
“Pedir aos consumidores que gastem mais dinheiro em um produto de sabor pior, que pode ou não ser mais saudável, mas que lhes daria uma consciência mais ecológica, é um pouco difícil, especialmente durante um período de recessão. Foi aí que percebemos que podíamos mudar isso adotando essa solução combinada.”
Os primeiros produtos da empresa, como a carne de porco desfiada e a carne assada, usam cerca de 90% de ingredientes vegetais, incluindo soja e arroz integral, proporcionando a maior parte do benefício ambiental das opções totalmente veganas.
Mas eles também incluem partes importantes da carne, como colágeno e gordura – os “pedaços de carne que não são realmente o músculo, mas que ativam a qualidade sensorial, o sabor”, explica Fazeli.
Se quisermos chegar a um futuro sustentável, a proteína animal deve vir majoritariamente de produtos misturado ou à base de plantas.
“Acho que todo mundo está ciente de que a gordura é realmente o que traz sabor. Para nós, a inclusão da gordura animal é o que melhora nosso produto e o torna muito mais parecido com a experiência que esperamos de comer uma boa carne – o sabor e o jeito que ela desmancha na boca.”
Embora seja complicado e caro fazer com que a carne totalmente à base de plantas tenha o mesmo sabor da carne real, os ingredientes que a startup escolheu são acessíveis o suficiente para que, desde o lançamento, seus produtos estejam em paridade de preço com a carne animal.
“A parte mais animadora desse conceito é que ele pode ser um bom caminho para reduzir o preço da carne”, propõe Fazeli. “Ao criarmos uma opção que é melhor tanto para as pessoas quanto para o planeta, além de mais barata, acreditamos que essa alternativa vai ganhar mais espaço ao longo do tempo”.
CARNE “HÍBRIDA”
A ideia de misturar carne com proteína vegetal não é nova. Mas enquanto o refeitório da escola mistura uma pequena quantidade de ingredientes vegetais com uma quantidade maior de carne para economizar dinheiro, a Momentum Foods inverte essa proporção e prioriza o sabor. Um punhado de outras empresas também oferece produtos mistos ou “híbridos”, como as startups Better Meat Co. e Mycorena.
“Espero ver um interesse ainda maior por produtos misturados. É provável que eles consigam atingir sabor e paridade de preço mais rapidamente do que as opções 100% feitas com proteína alternativa”, prevê Audrey Gyr, especialista em inovação de startups do Good Food Institute.
“Para muitos consumidores, esses produtos podem servir como uma porta de entrada para as proteínas alternativas. No entanto, os fabricantes de produtos combinados precisarão entender o que seu público-alvo está buscando. Nesse processo, pode ser que enfrentem dificuldades relacionadas ao marketing e ao posicionamento da marca”.
A Momentum Foods planeja se lançar primeiro em canais de venda menores, para conseguir se aproximar o máximo possível dos consumidores. “A dificuldade de explicar nossa proposta de forma resumida é nossa preocupação agora”, diz Fazeli. “É muito fácil explicar que algo é 100% feito de carne ou que leva 0% de carne”, diz ele. Mas a nova categoria é difícil de explicar rapidamente.
O FUTURO É PLANT-BASED
Fazeli espera ver o consumo de carne vegetal continuar crescendo e quer que os novos produtos da Momentum tirem participação de mercado da carne animal.
Para muitos consumidores, esses produtos podem servir como uma porta de entrada para as proteínas alternativas.
“O pensamento é que a carne deve ser reservada para ocasiões especiais, algo que comemos só de vez em quando. Se quisermos chegar a um futuro sustentável conforme a população cresce, o consumo de proteína animal deve vir majoritariamente de produtos misturado ou à base de plantas”.
O crescimento de alternativas plant-based nos últimos anos tornou essa nova categoria possível, diz ele. “Acho que a moda em torno dos alimentos vegetarianos e veganos abriu o caminho para que isso acontecesse… “
Para ele, se os produtos plant-based não tivessem proliferado no mercado e feito a cabeça dos consumidores nos últimos cinco a sete anos, uma solução como essa seria um pouco exagerada.
“Mas, agora que as pessoas estão familiarizadas com esses produtos à base de plantas – e, é claro, com a própria carne –, juntar essas duas coisas nos parece um próximo passo natural.”