Como a rede 5G vai ajudar a produtividade no campo

Crédito: Fast Company Brasil

Fábio Cardo 6 minutos de leitura

Recentemente, durante um painel sobre agronegócio promovido em evento do BTG Pactual, o presidente de uma grande empresa do setor indicou que prevê 100% de automação no campo para sustentar o crescimento e a produtividade necessária para ampliar a oferta de alimentos. Essa automação inclui equipamentos, desde preparo do solo até colheita, sem a necessidade de operadores.

Há um grande gap nesse processo: a ainda deficiente cobertura de redes de dados no campo. Em grandes áreas de cultivo de grãos no interior do país, os dados ainda viajam em mídias físicas, por mais de 30 quilômetros, até encontrar um sinal de 3G ou 4G para poderem ser transmitidos para centrais de processamento. A chegada do 5G pode ser uma revolução nesse sentido. Atualmente, apenas 11% da área rural é coberta pela rede 4G. Existe também a possibilidade de produtores rurais serem beneficiados com redes particulares.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estima que melhores conexões com a internet podem aumentar em 25% a conectividade das propriedades rurais, gerando um aumento de 6% da produção agropecuária. Além do maior acesso à informação, as conexões devem melhorar a operação remota de equipamentos como drones, tratores e colheitadeiras e aumentar a segurança, impedindo roubos, detectando incêndios, inundações, ameaças climáticas e outras ocorrências.

LIBERAÇÃO DO 4G PARA O CAMPO

As perspectivas de conectividade são cada vez melhores. Diego Aguiar, diretor de Operações da Vivo Empresas/Telefónica Tech, entende que, passada a fase do leilão de 5G, as empresas iniciaram seus processos de ampliação e modernização de toda a infraestrutura de conectividade móvel e fixa. Somente na Vivo, o investimento previsto neste ano é de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões em redes fixas e móveis em todo o país. 

O mercado estima que o 5G ajudará a liberar o uso de 4G em áreas rurais, facilitando o acesso das empresas que buscam integrar seus equipamentos conectados. Assim que a infraestrutura do 5G estiver liberada, a empresa prevê a integração de equipamentos com internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), com algumas propostas previstas de modelos de negócios.

Diego Aguiar, diretor de operações da Vivo Empresas/ Telefónica Tech (Crédito: Divulgação)

“Nossos clientes podem optar pela tecnologia que melhor atende às suas necessidades, garantindo aos dispositivos conectados maior autonomia de bateria, operação mais eficiente e rede dedicada.  Enquanto a rede NB-IoT responde melhor por dispositivos estáticos, com aplicações de sensoriamento do clima – como temperatura ambiente, umidade do solo e incidência solar, tipicamente utilizadas em estações meteorológicas –, a tecnologia LTE-M apresenta melhor performance em aplicações que demandam mais mobilidade, como telemetria de maquinários agrícolas”, explica Diego.

Com a rede 5G, o segmento de IoT poderá avançar de forma muito mais intensa e veloz, potencializando a tecnologia. Essa evolução exige muito planejamento e adequações em todas as camadas de rede, que, além de suportar todo esse tráfego, agregarão mais inteligência com funcionalidades de inteligência artificial e machine learning. “Nesse contexto, vemos que o mundo se transforma em volta do usuário, trazendo uma realidade jamais vista”, reforça Diego.

TESTE NA INDÚSTRIA DE AÇÚCAR

A Vivo vem realizando alguns testes no campo com 5G, em caráter experimental, desde o ano passado. O projeto 5G Smart Farming, parceria entre Vivo Empresas, Ericsson e São Martinho, tem como objetivo o desenvolvimento de um conjunto de inovações tecnológicas para o agronegócio, seguindo os padrões abertos de conectividade 4G e 5G a partir das frequências de 700MHz e 3,5GHz.

O MERCADO ESTIMA QUE O 5G AJUDARÁ A LIBERAR O USO DE 4G EM ÁREAS RURAIS, FACILITANDO A INTEGRAÇÃO DE EQUIPAMENTOS CONECTADOS.

No projeto, a Vivo contribui na construção de um ecossistema de soluções efetivas e de longo prazo, com aplicações baseadas em IoT e big data, além do vasto portfólio que pode ser agregado à São Martinho. Aguiar explica que trabalha no conceito de cocriação de novas possibilidades, por meio da experiência somada ao hub de parceiros – muitos deles startups, o que auxilia a levar inovações sob medida, com integrações mais ágeis e flexíveis, resolvendo, assim, problemas reais do agronegócio.

“Nosso papel no projeto é apoiar o desenvolvimento de soluções que aumentem a eficiência dos processos agroindustriais e façam uma melhor utilização dos recursos da empresa, com a digitalização de todas as operações da Usina de São Martinho, que é considerada a maior unidade processadora de cana de açúcar do mundo. Posteriormente, esta digitalização poderá ser levada para outras unidades da empresa”, diz o executivo.

Foram elencadas algumas aplicações a serem desenvolvidas para a agroindústria sucroenergética com a tecnologia 5G, como wearables, sensoriamento, drones, veículos e robôs conectados etc. A primeira delas permitiu conectar um drone para o mapeamento de alta precisão das áreas de cultivo de cana, detectando falhas nas linhas de plantio, ervas daninhas e pragas. Foi possível desenvolver um projeto piloto para um caso real, em que o drone conectado ao 5G permitiu a transmissão de vídeo de alta qualidade e controle em tempo real de todas as atividades de captura de imagens, impactando diretamente em ganho de eficiência. 

Os casos de uso da tecnologia 5G, gerados como fruto dessa parceria, aumentarão a eficiência da São Martinho em processos que requerem alta velocidade de transferência de dados e baixíssima latência, permitindo a utilização de veículos autônomos, como tratores e caminhões, drones para controle inteligente de pragas, identificação e localização de incêndios em suas áreas agrícolas, automação de processos industriais, entre outras atividades.

PLANEJAMENTO DE NOVOS SERVIÇOS

A Vivo já tem serviços para otimizar as operações no campo com ganhos em eficiência e produtividade e que terão uma evolução tecnológica com a massificação da rede 5G. Um deles é o Vivo Maquinário Inteligente, solução em telemetria avançada e gerenciamento de veículos pesados, como tratores, colheitadeiras e colhedoras. A aplicação, acoplada dentro da cabine, capta informações de telemetria, dando ao agricultor total autonomia na gestão e controle de seu maquinário. 

OS CASOS DE USO DO 5G AUMENTARÃO A EFICIÊNCIA EM PROCESSOS QUE REQUEREM ALTA VELOCIDADE DE TRANSFERÊNCIA DE DADOS E BAIXÍSSIMA LATÊNCIA.

O novo serviço impacta diretamente na redução do consumo de combustível e na manutenção preventiva.  A solução é agnóstica a fabricantes, elevando sua usabilidade em diferentes marcas, e conta ainda com hot spot wi-fi, que permite a conexão de outros dispositivos dentro da cabine. Todos os dados lidos são enviados para uma plataforma em nuvem, podendo também ser gerenciados localmente via aplicativo, tudo em tempo real. 

Outro serviço é o Vivo Clima Inteligente, solução baseada em estações meteorológicas para apoiar o agricultor na tomada de decisão sobre o melhor momento para as atividades de manejo, plantio e colheita. O serviço é dedicado à coleta, armazenamento, processamento e transmissão de dados de todos os sensores conectados às estações, podendo medir chuva, velocidade e direção do vento, radiação solar, temperatura, umidade relativa do ar, umidade do solo, pressão atmosférica, nível e vazão de rios e lagos, além de qualidade do ar e da água. 

Os agricultores terão acesso às informações em tempo real e em qualquer lugar. A tomada de decisão será mais rápida, mitigando riscos e aumentando a produtividade. Muito além de uma estação meteorológica, a solução funciona como um hub de automação, podendo ser integrada com pivôs de irrigação, proporcionando economia no consumo de energia e de recursos hídricos.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais