Como atrair capital no atual momento de incertezas no mercado financeiro
As intenções de investimentos andavam de lado em 2022 e só pioraram com guerra, inflação e problemas na cadeia de suprimentos
As últimas pesquisas divulgadas sobre investimentos em agtechs e foodtechs no mundo indicam que a vida dos investidores e das empresas que precisam de capital não está nada fácil. Instituições financeiras nos Estados Unidos se desmancham, respingando em bancos tradicionais mesmo fora do mercado norte-americano, expostos a problemas com liquidez.
Em paralelo, a necessidade de acelerar a inovação na produção de alimentos é premente. As empresas necessitam do suporte de capital de investidores financeiros e de companhias do setor para manter suas operações e conseguir crescer.
o mercado de venture capital passa por uma transformação relevante, com recursos se originando de diversas frentes.
As intenções de investimentos já andavam meio de lado em 2022, como aponta o último relatório divulgado pela AgFunder, empresa de capital de risco de alimentos, agricultura e tecnologia climática, em colaboração sua parceira global Temasek.
O financiamento para startups de foodtech e agtech atingiu US$ 29,6 bilhões em 2022, uma queda de 44% ano a ano. As exceções ficaram com os ganhos em empresas de tecnologia climática, como agricultura indoor, bioenergia, biomateriais e agricultura de precisão.
O cenário de 2021, quando o dinheiro era mais barato e as empresas puderam investir nos mais diversos e estranhos negócios de tecnologia alimentar, somando US$ 51,7 bilhões, mudou.
Guerra, inflação e as contínuas interrupções na cadeia de suprimentos, além da falta de mão-de-obra qualificada, fizeram o mercado desabar, expondo o mundo a novas ameaças de insegurança alimentar.
ECONOMIA E EDUCAÇÃO
Segundo o relatório, o Brasil não está entre os 10 maiores destinos de capital de investimentos em agtech e foodtech. Há um conjunto de fatores que faz com que o Brasil ainda não apareça na lista de países com maiores investimentos em no setor.
“O ecossistema de agtechs nacional ainda é novo, sim, mas com grandes conquistas nos últimos anos. Isso mostra que, nesse quesito, não estamos atrás de países como EUA, Reino Unido e Índia, principais destinos de capitais no setor”, afirma Fernando Rodrigues, CEO da Rural Ventures.
Para ele, a grande diferença entre o Brasil e os países desenvolvidos passa por dois fatores: o econômico e o educacional. O ecossistema de startups, nesses países, teria se desenvolvido rápido por conta dos juros baixos e da necessidade de diversificação de investimentos. Segundo o executivo, o montante de recursos disponíveis sempre foi maior que as oportunidades versus o retorno.
“Acredito que o mercado de venture capital brasileiro está passando por uma transformação relevante, pois os recursos estão sendo originados por diversas frentes. Entre elas, fundos, empresas, CVC’s, family offices, crowdfundings e club deals”, complementa Rodrigues.
Para ele, essa é uma oportunidade para o Brasil, pois, com
O financiamento para startups de foodtech e agtech atingiu US$ 29,6 bilhões em 2022, uma queda de 44% ano a ano.
o conhecimento sendo aprofundado em um momento de dificuldade de captação e juros globais altos, podemos fechar o gap de atratividade entre os países, colocando o Brasil como fonte não só de alimentos para o mundo, mas também de tecnologia.
O ano de 2022 foi um ano difícil para as startups em geral, analisa Bernardo Milesy, managing partner da empresa de investimentos em agrifood Glocal. Algumas tiveram que lutar para obter financiamento e sobreviver em um contexto financeiro que se mostrou muito diferente daquele a que estavam acostumadas, com taxas de juros crescentes e VCs mais “pacientes” para investir.
“Apesar disso, a inovação nunca parou. O contexto aprimorou o mercado e boas equipes, com propostas de valor para problemas globais em agricultura, alimentação e mudanças climáticas, continuaram gerando muito interesse dos investidores”, afirma Milesy.
ONDE ESTÃO AS OPORTUNIDADES
Segurança alimentar e investimentos foram temas centrais de painéis no World AgriTech Summit San Francisco, que dedicou boa parte da pauta para explorar as evoluções da tecnologia como suporte às operações de produção de alimentos e financiamentos.
Melhorar a produtividade – mais alimentos com menos uso de recursos naturais e impactos ambientais – com redução na pegada de carbono e na insegurança alimentar são os grandes focos no momento. Numa visão macro, que pode ser aplicada em diversos mercados produtores, Milesy destaca algumas principais tendências:
• Colaboração e integrações na agricultura, tornando os dados agrícolas e os de micróbios do solo mais acessíveis aos agricultores.
• Proteção de cultivos e biofertilizantes, com várias soluções novas e emergentes de fertilizantes biológicos para agricultores.
• Agri Fintech: o momento é propício para a inovação bancária no setor agrícola.
• Transparência da cadeia de suprimentos: as tecnologias permitem que os agricultores prevejam quando as operações críticas podem acontecer, meçam sua sustentabilidade e quando seus próprios resultados podem ser atendidos.
• Soluções locais para problemas globais: a instabilidade global e a guerra russo-ucraniana aumentam a necessidade de soluções locais para problemas globais.
• Foco no desperdício de alimentos: reduzir o desperdício se tornará uma prioridade para as economias à medida que o mundo luta contra a insegurança alimentar e a instabilidade econômica.
• O consumidor dirige os mercados de carbono: vemos potencial nos mercados de carbono porque os consumidores, e não os programas apoiados pelo governo, os estão impulsionando.
• As tecnologias de IoT estão revolucionando a forma como produtores, consultores, varejistas agrícolas e fabricantes de insumos interagem com a fazenda.