Como fazer uma agrifoodtech se tornar atraente para investidores

Startups nacionais têm potencial para chegar a unicórnios, mas os empreendedores devem trabalhar melhor a gestão dos negócios

Crédito: rawpixel.com

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

Os parâmetros de investimento andam bem desafiadores, tanto para quem precisa de capital quanto para quem investe.

Juros elevados; prazos longos demandados em operações que incluem ciclos de produção da agricultura e da produção de alimentos; processos de inovação e, muitas vezes, para produtos e serviços disruptivos, são variáveis da equação e levam muitas incertezas à tomada de decisão. É natural que o cenário gere alguma aversão ao risco.

Quebrando as premissas básicas e ampliando o escopo analítico, algumas empresas de investimentos estão conseguindo oxigenar as operações de agtechs e foodtechs com investimentos que mantêm as necessárias evoluções e perspectivas de produção e distribuição de alimentos.

Para essas empresas, sustentabilidade é premissa fundamental para começar qualquer conversa sobre investimento. A avaliação do tema aplicado aos negócios vai além das análises do impacto ambiental direto, considerando também o uso otimizado de recursos naturais.

Os empreendedores que buscam recursos devem prever a pegada de carbono, por mais complexa que possa ser a mensuração. E não é só: a governança corporativa virou um tema-chave, em face da conjuntura econômica mundial.

As startups ainda estão muito aquém das demandas dos investidores quanto a processos e apresentação de dados.

Reunidos em um painel para discutir o momento dos investimentos no setor em recente evento promovido pela AgTech Garage, Flávio Zaclis (da Barn Investments), Isadora Faria (da PwC) e Álvaro Rodrigués (da Suzano Ventures) enfatizaram que o mercado de venture capital evoluiu muito ao longo dos últimos 10 anos.

As agtechs nacionais podem ser consideradas atrativas e têm potencial para atingir o patamar de unicórnios. No entanto, os empreendedores devem trabalhar melhor a gestão dos negócios.

As startups ainda estão muito aquém das demandas dos investidores quanto a processos e apresentação de dados que permitam a avaliação de tração e validação dos negócios. Segundo Zaclis, fundador e CEO da Barn Investments, o momento de incerteza econômica exige análise e disciplina por parte dos empreendedores.

Existem diversas alternativas disponíveis para os empreendedores, entre elas, adoção de tecnologias na gestão das operações, aferição do impacto ambiental e composição de um conselho administrativo.

VANTAGENS ÚNICAS

“O Brasil tem vantagens competitivas que poucos têm, em termos de gerar energia limpa e produzir alimentos. Nenhum outro país tem capacidade de manter 17 milhões de hectares integrando lavoura, pecuária e florestas (ILPF), aumentando a produtividade para a agricultura e para a pecuária ao mesmo tempo em que recupera áreas degradadas”, destaca Zaclis.

Os empreendedores que buscam recursos devem prever a pegada de carbono, por mais complexa que possa ser a mensuração.

Criada há 10 anos, a Barn Investments é uma das empresas de venture capital que está nesta jornada de incentivo às agtechs e foodtechs. Seu foco são startups que trabalhem com economia verde.

Prioritariamente, a Barn investe em empresas que buscam investimentos série A, que já tenham operação rodando, com produtos e clientes. Uma das investidas é a Agrotoken, que tokeniza a produção de commodities agrícolas, facilitando o acesso a crédito e compras dos produtores.

Já a Grão Direto é uma plataforma de trading que conecta compradores e produtores de grãos, agilizando os processos de comercialização e garantindo a liquidação das operações. Também cuida da segurança e rastreabilidade da produção, promovendo inclusão econômica e social aos produtores.

Coordenadora de um pool de investidores institucionais, a Barn vê o ciclo longo das empresas como algo normal, levando em conta a transição que considera retorno somado com impacto e melhor eficiência no uso dos recursos naturais. A descarbonização e a implementação de práticas sustentáveis estão na prioridade dos investimentos da empresa, aponta seu fundador.

Os princípios ajudam no desafio de alimentar a crescente população mundial, de administrar a escassez de recursos naturais (incluindo o uso da água e da terra) e de reduzir os impactos das mudanças climáticas.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais