Consumo de café de alta qualidade cresce no Brasil

Crédito: Fast Company Brasil

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

Foi-se o tempo em que café, para a maioria, era nada mais que café. Sem maiores títulos, rótulos, classificações. Café sempre foi bebida de motivação, confraternização, para receber amigos, visitas, clientes. Puxando boas conversas, sem o componente etílico.

A bebida não deixou de ter todas essas características com o passar do tempo. Só que, hoje, agrega altos níveis de sofisticação em termos de sabores e aromas, com múltiplas variedades e de diversas procedências.

“O brasileiro prioriza o aroma para identificar o café com mais qualidade. O consumo remete a sentimentos positivos, de felicidade, paz, prazer e conforto, tudo o que foi prioridade durante a pandemia”, reflete Giuliana Bastos, uma das sócias do São Paulo Coffee Hub. A empresa promove a cultura do café com qualidade no Brasil e a inserção econômica dos pequenos produtores de cafés especiais.

A companhia atua também na promoção de conhecimento sobre a bebida, realizando pesquisas com apoio da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e de outras empresas, além de trabalhar com influenciadores focados em café para que se comuniquem melhor com o mercado. Em uma de suas pesquisas, identificou três perfis de público consumidor de café no Brasil.

“O primeiro é o que consome os tradicionais e extra-fortes, que ainda não se atentou para os cafés de qualidade. O segundo grupo reúne os entusiastas, que conhecem cafés de qualidade superior, gourmet ou especiais, e consomem em diversas situações cotidianas, por vezes alternando entre diversos tipos. O terceiro são os especialistas, mais restritivos, que só admitem os cafés de mais qualidade”, explica a sócia da São Paulo Coffee Hub.

O brasileiro prioriza o aroma para identificar o café com mais qualidade. O consumo remete a sentimentos positivos, de felicidade, paz, prazer e conforto.

A empresa promoveu o São Paulo Coffee Fest em 2020, evento 100% online, para difundir conteúdo sobre café e promover as vendas de pequenos produtores e cafeterias. A mecânica foi bem estruturada: os participantes podiam comprar online os produtos de dezenas de expositores e ganhavam brindes da organização e da patrocinadora, a Melitta.

Segundo Giuliana, mais de um milhão de pessoas foram impactadas (contando posts pagos) e 670 mil interagiram organicamente. “Fomentamos a venda de 3,6 mil pacotes de 250 gramas, gerando R$ 108 mil de lucro bruto para as cafeterias, além de um movimento de cinco mil pessoas em 30 estabelecimentos”, destaca a empresária.

A expectativa é de crescimento expressivo na próxima edição, prevista para o segundo semestre de 2022. Desta vez, o evento terá como foco fortalecer as micro torrefações e cafeterias que trabalham com cafés de qualidade.

CRESCIMENTO ACIMA DA MÉDIA

A tendência de consumo de cafés de qualidade se iniciou há cerca de 20 anos. Mas apenas nos últimos 10 ganhou impulso com estes segmentos de público, que aceleraram o mercado. A percepção de mais satisfação no consumo de produtos de melhor qualidade – seja em casa, nas cafeterias ou em restaurantes – estimula o aumento da oferta por parte das torrefações e o trabalho de curadoria, fazendo a torra e venda para consumo interno.

Segundo a ABIC, o mercado de café no Brasil continua a crescer acima da média mundial. A indústria nacional faturou o equivalente a R $15,2 bilhões em 2021, com crescimento de 1,71% em sacas. O resultado ficou acima do que foi registrado no mundo pela Organização Internacional do Café (OIC). De acordo com a entidade, a média mundial de crescimento foi de 1,33%.

Das 21,5 milhões de sacas produzidas no país, 45,3% foram consumidas aqui mesmo, em 2021. Esse movimento positivo ocorreu apesar da pandemia, que tirou o público das cafeterias e fez cair as vendas nos restaurantes. O mercado migrou para dentro de casa e as redes de varejo se beneficiaram com esse movimento: 84% das vendas de café são realizadas em redes de varejo e atacarejos.

Ainda que os cafés especiais representem menos de 1% do consumo do produto no país, segundo dados da ABIC, as experiências de consumo são bastante positivas e contribuem para ampliar e reter apreciadores de todas as qualidades.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais