Crowdfunding amplia oportunidades para foodtechs e investidores brasileiros
Limite para captação e investimento em startups sobe para R$ 15 milhões, o que deve aumentar o interesse em apostar no setor
Materializar boas ideias de negócios sempre encontra um fator chave para a concretização: capital para investimento. Qualquer um pode iniciar um negócio – ainda que de garagem, como dezenas de empreendedores hoje famosos e bem-sucedidos. Chega a hora em que o crescimento dependerá de um aporte adicional para manter a iniciativa saudável, financeira e economicamente.
Quando tratamos dos negócios de foodtech e agtech, o tempo é, igualmente, fator crucial para o sucesso. Os investimentos necessários para a aceleração no desenvolvimento e go-to-market são fundamentais para viabilizar a entrada de novos produtos e serviços que vão manter o ritmo de crescimento na oferta de alimentos.
Nesse momento, não tem jeito: o empreendedor tem que se valer das ferramentas disponíveis para levar adiante sua iniciativa. Atualmente, existe todo um conjunto de opções que flexibiliza a capitalização além dos empréstimos bancários e familiares. Equity crowdfunding é uma delas.
As novas regras de atuação dos crowdfundings no Brasil, publicadas pela CVM na Resolução 88 em julho, melhoraram a perspectiva de popularizar a opção de investimento. O valor limite de captação e investimentos aumentou para R$ 15 milhões – o que já atende muitas startups –, entre outras melhorias para investidores e empreendedores.
A evolução do mercado de crowdfunding segue a tendência de ampliação de opções de investimentos, sustentada por melhorias estruturais, com suporte de tecnologia (que mapeia de ponta a ponta todo o processo) e melhor regulação dos agentes financeiros e controladores.
Para os investidores, a iniciativa atende aos anseios dos que buscam opções de finanças descentralizadas, investimentos alternativos e ofertas de novos produtos e serviços que estejam alinhados com seu posicionamento, principalmente em questões como sustentabilidade ambiental, social e de bem-estar animal. Completa o rol as informações qualificadas e checáveis, como pontos fundamentais.
ACELERANDO STARTUPS
A vaquinha virtual não é nova. Segundo o site Statista, o mercado de crowdfunding mundial chegou a US$ 114 bilhões em 2020. O mercado norte-americano, o mais maduro do mundo, chegou a US$ 74 bilhões, sendo US$ 4,41 bilhões com contrapartidas em ações das empresas investidas (equity).
Indiegogo, uma das plataformas referência nos EUA, foca no público que investe em ideias inovadoras, com design e disruptivas. Oferece oportunidades de investimento em empresas com base de tecnologia e conta com uma longa lista de empresas de alimentos e bebidas que buscam investidores. As opções vão de empresas com equipamentos para processar melhor o café até cervejarias e lojas de alimentos frescos que não geram resíduos, entre dezenas de outras.
Os valores não são expressivos para cada uma das startups, mas a somatória ajuda na construção dos negócios e consolida um grande mercado para as empresas, além de diversificar as carteiras dos investidores.
FOODTECHS NACIONAIS TAMBÉM TÊM VEZ
No Brasil, 56 plataformas estavam cadastradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no final de 2021, captando R$ 188 milhões no ano (em 2016, foram apenas R$ 8 milhões).
Com foco no segmento de agrifood, a AraraSeed adota uma postura clara em termos de buscar negócios que carreguem propósito positivo. Entre as empresas que trabalham a captação no momento está a Veroo, foodtech que conecta pequenos produtores de café diretamente com consumidores finais, sem intermediários. A Veroo atua como serviço de assinatura para compra de café e tem uma proposta agressiva de crescimento da base de assinantes.
Outra empresa que tem mais tempo de mercado é a SMU (também conhecida como Start Me Up). Fundada em 2013, a plataforma já realizou 40 ofertas para startups, somando mais de R$ 50 milhões captados. Passaram pela SMU nomes como ChefsClub e Pink Farms, entre outras empresas.
A Kria também tem bastante experiência em crowdfunding. Atualmente, está com a oferta de captação da empresa The Question Mark Co., que produz alimentos plant-based em nanofábricas de alta produtividade e com tecnologia proprietária. Essas unidades de produção têm 67 metros quadrados, são modulares e expansivas, obtendo mensalmente o produto equivalente de mil vacas.
A empresa tem entre seus investidores Carlos Burle, campeão mundial de surf em grandes ondas, e Bob Burnquist, campeão mundial dos X-Games. Vale muito conhecer a plataforma, onde está o pitch deck, um vídeo explicando a razão de ser da empresa, além da cópia de todos os documentos formais necessários para a decisão assertiva de investimento.
A Kuke, que oferece experiências gastronômicas por meio de receitas e produtos, usou a plataforma de equity crowdfunding da EqSeed, no início de 2021, para captar R$ 500 mil em apenas sete dias. Atualmente, a plataforma está captando investimentos para a Brota, que oferece hortas em caixas para cultivo de verduras em casa.