Crowdfunding amplia oportunidades para foodtechs e investidores brasileiros

Limite para captação e investimento em startups sobe para R$ 15 milhões, o que deve aumentar o interesse em apostar no setor

Crédito: Prostock-Studio/ GettyImages

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Materializar boas ideias de negócios sempre encontra um fator chave para a concretização: capital para investimento. Qualquer um pode iniciar um negócio – ainda que de garagem, como dezenas de empreendedores hoje famosos e bem-sucedidos. Chega a hora em que o crescimento dependerá de um aporte adicional para manter a iniciativa saudável, financeira e economicamente.

Quando tratamos dos negócios de foodtech e agtech, o tempo é, igualmente, fator crucial para o sucesso. Os investimentos necessários para a aceleração no desenvolvimento e go-to-market são fundamentais para viabilizar a entrada de novos produtos e serviços que vão manter o ritmo de crescimento na oferta de alimentos.

Nesse momento, não tem jeito: o empreendedor tem que se valer das ferramentas disponíveis para levar adiante sua iniciativa. Atualmente, existe todo um conjunto de opções que flexibiliza a capitalização além dos empréstimos bancários e familiares. Equity crowdfunding é uma delas.

As novas regras de atuação dos crowdfundings no Brasil, publicadas pela CVM na Resolução 88 em julho, melhoraram a perspectiva de popularizar a opção de investimento. O valor limite de captação e investimentos aumentou para R$ 15 milhões – o que já atende muitas startups –, entre outras melhorias para investidores e empreendedores.

Hortas em caixas, da Brota (Crédito: Divulgação)

A evolução do mercado de crowdfunding segue a tendência de ampliação de opções de investimentos, sustentada por melhorias estruturais, com suporte de tecnologia (que mapeia de ponta a ponta todo o processo) e melhor regulação dos agentes financeiros e controladores.

Para os investidores, a iniciativa atende aos anseios dos que buscam opções de finanças descentralizadas, investimentos alternativos e ofertas de novos produtos e serviços que estejam alinhados com seu posicionamento, principalmente em questões como sustentabilidade ambiental, social e de bem-estar animal. Completa o rol as informações qualificadas e checáveis, como pontos fundamentais.

ACELERANDO STARTUPS

A vaquinha virtual não é nova. Segundo o site Statista, o mercado de crowdfunding mundial chegou a US$ 114 bilhões em 2020. O mercado norte-americano, o mais maduro do mundo, chegou a US$ 74 bilhões, sendo US$ 4,41 bilhões com contrapartidas em ações das empresas investidas (equity).

Indiegogo, uma das plataformas referência nos EUA, foca no público que investe em ideias inovadoras, com design e disruptivas. Oferece oportunidades de investimento em empresas com base de tecnologia e conta com uma longa lista de empresas de alimentos e bebidas que buscam investidores. As opções vão de empresas com equipamentos para processar melhor o café até cervejarias e lojas de alimentos frescos que não geram resíduos, entre dezenas de outras.

Os valores não são expressivos para cada uma das startups, mas a somatória ajuda na construção dos negócios e consolida um grande mercado para as empresas, além de diversificar as carteiras dos investidores.

Kuke oferece experiências gastronômicas (Crédito: Divulgação)

FOODTECHS NACIONAIS TAMBÉM TÊM VEZ

No Brasil, 56 plataformas estavam cadastradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no final de 2021, captando R$ 188 milhões no ano (em 2016, foram apenas R$ 8 milhões).

Com foco no segmento de agrifood, a AraraSeed adota uma postura clara em termos de buscar negócios que carreguem propósito positivo. Entre as empresas que trabalham a captação no momento está a Veroo, foodtech que conecta pequenos produtores de café diretamente com consumidores finais, sem intermediários. A Veroo atua como serviço de assinatura para compra de café e tem uma proposta agressiva de crescimento da base de assinantes.

E-commerce da Veroo, que vende de café por assinatura (Crédito: Divulgação)

Outra empresa que tem mais tempo de mercado é a SMU (também conhecida como Start Me Up). Fundada em 2013, a plataforma já realizou 40 ofertas para startups, somando mais de R$ 50 milhões captados. Passaram pela SMU nomes como ChefsClub e Pink Farms, entre outras empresas.

A Kria também tem bastante experiência em crowdfunding. Atualmente, está com a oferta de captação da empresa The Question Mark Co., que produz alimentos plant-based em nanofábricas de alta produtividade e com tecnologia proprietária. Essas unidades de produção têm 67 metros quadrados, são modulares e expansivas, obtendo mensalmente o produto equivalente de mil vacas.

The Question Mark produz alimentos plant-based (Crédito: Divulgação)

A empresa tem entre seus investidores Carlos Burle, campeão mundial de surf em grandes ondas, e Bob Burnquist, campeão mundial dos X-Games. Vale muito conhecer a plataforma, onde está o pitch deck, um vídeo explicando a razão de ser da empresa, além da cópia de todos os documentos formais necessários para a decisão assertiva de investimento.

A Kuke, que oferece experiências gastronômicas por meio de receitas e produtos, usou a plataforma de equity crowdfunding da EqSeed, no início de 2021, para captar R$ 500 mil em apenas sete dias. Atualmente, a plataforma está captando investimentos para a Brota, que oferece hortas em caixas para cultivo de verduras em casa.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais