Empresas terão que acelerar investimentos para garantir oferta de proteínas

Muitas estão desperdiçando oportunidades de reduzir impactos ambientais negativos de sua cadeia de suprimentos

Crédito: Istock

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Estudo promovido e divulgado pela FAIRR (Farm Animal Investment Risk & Return), entidade internacional que reúne grandes investidores mundiais e indústrias de alimentos, junto com o Good Food Institute (GFI) identificou que há uma grande evolução na indústria de proteínas na direção de buscar opções mais sustentáveis.

No entanto, há ainda um grande gap de comprometimento para a obtenção de resultados futuros na produção de proteínas que reduzam os impactos sobre o meio ambiente.

Todas as empresas pesquisadas estão investindo no desenvolvimento de produtos à base de plantas.

A FAIRR descobriu na pesquisa que 48% das empresas têm uma perspectiva neutra – ou seja, quase metade está no caminho de manter a melhoria dos resultados obtidos. Isso é positivo, mas insuficiente para que o setor alcance a mudança sistêmica necessária e para garantir a oferta futura de alimentos proteicos com baixo ou zero impacto ambiental.

O ritmo da mudança é lento: cerca de um terço das empresas (35%) demonstram engajamento com uma perspectiva positiva, com evidências de que alcançaram progresso significativo e continuarão em trajetória ascendente nos próximos 12 a 18 meses. No entanto, 17% das empresas que demonstraram engajamento com iniciativas sustentáveis estão em trajetória descendente e receberam uma perspectiva negativa.

Entre as empresas que demonstraram engajamento, a pecuária é responsável por cerca de 33% do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE), em média. Apenas 50% das metas líquidas zero cobrem as emissões da cadeia de abastecimento.

A maioria das empresas está perdendo a oportunidade de mitigar os impactos ambientais negativos em sua cadeia de suprimentos ao não explorar a conexão entre a diversificação de proteínas e a mitigação das mudanças climáticas.

Fonte: FAIRR e GFI

O envolvimento da FAIRR com 23 dos maiores fabricantes e varejistas de alimentos do mundo atuou como um catalisador para levar as empresas a tomar medidas sobre um tópico desafiador que antes não era considerado uma prioridade de sustentabilidade corporativa. Hoje, a diversificação do portfólio é reconhecida como uma questão relevante de negócios.

INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS

Todas as empresas envolvidas na pesquisa (indústria e varejo) estão investindo no desenvolvimento de produtos à base de plantas – considerada uma das categorias de crescimento mais rápido em todo o mundo e que tem obtido expressivos aportes de capital.

A proteína fermentada tende a ser a próxima tecnologia preferida e deve atrair a atenção de investidores que buscam opções de negócios com foco em sustentabilidade e que melhoram a qualidade alimentar.

Fonte: FAIRR 2022

As empresas que demonstram mais engajamento colaboram diretamente com startups de tecnologia de alimentos para incorporar novas tecnologias em seus portfólios. É o caso de diversas indústrias de proteínas com presença internacional, incluindo grandes players nacionais como JBS, Marfrig e Minerva, que não aparecem na pesquisa da FAIRR.

Na Nestlé, as vendas de alimentos à base de plantas aumentaram para 0,92% em 2021. A empresa tem dedicado 10% dos recursos de pesquisa e desenvolvimento à inovação desses produtos e realizado investimentos significativos para produção em escala. No Brasil, apoia iniciativas dentro do projeto Panela Nestlé, com fomento e apoio a empreendedores e novos produtos.

A Unilever anunciou a meta de gerar US$ 1,2 bilhão a partir de alimentos à base de plantas até 2027 e relata crescimento de dois dígitos nesse segmento. A empresa reformula produtos para reduzir ingredientes derivados de animais, incluindo a troca de leite em pó por leite alternativo.

Segundo apurado na pesquisa, algumas companhias que buscam zerar suas emissões de GEE ainda ignoram as proteínas sustentáveis como uma ferramenta eficaz de mitigação climática. Apenas cinco das 16 empresas que têm metas líquidas zero cobrem as emissões do Escopo 3 e estabeleceram uma meta de diversificação de portfólio.

MUDANÇA EM RITMO LENTO

A FAIRR prevê que o consumo global de carne aumente 14% entre 2020 e 2030. O índice Coller FAIRR Protein Producer provou que esse crescimento tem riscos materiais para ESG. Trabalhar o fornecimento de proteínas é crucial para reduzir as emissões da agricultura, silvicultura e outros usos da terra, que representam um terço das emissões totais de GEE.

A FAIRR realizou pesquisas e análises sobre o setor de proteínas alternativas para fornecer aos investidores uma atualização do mercado. O setor tem apresentado crescimento constante nos últimos anos. Em 2021, as vendas globais de carne à base de plantas ultrapassaram US$ 5 bilhões e as de leite à base de plantas ficaram abaixo de US$ 18 bilhões pela primeira vez.

Os investimentos privados no setor de proteínas alternativas continuaram a crescer, atingindo quase US$ 5 bilhões e aumentando 58% ano a ano, com uma Taxa de Crescimento Anual Composta (CAGR) de 56% em 12 anos. Relatórios preveem que os produtos à base de plantas podem atingir a paridade de sabor, textura e custo até 2023.

O estudo prevê ainda que o segmento de proteínas alternativas represente de 10% a 45% do mercado total de proteínas até 2035. Até 2050, essa fatia pode chegar a 50%. Estimativas de terceiros concordam que as proteínas alternativas vieram para ficar e para compor com a oferta de alimentos em todo o mundo, com aumento de participação de mercado.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais