Finalmente um jeito de medir a sustentabilidade das proteínas alternativas

Novos modelos fornecerão orientações para que empresas de proteínas alternativas possam medir e divulgar seu impacto ambiental e social

Crédito: Oriol Pascual/ Unsplash/ rawpixel.com

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

O que ainda se vê hoje são discussões acaloradas sobre sustentabilidade quando o tema é produção de proteínas, sejam elas de origem animal ou alternativas. Porém, o debate se dá sem aprofundamento técnico, dados e respostas objetivas.

O Good Food Institute (GFI), referência em temas de alimentação plant-based, e a FAIRR Initiative, entidade que reúne dezenas de investidores globais do setor de alimentos com foco nas questões de ESG, lançaram duas plataformas inéditas no setor que prometem elucidar o real impacto ambiental das indústrias de proteína alternativa, frutos do mar, ovos e laticínios considerando os respectivos climas, biodiversidade, nutrição e outros impactos sociais, ambientais e na governança.

Os novos modelos (ou frameworks) fornecerão orientações claras e específicas para que as empresas de proteínas alternativas possam medir e divulgar suas práticas e impactos ambientais e sociais para investidores e outras partes interessadas. Fornecerão também um roteiro para as empresas sobre como gerenciar negócios responsáveis.

INDICADORES PADRONIZADOS

As expectativas da FAIRR (Farm Animal Investment Risk and Return) são grandes: as empresas associadas somam US$ 68 trilhões em ativos sob gestão de investimentos e careciam dessas informações padronizadas. Na visão de Jeremy Coller, chairman da entidade, o que não pode ser medido não pode ser gerenciado. A ferramenta chega para cumprir esse papel, facilitando as decisões de investimentos.

Carne plant-based (Crédito: GIF/ Divulgação)

“Essas estruturas fornecem a investidores e empresas uma linguagem comum e um conjunto de padrões para medir e divulgar como estão gerenciando seus impactos ESG e abordando as metas climáticas”, explica Coller.

A expectativa é que os membros da FAIRR deem as boas-vindas às estruturas como mais uma ferramenta em seu processo de investimento e ajudem a facilitar a comparabilidade entre os produtores de proteínas à medida que a inovação evolui no mercado.

“Esperamos ver a adoção tanto por parte de grandes produtores ao Coller FAIRR Protein Producer Index quanto de pequenas empresas especializadas em proteínas alternativas, o que beneficiará o mercado como um todo”, ressalta o executivo.

Para garantir que os indicadores realmente atendam às necessidades do mercado, participaram de sua elaboração mais de 50 investidores, empresas e ONGs, tais como Unilever, EAT Just Inc., PIMCO, Unovis Asset Management e World Wildlife Fund-UK, bem como especialistas em ESG e em avaliação do ciclo de vida (LCA).

Ao concluir as estruturas, as empresas terão em mãos uma ampla variedade de dados ESG que podem orientar as decisões de portfólio de produtos e práticas de negócios, além de fornecer dados padronizados específicos do setor, algo que os investidores estão exigindo.

NOVO MERCADO DEMANDA NOVAS INFORMAÇÕES

As indústrias de proteína animal já contam com várias ferramentas de gestão e mensuração de ESG, mas não as de proteínas alternativas. Acontece que o investimento privado em proteínas alternativas aumentou, nos últimos cinco anos, a uma taxa média de 91% (até 2021, de acordo com a análise dos dados da GFI).

Proteínas alternativas (Crédito: GIF/ Divulgação)

O rápido crescimento do setor, bem como a crescente adição de empresas de proteínas alternativas às carteiras dos investidores que focam em sustentabilidade, excedeu a capacidade de definir os padrões ESG na indústria.

Com um terço dos ativos globais previstos pela Bloomberg Intelligence para serem gerenciados de acordo com os princípios ESG até 2025, essas abordagens ficaram ineficientes. Também não permitem comparabilidade e nem estão necessariamente alinhadas com as melhores e mais atuais práticas de relatórios ESG.

FERRAMENTAS PARA TODA A INDÚSTRIA DE PROTEÍNA

Foram disponibilizadas duas estruturas que avaliam riscos e oportunidades em ESG – desde emissões, fornecimento de commodities, uso da terra, gestão da água, engajamento do consumidor e práticas trabalhistas.

“Os modelos são escritos com uma perspectiva global e incluem contribuições de partes interessadas internacionais. Quando relevantes, as perguntas e orientações de divulgação foram elaboradas para permitir referências locais”, explica Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo da GFI Brasil,

As indústrias de proteína animal já contam com várias ferramentas de gestão e mensuração de ESG, mas não as de proteínas alternativas.

A Specialized Structure compreende um conjunto abrangente de métricas que se alinham com os padrões de relatórios existentes (por exemplo, GRI, SASB, SBTi). Leva à consolidação de métricas sobre proteínas alternativas que podem ser comparadas entre empresas – dentro da indústria de alimentos ou não – e com as indústrias de proteína animal.

Já o Diversified Framework é destinado às empresas que produzem e vendem vários produtos incluindo as proteínas alternativas. Permite que elas destaquem como seu portfólio de proteínas alternativas e de origem animal contribui para as metas ESG, incluindo emissão de gases de efeito estufa, uso da terra e de água.

As informações geradas deverão atender ainda as demandas dos consumidores com consciência ambiental, bem como de muitos investidores que têm como filtro inicial as práticas de sustentabilidade para definir a alocação de recursos. Sem parâmetros positivos, não há conversa.

“Essa estrutura abrangente nos permite abordar os riscos e oportunidades ESG de proteínas alternativas e está orientando nossas divulgações sobre os tópicos mais importantes para as partes interessadas, de acordo com as melhores práticas ESG,” comenta Beatriz Hlavnicka, head de marketing para a América Latina da PlantPlus Foods, venture capital da Marfrig e da ADM.

Esta é uma boa oportunidade para que todas as indústrias de proteína – animal e alternativa – demonstrem a transparência sobre o tema ESG que a sociedade demanda.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais