Inovação e sustentabilidade puxarão agtechs e foodtechs em 2023
A continuidade de iniciativas adotadas no ano passado promete garantir evolução positiva para o setor
O ano de 2022 foi bastante atípico: guerra entre Rússia e Ucrânia se estendendo, com risco para o abastecimento alimentos básicos e de insumos para o agro; países europeus e Estados Unidos convivendo com taxas de inflação, juros elevados e sinais de recessão que não se viam há décadas. E, como uma das consequências, o aumento da insegurança alimentar no mundo.
O rastro de tantas adversidades poderia impactar muito negativamente o que teremos de boas novas em 2023. No entanto, vimos ao longo do ano passado diversas iniciativas de investimento em inovação e sustentabilidade promovidos por grandes empresas de agtech e foodtech que permitirão manter uma caminhada que promete a evolução positiva do setor.
Muitas empresas aceleraram processos para evitar a suspensão de operações que afetariam a produção de alimentos que dependem de projeções de longo prazo. Destacamos aqui algumas tendências.
AGRICULTURA REGENERATIVA
Fixar o carbono no solo se tornou uma das prioridades na produção agrícola. Antigas práticas de cobertura de solo, mantendo a umidade e elementos químicos, estão sendo aplicadas para diversas culturas. A ampliação do uso integrado dos espaços com pecuária, lavoura e floresta traz ótimos resultados na produção.
Isso representa economia na aplicação de fertilizantes e insumos para controle de pragas, com boa pegada de sustentabilidade. Neste quesito, vimos no decorrer do ano passado iniciativas de apoio aos produtores rurais no Brasil por parte da Nestlé, PepsiCo e General Mills, entre outras.
É raro ver hoje uma empresa do setor que não tenha compromisso de ser carbono zero, definindo metas em variados prazos. Ou simplesmente não definindo um prazo, mas adotando projetos de sustentabilidade. É o caso da Marfrig, que tem recebido certificações nacionais e internacionais por conta de suas iniciativas nessa área.
FERTILIZANTES E INSUMOS VERDES
A aplicação de novas opções de fertilizantes e insumos é fundamental para garantir a produtividade. A adoção de fertilizantes permite aumentar a produtividade sem a necessidade de ampliar as áreas de cultivo – principalmente, sem desmatamento.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes no mundo: em 2021 foram mais de 42,6 milhões de toneladas. Na visão da CropLife Brasil, este é um tema muito relevante em termos de economia e sustentabilidade, atendendo aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) definidos pela ONU.
Os biosinsumos, criados a partir de microorganismos (vírus, bactérias e fungos), crescem em relevância em todo o mundo. O Brasil já lidera a produção e aplicação de bioinsumos no controle biológico e na fixação de nitrogênio e de umidade no solo. Entre as empresas que atuam nesse mercado estão a IndigoAg, Oceana Minerals e Agrivalle, entre outras.
Os fertilizantes verdes, produzidos a partir de biometano, são ótimos complementos que podem reduzir em 80% as emissões de gases estufa (GEE). Nesse quesito estamos bem-posicionados devido à abundância de resíduos das cadeias agroindustriais que podem ser processados em biodigestores.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o uso de biosinsumos na fixação biológica de nitrogênio na cultura da soja pode trazer uma economia anual de aproximadamente US$ 15 bilhões (R$ 78 bilhões).
O segmento é atraente para investidores, mas a indústria nacional ainda tem pouca expressão comparando com os investimentos que ocorrem no exterior. Por exemplo, a LanzaTech, da Nova Zelândia – que usa bactéria para converter emissões de carbono em matérias-primas, produtos químicos e combustíveis –, captou US$ 500 milhões junto à Brookfield Renewable Partners e está expandindo sua operação na China.
DRONES, SATÉLITES E ROBÓTICA
As indústrias de equipamentos agrícolas mantiveram os investimentos em conectividade para seus dispositivos. AGCO e John Deere se mantêm à frente na produção e oferta mundial dos equipamentos.
Até nos menores tratores, usados por pequenos agricultores em unidades familiares, é possível incorporar câmeras e sensores conectados que rastreiam a atividade no campo.
Esses equipamentos realizam a análise e correção do solo quanto à composição, umidade, pragas, plantio e colheita, gerando dados que podem ser integrados em plataformas com inteligência artificial e big data, fornecendo bons subsídios aos produtores.
Para os investidores, o rastreamento ajuda na agilização para formalizar as operações de crédito, que podem ser feitas 100% por aplicativos, e no controle das garantias de financiamento.
A conectividade ainda é um gargalo no processo. Ainda há espaço para ampliar as redes 4G, 5G e wi-fi nas propriedades para que possam agilizar as análises e tomadas de decisão.
Um segundo grande limitador é a falta de profissionais habilitados para fazer a captação, gestão e uso dos dados. Educação específica para o setor demanda tempo e conhecimentos específicos.
Na segunda parte desta reportagem sobre as principais tendências em agtech e foodtech em 2023, abordaremos de onde vem o dinheiro, onde será prioritariamente investido e como o mercado aponta o que deseja consumir.