Proteína cultivada é o foco do novo centro de pesquisa da JBS

Crédito: Tek Image/ GettyImages

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

As projeções sobre a oferta de alimentos, em especial os proteicos, e as demandas para atender cerca de 10 bilhões de pessoas em 2050, requerem ações imediatas das empresas e da sociedade no sentido de buscarem alternativas. Se hoje o acesso às proteínas é ainda limitado e deficiente para o consumo da população mundial, os desafios são enormes para atender as necessidades do público no futuro.

Com esta visão, a JBS, indústria de proteínas com presença global e uma das maiores empresas de alimentos do mundo, anunciou investimento de US $60 milhões no JBS Biotech Innovation Center, que será instalado no centro tecnológico do Sapiens Parque, em Florianópolis. O foco será o desenvolvimento de proteínas alternativas, cultivadas a partir de células de origem animal.

Eduardo Noronha, líder de inovação da empresa, define a iniciativa como sendo parte da estratégia da companhia, mantendo a função de protagonista em relação à produção e oferta de proteínas. “A projeção do crescimento populacional até o ano 2050 indica a necessidade adicional na oferta de proteínas em cerca de 70% para atender a população”, aponta.

A empresa toma por base as tendências e as demandas de consumo, entendendo que todas as opções de proteínas serão necessárias, desde as de baixo custo até as mais elaboradas. Em termos de negócios, o mercado global de proteínas, em 2050, deve chegar ao expressivo valor de US $1,3 trilhão.

A ideia é explorar três vertentes principais de proteínas: plant-based, incrementando a linha que já está no mercado; fermentada, à base de cogumelos, metano, bagaço de cana e outros; e proteínas cultivadas a partir de células de origem animal.

ENTENDENDO MELHOR AS PROTEÍNAS CULTIVADAS

As proteínas cultivadas estão em estudo pelo mundo há mais de uma década e ainda têm o desafio do custo alto e da escalabilidade. O processo de produção não é simples, mas a tendência é que isso melhore e o custo seja reduzido.

Ainda falta muito para se chegar a um produto que tenha sabor e textura que agradem o paladar.

A matéria-prima é sempre uma célula de algum animal bem selecionado e saudável. Ela é colocada em um biorreator com cerca de 60 ingredientes – incluindo sais minerais, aminoácidos e outros de uso corrente – para alimentá-la.

A célula tem que ganhar poder de multiplicação. Quanto maior a capacidade, maior a produtividade. Ao final, é obtida uma massa proteica, como um patê. Mas este não é o resultado final. A jornada ainda é longa até se chegar a um produto que tenha sabor e textura que agradem o paladar.

“Os consumidores, em geral, têm baixa rejeição a testar novas proteínas. Tomamos por base o crescimento do mercado de plant-based, que se expande significativamente”, explica o executivo da JBS. Ele ressalta que todo o processo de produção dessas proteínas é neutro quanto a questões ambientais e de sustentabilidade.

A OPERAÇÃO JBS BIOTECH

A Biotech é uma empresa de origem espanhola que já trabalhava com proteína cultivada, atualmente em operação piloto com uma minifábrica. A JBS identificou na companhia, que já buscava um investidor para ampliar a capacidade industrial, uma boa oportunidade para desenvolver a linha de proteínas cultivadas e formalizou uma joint-venture no final de 2021.

A operação industrial na Espanha prevê produzir, em 2024, mil toneladas de proteína cultivada, ainda não como produto acabado. Já no Brasil, a JBS Biotech terá um laboratório e uma fábrica piloto, que trabalharão de forma independente, porém explorando as sinergias com a operação espanhola.

Luismar Marques Porto e Fernanda Vieira Berti (Credito: Paulo Vitale/ JBS)

A previsão de início de operação do laboratório de pesquisa e desenvolvimento é até o começo de 2023. Em 2024, estará pronto e operacional. O espaço inicial contará com dois mil metros quadrados reservados para o desenvolvimento de proteína cultivada. Outros oito mil metros quadrados serão usados para explorar outras tecnologias associadas, tais como embalagens e opções complementares de proteínas.

A empresa está montando um time com 25 pesquisadores, sob a liderança de Luismar Marques Porto, presidente do JBS Biotech Innovation Center, e de Fernanda Vieira Berti, vice-presidente do Centro de PD&I. São dois dos maiores especialistas em bioengenharia do país, com ampla experiência profissional e acadêmica.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais