Público jovem e estratégia omnicanal puxam o consumo nacional de vinhos
Com a reabertura de restaurantes e mais acesso às lojas físicas, as vendas vêm crescendo desde o início do ano
O vinho está deixando de ser apenas uma bebida para momentos festivos e especiais e entrando na rotina de alimentação dos brasileiros. Uma tendência que vai na direção do que ocorre em diversos mercados com mais tradição de consumo, tais como o europeu, chileno, norte-americano e argentino, para citar alguns. A lista é bem maior.
A produção de espumantes nacionais de qualidade, a oferta de mais rótulos de vinhos leves e refrescantes – como os rosés e brancos –, além da oferta de novos produtos à base de vinho colaboraram para atrair e reter novos consumidores.
O consumo per capita no Brasil teve alta significativa desde o início de 2020, quando começou a pandemia, de acordo com a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). Em 2021, o país chegou a comercializar 489 milhões de litros (somando vinhos e espumantes), um aumento de 27% em comparação a 2020.
O setor só tem a comemorar. Com a desaceleração da pandemia, a reabertura de restaurantes e o acesso às lojas físicas, as vendas se mantiveram em crescimento desde o início de 2022.
Para Ari Gorenstein, cofundador da Evino, maior empresa de venda de vinhos do Brasil, a operação foi beneficiada no período da pandemia, pois já tinha toda a estrutura de vendas bem consolidada, enquanto muitas tiveram que correr para montar e adaptar suas lojas para vender online.
“A Evino trabalhou para fortalecer a melhor experiência de compra usando o conceito de omnicanal. O cliente conta com suporte personalizado nas interações online e nas lojas físicas. Os atendentes têm que saber as preferências dos clientes em todos os canais de contato”, explica Gorenstein.
PERSONALIZAÇÃO
Essa estratégia de atendimento consultivo é particularmente interessante para as vendas desse tipo de produto por permitir orientações personalizadas.
Os consumidores são frequentemente expostos a dezenas (ou centenas) de vinhos, seus respectivos rótulos, uvas, safras, graduação alcóolica e preços, o que dificulta demais a escolha.
Assim, ele acaba comprando os rótulos que já conhece e consome, não se abrindo para novas experiências.
Vale destacar que o consumo de vinho no Brasil evoluiu muito desde o período da abertura comercial na década de 1990. Após a fase dos brancos doces alemães, seguimos para a dos tintos muito encorpados e de alto teor alcoólico, o que elevou o paladar local a um nível mais alto de qualidade.
Com tantas opções, o consumidor acaba comprando o que já conhece e não se abre para novas experiências.
“Hoje, o mercado está sendo puxado por jovens que consomem vinhos mais leves e frescos, tais como os brancos e rosés. Eles são mais informais, com visual instagramável, demonstram um lifestyle. Isso é um fenômeno mundial”, destaca o empresário.
A Evino conseguiu atrair novos clientes desde o início da pandemia – via aquisição orgânica e com suporte marketing de performance – ao atentar para a mudança comportamental dos consumidores. O momento favoreceu o alto índice de retenção. A consultoria aos clientes com as indicações de produtos facilitou a consolidação da estratégia de vendas.
TECNOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO
“Temos que priorizar a omnicanal para oferecer conveniência. O cliente pode comprar na loja online e retirar em uma loja física, ou aguardar para receber o produto a partir de um dos centros de distribuição”, detalha Gorenstein.
A empresa atua com três pilares principais: logística (contando dark stores), tecnologia (com dados disponíveis na loja online e app) e atendimento customizado e personalizado. Para atender esse pilar, as equipes de atendentes devem ter treinamento e acesso e usar as informações sobre os clientes para orientar as vendas, usando todo o ecossistema e a tecnologia disponíveis.
A estratégia de negócios contempla outras iniciativas que geram resultados positivos nas questões relativas à sustentabilidade. O redesenho das garrafas, com vidros mais leves e resistentes, faz parte das propostas endereçadas aos produtores.
Este é um dos pontos que fazem parte da pauta de redução da pegada de carbono. A Evino mantém também programas de cunho social, revertendo parte do valor das vendas para iniciativas de proteção aos animais e suporte com a doação de cobertores para os Anjos da Noite.
BOAS PERSPECTIVAS DE MERCADO
Novos produtos, conteúdo e embalagens devem incentivar o consumo. A empresa está produzindo vinhos em lata, com a marca Vibra, junto com a vinícola Góes, além de outros produtos ready to drink à base de coquetéis. São produtos de entrada, para iniciantes sem experiência.
Em termos de tendência de mercado, a Evino aposta que os jovens vão continuar sendo a base de crescimento do consumo. Buscarão vinhos mais frescos, com menor teor alcoólico, para acompanhar alimentos mais leves. No que diz respeito a questões como qualidade e sustentabilidade, os vinhos orgânicos e os que declaram sua procedência têm espaço de crescimento.
Segundo Ari Gorenstein, a empresa está pronta para inovar na busca de novos produtos que atendam potenciais demandas do mercado. “Conseguimos no prazo de três meses criar e testar novos produtos no mercado para entender se justifica o investimento”, ressalta.