Ranking Foodtech 500 indica cenário desafiador no ecossistema de alimentos

Investimentos globais em agtech e foodtech caíram praticamente pela metade em 2022

Crédito: Forward Fooding

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

Os investimentos globais em agtech e foodtech em 2022 caíram praticamente pela metade do que foi registrado em 2021. Os cenários econômicos em todo o mundo se mostraram relevantes nas decisões de investimentos, afetando principalmente as aplicações em serviços de entregas.

Por outro lado, as startups atraíram percentual dos capitais em níveis superiores aos de outros anos, o que favorece o crescimento das tecnologias de suporte. Estes são alguns dos principais resultados apontados pela pesquisa The 2022 Foodtech 500, realizada pela Forward Fooding a partir de pesquisas em todo o mundo.

As contrações de mercado desmotivaram os investimentos em IPOs (oferta pública inicial de ações) e em SPACs (companhias com propósito inicial de aquisição, na sigla em inglês) como estratégias de saída, mesmo em mercados mais maduros como o norte-americano.

Neste, o valor das empresas em fase late stage em investimentos de capital de risco foi reduzido no terceiro trimestre de 2022 em US$ 71 milhões – queda de 29% em relação ao primeiro trimestre.

Os resultados também afetaram o crescimento das empresas mais maduras. Apenas nove empresas chegaram ao patamar de unicórnio em 2022, enquanto o ano anterior teve 35 novos unicórnios.

Crédito: The 2022 Foodtech 500/ Forward Fooding

Os investidores também ficaram mais receosos quanto a investir em produtos proteicos plant-based. A percepção é de que a alta da inflação em todo o mundo pode desmotivar os consumidores a pagar valores premium por alimentos, impactando diretamente nas vendas desses produtos.

A Beyond Meat viu a cotação de suas ações cair 83% no ano e as ações da Oatly tiveram queda de 73%, ambas em função das expectativas de redução de vendas e resultados. Grandes empresas de proteína como a JBS e a Kellog’s, por outro lado, mantiveram os compromissos de investimentos em proteínas plant-based, com o olhar de longo prazo.

Algumas empresas que são grandes consumidoras de capital para crescimento e sustentação, especialmente as de entregas e as fazendas verticais, devem enfrentar grandes desafios para atrair investidores.

Grandes empresas de entregas em todo o mundo estão dispensando pessoal – vide os casos de iFood, Getr, Nuro e Jokr. As fazendas verticais localizadas em países que tiveram expressivo aumento nos custos da energia elétrica estão igualmente sofrendo com a viabilidade econômica, algumas chegando à falência.

EXISTEM BOAS OPÇÕES

As proteínas alternativas à base de fermentação e as tecnologias de agricultura celular estão atraindo a atenção dos investidores que buscam opções mais escaláveis e de melhor qualidade. Comparando com o ano de 2021, estas opções conseguiram atrair mais capital do que para alimentos plant-based.

Fontes: ONU/ WEF/ UNCCD/ WPF/ WHO

Colaboraram positivamente os recentes avanços regulatórios e compromissos dos governos em favor da agricultura celular. São exemplos a aprovação, pela FDA (agência norte-americana que autoriza a comercialização de alimentos e remédios), do frango à base de células da Upside Foods e o compromisso do Japão de levar a carne cultivada para a mesa, o que deve acelerar a comercialização e os investimentos nos alimentos baseados em células.

A pesquisa foi baseada na análise de informações fornecidas por mais de sete mil empresas de 67 países.

Segundo a pesquisa, neste cenário – e considerando as necessidades futuras de mais alimentos para atender à crescente população mundial – os investidores deverão buscar novas opções de bons negócios na vasta cadeia do setor alimentício.

Entre as grandes opções a serem mais exploradas estão as inovações em redução de perdas de alimentos (do campo ao consumidor), biotecnologia aplicada na agricultura e robotização de fazendas.

A pesquisa Foodtech 500 foi baseada na análise de informações fornecidas por mais de sete mil empresas de 67 países. Os dados foram tratados com um algoritmo proprietário que avalia o tamanho do negócio, a pegada digital e a sustentabilidade de suas operações.

A Bowery Farming (fazenda vertical) lidera a lista das 500 empresas, seguida da Yinsect (proteínas a partir de insetos) e da Plenty (fazenda vertical).

A Fazenda Futuro está na 24ª posição do ranking, sendo a única brasileira presente entre as 100 maiores. O que é bem pouco, considerando os investimentos nacionais em agtech e foodtech e o protagonismo do país na produção mundial de alimentos.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais