Tendências e perspectivas para agtechs e foodtechs em 2023 – parte 2

Novas fontes de financiamento, acirramento da concorrência e consumo consciente estarão em alta este ano

Crédito: Envato Elements

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Dando sequência à análise das principais tendências para agtech e foodtech em 2023, com base nas evoluções de diversas indústrias e negócios ao longo dos últimos anos, pode-se dizer que há grandes oportunidades para bons investimentos e para inovação que resulte em novos e melhores produtos, do campo ao prato.

Indicamos algumas boas referências que, somadas às já mencionadas, ajudarão o mercado como um todo a obter crescimento sustentável – meio ambiente e sistema financeiro incluídos.

OPÇÕES DE INVESTIMENTO PARA NOVATOS

Investir em agronegócio dá bons resultados para quem entende do ramo – o que não é o caso da maioria dos brasileiros. Afinal, o setor responde por um quinto do PIB nacional e a tendência é que tenhamos ótimos resultados em 2023.

O país deve manter os recordes de produção e exportação de alimentos, incluindo soja, milho, proteína de frango, carne bovina, café, açúcar, suco de laranja e outros. A FGV-Ibre projeta um recorde no crescimento da produção do setor em 2023, como não se via desde 2017.

Hoje, qualquer pessoa pode investir em papéis dos Fundos de Investimento nas Cadeias Agroindustriais (Fiagro), podendo escolher desde a compra de fazendas até o fornecimento de insumos.

Qualquer pessoa pode investir em papéis dos Fiagro, podendo escolher desde a compra de fazendas até o fornecimento de insumos.

Os fundos de investimento no agronegócio negociados na B3 tiveram crescimento mais que expressivo em 2022 e devem manter o ritmo acelerado em 2023. Segundo dados da B3, entre janeiro e novembro de 2022, a quantidade de investidores passou de 30 mil para quase 160 mil.

Os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) compõem grande parte das carteiras dos Fiagro. São originados para grandes empresas, com operações sólidas no país e garantem a rentabilidade pré-fixada, pós-fixada ou híbrida. Contam ainda com a vantagem da isenção de Imposto de Renda e de IOF.

Outras opções que crescem no mercado para quem quer começar a investir em agtechs e foodtechs são as cotas de participação em empresas, em diversas fases de vida, via crowdfunding e venda de cotas de participação.

Plataformas online, como a do Mercado Bitcoin no Brasil, e internacionais, como a GoFundMe – responsável pela gestão de US$ 15 bilhões e com mais de 50 milhões de investidores – atendem desde startups que necessitam de investimentos seed até aportes adicionais para a manutenção de seu crescimento.

EMPRESAS DE DELIVERY SE AJUSTAM NO BRASIL

As empresas de delivery em todo o mundo receberam investimentos em volumes superiores aos obtidos em negócios que ainda têm algumas incertezas quanto à rentabilidade, riscos e viabilidade a longo prazo, segundo pesquisa divulgada pela AgFunder. Foi uma forma de ajuste em face da instabilidade econômica mundial.

Uber Eats e 99 deixaram o mercado de entrega de alimentos no Brasil, promovendo dispensas de funcionários. iFood e Rappi se firmam junto a diversas cadeias de restaurantes, farmácias e supermercados, ampliando a atuação com a oferta de serviços bancários.

Os aplicativos de delivery de alimentos da China lideram com folga o ranking mundial.

Novas tecnologias de gestão de entregas entraram no mercado nacional como opção para reduzir custos dos estabelecimentos e dos consumidores. Isso pode tirar alguma fatia das grandes de delivery locais. Há ainda incertezas quanto a questões trabalhistas dos entregadores, que podem gerar estresse no mercado.

No exterior, os investimentos são expressivos no segmento de entregas por apps. Os aplicativos de delivery de alimentos da China lideram com folga o ranking mundial: a maior empresa, Meituan, registrava US$ 144,72 bilhões em valor de mercado no final de 2022 e segue crescendo.

Em comparação, a maior empresa de delivery dos Estados Unidos, DoorDash, com quase 60% do mercado, apresenta US$ 20,11 bilhões de market cap, bem atrás da Meituan. Como referência, a Petrobras, maior empresa do Brasil segundo o ranking Valor Econômico, tem patrimônio líquido aproximado de US$ 78 bilhões.

A empresa Getir, sediada na Turquia, recebeu o maior aporte mundial do ano: US$ 768 milhões como série E. Com o aporte, a companhia, com presença em diversos países europeus, está avaliada atualmente em US$ 12 bilhões.

O lado menos atraente nas gestões das empresas é que elas estão programando ou efetivando a dispensa de funcionários, num processo de reajuste.

CONSUMO CONSCIENTE E REDUÇÃO DE PERDAS

Vimos em 2022 o crescimento de diversos negócios que se apoiaram em tecnologia para reduzir perdas e desperdício. Somam muitas toneladas de alimentos redirecionados, que atenderam as necessidades de muita gente em situação de insegurança alimentar.

São iniciativas como a da Sodexo, Mercado Diferente, Connecting Food, B4Waste, TooGoodToGo, entre muitas outras. Esta é uma tendência que se manterá forte.

Pelo lado do consumidor, a demanda por produtos mais saudáveis se mantém, bem como o questionamento sobre origem dos alimentos. As indústrias de alimentos veganos e vegetarianos perceberam que os varejistas estão muito mais abertos a negociar espaços para seus produtos, compondo o mix com itens de marcas bem conhecidas.

Diversas iniciativas empresariais por todo o país promoveram as condições econômicas e sociais para o desenvolvimento de comunidades de produtores. Isso se aplica a diversas culturas, incluindo a cacaueira, de açaí, castanhas, pimentas e outras que dependem muito de pequenos agricultores.

O suporte incluiu principalmente educação para melhorar as práticas de cultivo, definição de melhores preços, crédito, acesso a mercados e compromissos de aquisição de produtos.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais