Trigo produzido em fazenda vertical já é realidade
A Infarm teve sucesso ao cultivar o cereal sem solo ou defensivos agrícolas e gastando menos água que a lavoura tradicional
Um dos maiores freios para o crescimento do mercado de trigo no mundo é a questão climática, que desafia os produtores a conseguirem a produtividade necessária para atender à demanda.
A Infarm, empresa de fazendas verticais de origem holandesa, anunciou em novembro que obteve sucesso na produção de trigo em sua fazenda vertical, sem o uso de solo, defensivos químicos e usando muito menos água do que o necessário para o cultivo em campo aberto.
Esta foi a primeira iniciativa de sucesso de que se tem notícia no mercado. Ela abre novas oportunidades para a produção do grão, ampliando o leque de fornecimento além do cultivo extensivo.
O trigo é uma das commodities mais sensíveis em termos de relevância na composição da alimentação humana, chega a representar quase 40% do consumo de proteína em algumas regiões do mundo.
Além de ser uma cultura secular, ela sofre com barreiras comerciais – principalmente agora, com a guerra na Ucrânia –, enquanto o consumo é crescente. No longo prazo, espera-se que o aumento do consumo nas cozinhas e pela indústria alimentícia, bem como a crescente demanda por alimentos, impulsionem ainda mais o mercado de trigo.
Além de alimento humano, o farelo do trigo também pode ser utilizado como ração para o gado. Este cereal tem um importante papel na rotação de culturas em sua lavoura, fertilizando o solo para as próximas gerações.
PRODUTIVIDADE 26 VEZES MAIOR
Os primeiros ensaios da Infarm demonstraram resultados excepcionais, permitindo uma projeção de 11,7 quilos por metro quadrado de rendimento por ano. Projetado em escala, isso equivale a 117 toneladas por hectare/ ano, ou 26 vezes o rendimento da agricultura a céu aberto.
Para se ter uma base de comparação, de acordo com o Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo 2020, a média de quilos por hectare fica por volta de 4,5 a 5,6 toneladas. Um caso isolado de sucesso em produtividade no Brasil chegou a 9,6 toneladas por hectare.
É claro que o volume de produção indoor muito dificilmente se igualará ao do campo aberto. Assim como ocorre com outros alimentos, é mais uma opção para compor com a produção em países que têm restrições climáticas.
Vale ressaltar que a Infarm, por exemplo, está muito concentrada em regiões frias do planeta, com dezenas de unidades produzindo continuamente folhagens e frutos, essenciais para evitar a sazonalidade e grandes variações de preços para o consumo local durante todo o ano.
GRANDE PASSO PARA A SEGURANÇA ALIMENTAR
Segundo a empresa, este primeiro ensaio foi realizado no próprio laboratório, com um sistema hidropônico, e indicou que adaptações tecnológicas podem ser necessárias. O teste demonstrou com sucesso o potencial de produzir trigo em uma fazenda coberta.
O fato de terem cultivado trigo com sucesso em ambientes fechados é um marco importante no caminho para mais segurança alimentar e resiliência. Este ensaio foi o passo inicial e é uma prova de conceito que agora pode ser usada para desenvolver um caminho para a comercialização.
“Ser capaz de cultivar trigo em ambientes fechados é um marco para a Infarm e de importância significativa para a segurança alimentar global, já que é uma cultura densa em calorias, mas intensa em recursos, de um grão que é componente central das dietas em todo o mundo”, destaca Erez Galonska, CEO e co-fundador da companhia.
“Começamos a Infarm para encontrar novas maneiras de produzir alimentos para alimentar a crescente população mundial. Os resultados mostram que estamos um grande passo mais perto de alcançar esse objetivo”, completa Galonska.