Varejo de alimentos: brasileiro prefere quem entrega em casa

Pesquisa Taste of Tomorrow mapeia tendências para a indústria e varejo de alimentos na América Latina

Crédito: rawpixel.com/ Kiwihug/ Unsplash

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Os consumidores brasileiros estão cada vez mais atentos às questões de praticidade e qualidade na compra de alimentos. Um em cada dez consumidores faz ao menos uma compra online por semana de itens frescos; 15% compram alimentos prontos para consumo e a maioria (82%) acham que lojas e restaurantes devem ter estrutura para fazer entregas em domicílio.

Os dados são da pesquisa Taste of Tomorrow 2022, produzida pela Puratos, multinacional que atua no mercado de panificação, chocolate e confeitaria. No total, foram 3,2 mil pessoas entrevistadas no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Peru e México.

Atualizado anualmente, o estudo busca entender a evolução dos hábitos de consumo de alimentos nos países latino-americanos. O objetivo é ajudar a área de P&D da empresa a trabalhar no desenvolvimento de tecnologias, insumos, produtos e soluções para a indústria de alimentação e varejo.

“A conveniência é fator de comparação para os consumidores, que buscam boas experiências de compras para definir os produtos que deseja consumir”, afirma Vitor Campos, diretor de marketing da Puratos. Neste cenário, as vendas online cresceram muito em relevância.

Outra tendência crescente junto aos consumidores é a automação nos pontos de vendas. No Brasil, 48% gostariam que os serviços de delivery fossem automatizados, sem intervenção humana. Os drones são a opção mais aguardada para esse fim.

Qualidade é a principal barreira para vendas online de pães e de confeitaria, pois o consumidor teme que os produtos percam a qualidade no processo de compra e recebimento. No caso dos pães, o segundo limitador é receber o produto fresco.

Por conta disto, o brasileiro tem o hábito de comprar em padarias, fartamente localizadas em todo o país. O mesmo não ocorre em outros países da América Latina, onde a preferência de compra é em supermercados e lojas de conveniência.

TEM QUE SER INSTAGRAMÁVEL

O sabor é o principal fator na decisão de compras de pães e de confeitaria. No caso do chocolate, o preço é prioridade, ainda que os consumidores estejam aumentando a busca por produtos com maior teor de cacau, que custam mais caro.

No entanto, ajuda muito ser instagramável. Basta ver a quantidade de imagens de alimentos ainda não consumidos na rede social. “Os brasileiros privilegiam alimentos que têm boa aparência. O sabor é secundário. Primeiro tiram a foto, publicam e só depois provam”, explica Campos.

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A tendência existe também em outros países, onde profissionais de panificação e confeitaria criam produtos que são visualmente bastante atrativos.

Os sabores tradicionais são relevantes no mix de oferta de produtos. Mas o consumidor está aberto a novas experiências, principalmente se um dos itens da receita for conhecido e consumido habitualmente.

COMO AS LOJAS DEVEM SE PREPARAR

Os pontos de venda devem se preparar para algumas mudanças. A maioria dos entrevistados indicou que as lojas físicas são muito importantes. No entanto, a tecnologia deve ser adotada para melhorar a experiência de compra. A experiência na loja física se complementa com a do ambiente online.

Os consumidores buscam um e-commerce onde possam centralizar todas as compras, para não ter que ficar buscando produtos em diversas lojas e fazer muitos checkouts. Nas lojas físicas, é crescente a busca por autosserviço, desde produtos e pratos prontos até o checkout e pagamento.

Segundo Vitor Campos, uma grande rede de supermercados identificou que manter uma pessoa da loja para dar suporte no local do checkout de autosserviço atrai usuários, que se mostram mais confiantes no processo de pagamento.

A inteligência artificial deve ganhar expressão no entendimento das necessidades e interesses dos consumidores. Cerca de 61% dos que responderam a pesquisa indicaram que ela deve ajudar na indicação das melhores opções, inclusive com soluções que fazem o mapeamento de microexpressões, para identificar interesses e poder ofertar produtos que sejam de interesse.

Esta é uma questão que pode ser um tanto controversa por conta de proteção de dados pessoais, uma vez que a pessoa tem que passar pelo escaneamento das imagens faciais para que o sistema detecte os sinais e possa reconhecê-la.

PERSONALIZAÇÃO A PARTIR DE DADOS GENÉTICOS

A pesquisa identificou que a saúde está mais do que em alta para os consumidores. Os alimentos estão ganhando relevância como soluções de “remédios caseiros”: as pessoas buscam balancear o consumo em termos de quantidades e propriedades, opções mais saudáveis e benefícios que promovam imunidade e bem-estar.

Tecnologias que mapeiam o organismo dos indivíduos e análises de DNA devem indicar, de forma personalizada, quais os melhores alimentos para cada um.

Na linha de alimentos saudáveis, a pesquisa aponta que os plant-based vêm ganhando terreno. No Brasil, apenas 36% dos consumidores indicaram que compram alimentos plant-based toda semana, índice abaixo dos outros países latino-americanos, que reportam compras acima de 46%.

No entanto, a Puratos estima que os dados para o mercado brasileiro podem estar considerando apenas os alimentos plant-based industrializados. Os respondentes podem não ter considerado o consumo de verduras, hortaliças e grãos, que são muito presentes no cardápio nacional.

Felizmente, os consumidores estão atentos às questões de sustentabilidade e demandam informações sobre origem, composição, impactos ambientais, proteção aos alimentos, ética e transparência das empresas do setor.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais