Visa e Agrotoken transformam grãos em tokens para modernizar comércio agrícola

Pelo sistema, inédito no mundo, cada tonelada de produto equivale a um token, que por sua vez é convertido em créditos

Crédito: Visa/ Avinash Kumar/ Unsplash

Fábio Cardo 3 minutos de leitura

Os produtores rurais brasileiros estão bem próximos de usarem uma ampla e moderna estrutura de tecnologia incluindo tokens e blockchain que facilitará a comercialização de seus produtos e a aquisição e financiamento de bens e insumos. A parceria entre a agtech Agrotoken e a Visa prevê agilizar e modernizar as transações do setor.

A operação, que a princípio parece complicada, na verdade é bem simples: cada tonelada de produto equivale a um token. Este tem seu valor convertido em créditos seguindo os preços de mercado para aquele item. O produtor pode vender em pequenas frações para qualquer agente na economia, incluindo pessoas físicas.

O arremate da facilidade na transação vem com o uso de cartões Visa. O valor entra como crédito pré-aprovado. Adicionalmente, os produtores podem contar com a vantagem de acesso a toda a rede de pontos de vendas da empresa.

A aliança estratégica da Visa com a Agrotoken na América Latina é uma inovação inédita no mundo: é a primeira a usar tokens de valor fungível de commodities. O cartão que permitirá aos agricultores pagar com grãos estará disponível na Argentina a partir de agosto de 2022 e, em breve, no Brasil.

O modelo da infraestrutura construída para a operação promoverá o processo de vendas na agricultura, acredita Romina Seltzer, head de produto e inovação da Visa América Latina e Caribe. “Estamos olhando para o futuro do comércio, simplificando a efetivação dos pagamentos. Oferecemos uma solução simples e integrada, que atende desde o público desbancarizado até os grandes produtores”, afirma.

A ERA DOS CRIPTOGRÃOS

A Agrotoken entra no processo de captação e análise das informações sobre os produtos que serão comercializados e ficarão custodiados.

A empresa avalia os ativos, incluindo a validação dos registros ambientais e consulta de embargos, garantindo que eles representem uma produção regular. Na sequência, gera o token que será arquivado num blockchain que garantirá a integridade de toda a operação.

Os tokens mantêm valor comum, conforme o preço indexado em índices aceitos pelo mercado para cada commodity.

“Nossa tecnologia foi criada para descentralizar e democratizar o crédito. Somos apoiados por grãos reais, em operações rápidas, seguras e transparentes”, explica Anderson Nacaxe, diretor da Agrotoken no Brasil.

“O que mais queremos é ajudar o pequeno produtor a ter acesso a operações de crédito e financiamento e que ele possa utilizar os criptogrãos da Agrotoken em diversas operações, desde a compra de café em qualquer lugar do mundo até de insumos como caminhões, máquinas agrícolas, pecuária, fertilizantes, entre outros”, diz Nacaxe.

O agricultor pode ainda manter o registro de todas as transações, facilitando a contabilidade e a tomada de decisão.

Os tokens têm valor idêntico em todo o território nacional, independentemente de onde e por quem foram emitidos – ao contrário dos NFTs (non-fungible tokens), que são vinculados à origem da emissão do ativo físico. Ou seja, os tokens mantêm valor comum, conforme o preço indexado em índices aceitos pelo mercado para cada commodity.

EDUCAÇÃO DO MERCADO

A Visa agrega a experiência de trabalhar com outras 70

“Queremos ajudar o pequeno produtor a ter acesso a operações de crédito e financiamento.”

plataformas de criptomoedas em todo o mundo. Segundo Romina, a empresa busca acelerar os processos de pagamento com opções mais simples, eficientes e competitivas.

Apesar da simplicidade da solução, ela entende que a adoção de novas tecnologias ainda demandará um processo de educação para ampliar o uso junto ao público, principalmente devido ao grande número de pessoas que ainda não usam serviços bancários.

A Agrotoken espera fazer as primeiras tokenizações e utilização dos cartões em 2022, em volume de 100 mil toneladas de soja e milho. Para 2023, a perspectiva é de tokenizar 1 milhão de toneladas de ativos digitais.

A plataforma vai permitir que produtores façam sua tokenização de forma direta, junto com a equipe comercial da Agrotoken ou com a ajuda de agentes parceiros, que podem ser tanto empresas de insumos agrícolas quanto pessoas físicas que tenham interesse no negócio.

“Já realizamos nossa primeira operação no Brasil, em parceria com a plataforma AgroGalaxy, em que transformamos 2 mil toneladas de soja em 2 mil ativos digitais fungíveis, por meio da rede Polygon”, informa Nacaxe.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais