Volta dos eventos presenciais esquenta venda de espumantes brasileiros
Mudanças no comportamento de compras por conta da pandemia e chegada do verão também influenciam o consumo
O mercado brasileiro de vinhos continua a se ampliar, desde o período da pandemia. E não somente para os tintos e brancos. A venda de espumantes vem mostrando força com a retomada dos eventos presenciais. De acordo com levantamento da Ideal Consulting divulgado pela Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), o aumento foi de 65% nos rótulos brasileiros no primeiro quadrimestre de 2022 (em comparação com o mesmo período do ano anterior).
A participação de mercado dos espumantes cresce por conta de novos hábitos de compra e de consumo. Isso é o que aponta a Chandon, que faz parte do grupo LVMH, no Brasil há mais de 50 anos. A projeção da empresa é de crescimento de 20% no faturamento em 2022.
Na visão da Chandon, o mercado de bebidas está mudando, ampliando-se para além da cerveja, com crescimento da participação dos aperitivos. Aproveitando a tendência de flexibilização e os novos hábitos de consumo, a marca está investindo em ações de marketing e em produtos que podem ser consumidos de novas formas.
A aposta é em uma categoria com foco nos novos territórios de consumo, integrando seus produtos com novos drinques. Os novos rótulos aceitam, por exemplo, o consumo com a adição de gelo – por mais estranha que possa parecer a ideia para os puristas. É o caso do Chandon Passion, espumante rosé mais adocicado e que fica equilibrado com gelo.
Para promover a ideia, a empresa lançou uma plataforma com foco no verão, orientando sobre a elaboração de coquetéis tendo a bebida como base. Também montou a Casa Chandon Rio, no Rio de Janeiro, onde apresenta várias opções de drinques e cardápios harmonizados.
INOVAÇÕES PARA ATENDER NOVAS DEMANDAS
O Brasil tem muita experiência na produção de espumantes pelo método charmat, com fermentação em grandes tanques. Segundo Sibylle Scherer, CEO da Chandon, esse tipo de espumante capta melhor o frescor e a “crocância” da bebida. Na fermentação tradicional ou champenoise (com a última fase de fermentação na garrafa), o resultado é diferente.
“O que mais importa é a boa técnica de processamento e obter um produto de alta qualidade. A Chandon precisa de uma grande quantidade de tanques, com muito controle para balancear a fermentação, por muito tempo. O custo de produção é maior do que para produzir pelo método tradicional. Temos muito orgulho em trabalhar com charmat”, ressalta Sibylle.
A empresa conta com um grande centro de pesquisa em Champagne, na França, onde cientistas trabalham no que será o futuro dos espumantes. Um ponto comum na plataforma é a troca de informações e experiências com o mercado, trabalhando coletivamente em projetos com foco na sustentabilidade.
Respeito à biodiversidade, cuidados com a regeneração do solo e os impactos na redução de CO2 são pontos centrais nas pesquisas. Por ouro lado, a empresa precisa estar aberta a inovar e se adequar ao que cada país pode produzir.
“Dá para viajar o mundo num copo de Chandon. Quando você degusta um espumante do Brasil, consegue sentir as frutas tropicais. Os da Califórnia, Índia ou China levam o consumidor a ter outras experiências gustativas. Queremos levar o frescor e o alimento de acordo com o perfil de cada país e seu terroir”, explica Sibylle.
A inovação contempla o processo de escutar os agricultores de cada local e entender o que cada terroir pode entregar, explica a diretora geral da Moët Henessy do Brasil, Catherine Petit, Para tanto, a empresa conta com 60 wine makers, de sete nacionalidades, que trocam informações e conhecimento em respeito aos padrões qualitativos da empresa e à necessidade de evoluir seus produtos.
CULTURAS LOCAIS
Essa busca é histórica na Chandon. Há 60 anos, o fundador teve a visão da oportunidade de plantar uvas europeias na América Latina. Passou a aprender com as comunidades de diversos países, incluindo Argentina, Chile e Brasil, sobre as uvas que melhor se adequavam aos locais. Tomando por base as características de cada um, pôde definir as variedades que seriam cultivadas de acordo com o que o local oferecia.
Para Catherine, é dever da empresa contar sobre os cuidados com as culturas, as pessoas que cultivam as uvas e cuidam do solo, que são parceiros de décadas de trabalho em conjunto. “Ao longo dos 50 anos de relacionamento no Brasil, as famílias se mantêm no negócio por gerações, numa relação de longo prazo incluindo treinamento e assistência técnica”, afirma.
Hoje são cerca de 50 famílias que produzem as uvas no Brasil para fornecimento à empresa. Catherine destaca que elas são atualizadas sobre as ações em torno da marca, sua produção e seus produtos. “Isso os leva a sentirem que são participantes do processo”, destaca.