Google faz nova aposta nos óculos inteligentes. Será que desta vez vai?

Para não repetir o fracasso do Google Glass, a empresa está investindo em design e funcionalidade

novo óculos inteligente do Google
Crédito: Dan Leveille/ Wikipedia

Sam Byford 4 minutos de leitura

Mais de 10 anos após o lançamento do Google Glass, já dá para dizer com tranquilidade: foi um fracasso. Apesar das ideias inovadoras, seu design era pouco atraente e a tecnologia ainda não estava pronta – e, sejamos justos, a sociedade também não.

Hoje, as coisas são um pouco diferentes. Os óculos inteligentes da Meta, feitos em parceria com a Ray-Ban, estão fazendo sucesso, mesmo com uma câmera embutida – um recurso que gerou polêmica quando o Google Glass foi lançado. Um dos motivos do sucesso? Eles têm cara de um Ray-Ban comum.

Agora, na segunda tentativa de entrar nesse mercado, o Google está focando em dois pontos-chave: design e funcionalidade. Durante o evento Google I/O, Shahram Izadi, vice-presidente de realidade estendida da empresa, fez uma apresentação breve, mas convincente, sobre como a gigante das buscas pretende abordar a nova geração do dispositivo.

ANDROID E GEMINI

A estratégia faz parte do Android XR, que utiliza realidade estendida (ou RX, na sigla em inglês) – o mesmo sistema do Vision Pro, da Samsung, seu futuro concorrente direto. A diferença é que o Google quer adaptar essa experiência para diversos tipos de dispositivos.

“Não achamos que exista uma solução única para XR. As pessoas vão usar diferentes dispositivos ao longo do dia”, diz Izadi. Segundo ele, headsets imersivos como o da Samsung são ideais para games e para assistir filmes, enquanto óculos mais leves funcionam melhor no dia a dia, como um complemento ao smartphone.

O que une todos esses formatos são os aplicativos Android e o assistente de IA Gemini. O Google já está adaptando seus próprios apps – como Maps, Fotos e YouTube – para funcionar em XR.

Os primeiros óculos inteligentes do Google, o Google Glass
O primeiro Google Glass (Crédito: Divulgação)

Outros aplicativos para celulares e tablets também serão compatíveis, embora não necessariamente nos óculos, a menos que os desenvolvedores façam atualizações específicas.

O Gemini deverá funcionar de forma integrada tanto nos headsets quanto nos óculos. A ideia é que ele se torne mais útil conforme recebe informações pessoais – o que reforça sua utilidade em um cenário no qual alternamos entre vários dispositivos ao longo do dia, incluindo o celular.

O padrão do Android XR prevê modelos de óculos com ou sem tela nas lentes. Ainda não há muitos detalhes sobre a tecnologia de exibição, mas essa deve ser uma das grandes apostas do Google para oferecer algo mais avançado do que os óculos da Meta.

PARCERIAS DE DESIGN

Quando o assunto é tecnologia vestível (wearable), o design é fundamental. A Meta acertou ao fechar a parceria com a EssilorLuxottica, dona da Ray-Ban e de outras marcas. Se os óculos da Meta não tivessem o selo Ray-Ban, dificilmente seriam tão populares.

óculos inteligentes da marca Ray-Ban desenvolvidos pela  Meta
Óculos inteligentes da marca Ray-Ban desenvolvidos pela Meta (Crédito: Divulgação)

Atento a isso, o Google anunciou parcerias com a varejista norte-americana Warby Parker e com a marca sul-coreana Gentle Monster para os primeiros modelos com Android XR. Ainda não há imagens dos dispositivos, e competir com um clássico como o Wayfarer será difícil – mas a promessa é oferecer armações bonitas, que as pessoas realmente queiram usar.

Outra aposta é a parceria com a Xreal – referência no setor emergente de óculos inteligentes – para criar um modelo voltado para desenvolvedores, chamado Projeto Aura. Esse modelo terá tela e contará com um processador externo, responsável pelas tarefas mais pesadas. Também será mais avançado do que os primeiros dispositivos XR.

ÓCULOS INTELIGENTES, MAS QUE PARECEM "NORMAIS”

O cofundador do Google, Sergey Brin, falou sobre as experiências passadas da empresa com óculos inteligentes em uma entrevista durante o evento, para o podcast “Big Technology”.

“Sinto que cometi muitos erros com o Google Glass, para ser sincero. Mas ainda acredito muito nesse tipo de tecnologia, então fico feliz que estejamos tentando novamente. E agora eles parecem óculos normais – sem aquele trambolho na frente”, brincou.

Além da questão estética, Brin destacou o papel da inteligência artificial como um fator decisivo para o futuro dos óculos inteligentes – permitindo que eles sejam úteis sem causar distrações o tempo todo.

O Google já está adaptando seus próprios aplicativos (como Maps, Fotos e YouTube) para funcionar em realidade mista.

Também ressaltou que, desta vez, o Google está apostando em parcerias com outras empresas de hardware, em vez de tentar desenvolver tudo sozinho.

No geral, a proposta para os óculos com Android XR parece bastante promissora – e, mais importante, realista. Ainda é cedo, claro, e esse tipo de produto, voltado para o dia a dia, nem sempre impressiona durante as demonstrações.

Mas, como alguém que já usa regularmente tanto os óculos da Meta quanto os da Xreal, não é difícil para mim imaginar um futuro em que os Android XR consigam unir o melhor dos dois mundos. Agora, cabe ao Google entregar um bom design e um software à altura.


SOBRE O AUTOR

Sam Byford é jornalista do site de tecnologia Multicore, que cobre a interseção entre tecnologia, design e fotografia. saiba mais