Google expande buscas com IA e lança o Modo IA em formato de chatbot
Depois de vários projetos fracassados, empresa vê na inteligência artificial a chave para um ecossistema mais sólido

O Google anunciou nesta terça-feira (14), durante sua conferência anual para desenvolvedores, Google I/O, um conjunto robusto de inovações para transformar a experiência de busca com inteligência artificial. O destaque é o lançamento oficial do Modo IA, uma interface de busca baseada em chatbot que agora estará amplamente disponível aos usuários.
Além disso, a empresa anunciou mudanças nos resultados de busca com o AI Overviews e a chegada de novos recursos visuais e interativos ao longo do segundo semestre.
Descrito pelo vice-presidente de produto para buscas do Google, Robby Stein, como “a versão mais poderosa da busca com IA”, o Modo IA permite que o usuário mantenha um diálogo em formato de perguntas e respostas com a IA, refinando temas, explorando detalhes e conduzindo buscas mais complexas até chegar a uma resposta final e satisfatória.
Antes disponível apenas de forma experimental via Google Labs, o recurso agora passa a ser incorporado como produto oficial. Ele poderá ser acessado em diversos aplicativos do Google, incluindo um novo atalho na aba de busca do aplicativo mobile da empresa.
BUSCA CONVERSACIONAL COM TECNOLOGIA GEMINI 2.5
O Modo IA é alimentado pelo Gemini 2.5, modelo de linguagem mais avançado do Google, desenvolvido pelo laboratório DeepMind. A tecnologia é capaz de armazenar grandes volumes de informações durante a interação e aplicar raciocínio avançado para formular respostas precisas e contextualizadas.
Isso permite, por exemplo, lidar com perguntas multipartes e consultas mais sofisticadas, como comparar produtos, resolver questões matemáticas ou elaborar instruções passo a passo. “Estamos vendo esse recurso ser usado para perguntas que exigem mais sofisticação, muitas vezes únicas para cada usuário”, disse Stein à Fast Company.

O retorno é uma resposta em linguagem natural, construída a partir de múltiplas fontes. O grande diferencial, segundo o executivo, é o que ele chama de query fan-out – um mecanismo que permite ao modelo expandir uma única pergunta do usuário em dezenas de buscas paralelas.
“O modelo aprendeu a usar o Google. Ele pode consultar dados da web, índices de conteúdo, mapas, informações de localização, fichas de produto e até APIs com dados dinâmicos como placares esportivos, previsão do tempo ou cotações da bolsa de valores”, explica Stein.
Com o lançamento do Modo IA, o Google reforça sua aposta na combinação entre inteligência artificial generativa e o motor de busca, visando manter sua liderança em um cenário cada vez mais competitivo, marcado por inovações de rivais como OpenAI e Microsoft.
DEPOIS DO MODO IA, CHEGA O ANDROIDE XR
Uma das novidades mais aguardadas apresentada na conferência é também uma das grandes apostas do Google: o Android XR, primeiro headset com esse sistema operacional. O dispositivo foi desenvolvido pela Samsung e o Google quer atrair o maior número possível de desenvolvedores para criar aplicativos voltados para a plataforma.
É um passo importante para uma empresa cuja trajetória em realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV) tem sido marcada por muitas idas e vindas.
O Google foi pioneiro ao testar óculos de RA. Ofereceu a milhões de pessoas sua primeira experiência em RV com visores baratos para smartphones e até lançou um headset imersivo antes da Meta. Mas todos esses projetos acabaram sendo abandonados, deixando parceiros frustrados.
Apesar disso, há um certo otimismo entre os desenvolvedores de que, desta vez, possa ser diferente. Um dos motivos é o novo cenário competitivo: a Apple e a Meta vêm investindo bilhões em tecnologias imersivas. Além disso, o Android XR se apoia justamente nos dois maiores pontos fortes atuais do Google: a inteligência artificial e o alcance do Android.
A primeira aposta do Google no universo de realidade virtual e aumentada (RV/ RA) é, até hoje, considerada um dos maiores tropeços da indústria. Lançado em 2012, o Google Glass combinava uma câmera com um minivisor e foi apresentado como um vislumbre do mundo pós-smartphone. O preço (US$ 1,5 mil) e a utilidade limitada do produto acabaram decretando seu fim.

Em 2014, veio o Google Cardboard, um visor de papelão que transformava smartphones em dispositivos básicos de RV. A ideia evoluiu para o Daydream, um headset mais confortável, com controle e suporte para vídeos imersivos e games simples.
Apesar de terem alcançado milhões de usuários, ambos os dispositivos dependiam de um celular, o que tornava a experiência pouco prática no longo prazo. A expectativa alta demais pode ter selado o destino desses projetos.
Mais tarde, em 2018, o Google lançou um headset autônomo em parceria com a Lenovo, com o sistema Daydream. A ideia era competir com o Quest, da Meta. Mas o projeto durou pouco e foi encerrado no ano seguinte.
O Daydream acabou se juntando à longa lista de iniciativas de RA/RV do Google que não foram para frente: a série de histórias imersivas Spotlight Stories, a plataforma de vídeos Jump, a ferramenta de modelagem 3D Blocks, a plataforma de ativos Poly e diversas câmeras de RV desenvolvidas com parceiros.
ANDROID E IA, OS NOVOS TRUNFOS DO GOOGLE
Muitos desses projetos tinham um grande potencial – isto é, se o Google tivesse insistido. “O Google teve várias ideias ousadas, criativas e promissoras logo no começo, mas não levou adiante”, afirma uma fonte da indústria que preferiu não se identificar.
Por outro lado, o Android TV teve um início morno e hoje se tornou um dos maiores ecossistemas de smart TVs do mundo, com mais de 270 milhões de usuários ativos por mês.
O Google foi pioneiro ao testar óculos de realidade aumentada.
Para tentar repetir esse sucesso com o XR, o Google pretende, mais uma vez, contar com a força do seu ecossistema móvel. “A ideia é adaptar aplicativos já existentes do Android para o Android XR, de forma parecida com o que a Apple fez ao levar apps do iPadOS para o Vision Pro”, explica Leo Gebbie, analista da CCS Insight. “Isso pode dar ao Google uma vantagem sobre a Meta.”
Outro trunfo é o investimento massivo da empresa em inteligência artificial, que pode ser decisivo. O Google já demonstrou como a IA pode melhorar a experiência com óculos de RA, e, segundo Gebbie, ela será fundamental para tornar as interações em ambientes imersivos mais simples e intuitivas.