IA e pirataria espacial: ciberataques no espaço ameaçam vida na Terra

Ataques cibernéticos a satélites ocorrem desde a década de 1980, mas o alerta global só foi acionado há alguns anos

Crédito: Casey Horner/ Unsplash

Patrick Lin 4 minutos de leitura

Se sistemas espaciais, como o GPS, fossem hackeados e derrubados, grande parte do mundo retornaria às tecnologias de comunicação e navegação dos anos 1950. No entanto, a cibersegurança espacial é, na maioria das vezes, invisível ao público, mesmo em um momento de crescentes tensões geopolíticas.

Ciberataques a satélites ocorrem desde a década de 1980, mas o alerta global só foi acionado há poucos anos. Uma hora antes da invasão à Ucrânia, no dia 24 de fevereiro de 2022, agentes russos hackearam os serviços de internet via satélite para cortar a comunicação e criar confusão no país.

A maioria das pessoas não tem consciência do papel crucial que os sistemas espaciais desempenham na vida diária, muito menos em conflitos militares. Por exemplo, o GPS usa sinais de satélites e sua precisão é essencial para serviços financeiros, onde cada detalhe – como horário de pagamento ou saque – precisa ser capturado e coordenado com precisão.

Crédito: Freepik

Além de auxiliar a navegação de aviões, barcos, carros e pessoas, o GPS também é importante para coordenar frotas de caminhões que transportam mercadorias para abastecer lojas todos os dias. Até mesmo fazer uma ligação pelo celular depende da coordenação precisa do tempo na rede.

Satélites ajudam a prever o clima, monitorar mudanças ambientais, rastrear e responder a desastres naturais, aumentar a produção agrícola, gerenciar o uso de terras e água, monitorar movimentos de tropas e muito mais.

A perda desses e de outros serviços espaciais poderia ser fatal para pessoas vulneráveis a desastres naturais e para a agricultura. Também poderia colocar a economia e a segurança global em sério risco.

FATORES EM JOGO

O Grupo de Ética e Ciências Emergentes da Universidade Politécnica Estadual da Califórnia divulgou um relatório financiado pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA para explicar o problema dos ataques cibernéticos no espaço e ajudar a antecipar cenários novos e surpreendentes. No relatório, foram identificados vários fatores que contribuem para a crescente ameaça dos ciberataques espaciais.

Se sistemas como o GPS fossem derrubados o mundo voltaria às tecnologias de comunicação e navegação dos anos 1950.

Como o espaço é de difícil acesso, se alguém quisesse atacar um sistema em órbita, provavelmente precisaria fazê-lo por meio de um ciberataque. Sistemas espaciais são alvos muito atraentes porque, uma vez lançados, é difícil atualizar o hardware – e essa insegurança piora com o tempo.

Além disso, os sistemas podem ter longas cadeias de suprimentos, e mais elos na cadeia aumentam as chances de vulnerabilidades. Grandes projetos espaciais também enfrentam desafios para acompanhar as melhores práticas ao longo da década (ou mais) necessária para construí-los.

Dada a infraestrutura e as tecnologias espaciais críticas, como o GPS, conflitos no espaço podem desencadear ou agravar conflitos na Terra, inclusive no ciberespaço. Em 2022, por exemplo, a Rússia alertou que hackear um de seus satélites seria considerado uma declaração de guerra.

CENÁRIOS POSSÍVEIS

Mesmo profissionais de segurança que reconhecem a gravidade dessa ameaça lidam com um grande desafio. Em fóruns não confidenciais, apenas alguns cenários subespecificados são normalmente considerados: em geral, algo vago sobre hacking de satélites ou sobre bloqueio ou falsificação de sinais. Aqui estão três dos 42 cenários que incluídos no relatório:

● Impressoras 3D ou aditivas podem ser um recurso inestimável para produzir rapidamente peças sob demanda em missões espaciais. Um hacker poderia ganhar acesso a uma impressora em uma estação espacial e reprogramá-la para fazer imperfeições minúsculas nas peças. Alguns desses componentes criados para causar falhas poderiam fazer parte de sistemas críticos.

● Um hacker também poderia corromper os dados de uma sonda planetária para mostrar leituras atmosféricas, de temperatura ou de água imprecisas. Dados corrompidos de um rover em Marte poderiam, por exemplo, mostrar que uma área possui uma quantidade significativa de gelo subterrâneo. Qualquer missão posterior lançada para explorar o local seria um desperdício de recursos.

Sonda da NASA em Marte (Crédito: NASA)

● Em 1938, uma transmissão de um programa de rádio nos EUA sobre um ataque alienígena causou pânico na população porque muitos ouvintes não entenderam que se tratava de uma obra de ficção. Da mesma forma, um hacker poderia inserir algo que se assemelhasse a uma linguagem alienígena em uma transcrição do Messaging Extraterrestrial Intelligence (grupo de pesquisa que busca vida inteligente fora da Terra). Se isso fosse vazado para a mídia, poderia criar pânico mundial e impactar os mercados financeiros.

As pessoas aprendem ouvindo histórias, sejam elas compartilhadas ao redor de fogueiras ou em plataformas digitais. Criar cenários novos e surpreendentes pode ajudar a dar forma a uma ameaça invisível como a dos ciberataques espaciais, bem como destacar nuances que podem exigir a colaboração de especialistas interdisciplinares.

Este artigo foi publicado no “The Conversation” e reproduzido sob licença Creative Common. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Patrick Lin é professor de filosofia na Universidade Estadual Politécnica da Califórnia. saiba mais