Intel desperdiçou a chance de comprar a OpenAI. Agora está ficando para trás

A compra poderia ter reduzido a dependência dos chips da Nvidia e permitido que a startup construísse sua própria infraestrutura

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Max A. Cherney 4 minutos de leitura

As coisas poderiam ter sido bem diferentes para a gigante norte-americana de chips Intel, a queridinha da era da informática antes de passar por momentos difíceis na era da inteligência artificial.

Há cerca de sete anos, a empresa teve a chance de adquirir uma participação na OpenAI, que na época era uma organização sem fins lucrativos voltada para pesquisas em um campo ainda pouco explorado: a inteligência artificial generativa.

Entre 2017 e 2018, executivos das duas empresas discutiram várias opções, incluindo a compra de uma participação de 15% na OpenAI por US$ 1 bilhão. Também consideraram a possibilidade de a Intel adquirir uma participação adicional de 15% caso fabricasse hardware para a startup a preço de custo.

No entanto, a fabricante de processadores e chips acabou decidindo não seguir adiante com o acordo, em parte porque o então CEO Bob Swan não acreditava que os modelos de IA generativa chegariam ao mercado em um futuro próximo e, portanto, não justificariam o investimento, segundo três fontes ouvidas pela reportagem e que pediram anonimato.

A OpenAI estava interessada no investimento porque isso reduziria sua dependência dos chips da Nvidia e permitiria construir sua própria infraestrutura. O acordo também foi descartado porque a unidade de data centers da Intel não estava disposta a fabricar produtos a preço de custo.

Um porta-voz da Intel não quis comentar sobre o possível acordo. Swan não respondeu aos pedidos de comentário e a OpenAI preferiu não se pronunciar.

GAUDI, O NOVO CHIP DA INTEL

A decisão de não investir na OpenAI, que mais tarde lançou o revolucionário ChatGPT e agora está avaliada em cerca de US$ 80 bilhões, nunca havia sido divulgada.

Essa decisão fez parte de uma série de falhas estratégicas que fizeram com que a empresa, que liderava a inovação em chips de computador nos anos 1990 e 2000, perdesse espaço na era da inteligência artificial.

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Os resultados do segundo trimestre da Intel provocaram uma queda de mais de 25% no preço das ações. Pela primeira vez em 30 anos, a empresa está avaliada em menos de US$ 100 bilhões. A antiga líder de mercado – cujo slogan “Intel Inside” era sinônimo de qualidade – ainda luta para lançar um chip de IA de sucesso no mercado.

Agora, a Intel foi ofuscada pela Nvidia, avaliada em US$ 2,6 trilhões, que fez a transição dos chips gráficos para os chips de IA, essenciais para construir, treinar e operar grandes sistemas de IA generativa, como o GPT-4, da OpenAI, e os modelos Llama, da Meta. Também ficou atrás da AMD, avaliada em US$ 218 bilhões.

O então CEO da Intel não acreditava que os modelos de IA generativa chegariam ao mercado em um futuro próximo.

Questionado sobre o progresso da Intel em IA, o porta-voz da empresa mencionou comentários recentes do CEO Pat Gelsinger, que afirmou que o chip de inteligência artificial Gaudi de terceira geração, a ser lançado no terceiro trimestre deste ano, superaria os concorrentes.

Gelsinger também disse que a empresa já teria “mais de 20” clientes para as segunda e terceira gerações do Gaudi e que o próximo chip de IA, Falcon Shores, seria lançado no final de 2025.

CHIPS DE JOGOS DOMINAM A IA

Com relação à OpenAI, a Microsoft entrou em cena em 2019, fazendo um investimento que a colocou na vanguarda da era da inteligência artificial, desencadeada pelo lançamento do ChatGPT em 2022 e que iniciou uma corrida entre as maiores empresas do mundo para adotar a IA.

Embora, em retrospecto, a decisão da Intel de não investir na OpenAI pareça um erro, a empresa vem perdendo a batalha pela supremacia em inteligência artificial há mais de uma década, segundo ex-executivos e especialistas do setor.

Por mais de 20 anos, ela acreditava que as unidades centrais de processamento (CPUs), como as que alimentam desktops e notebooks, eram mais adequadas para lidar com as tarefas de processamento necessárias para construir e operar modelos de IA.

Engenheiros da Intel viam a arquitetura dos chips gráficos (GPUs) usados por rivais como Nvidia e AMD como “feia” em comparação, de acordo com uma das fontes.

No entanto, em meados dos anos 2000, pesquisadores descobriram que os chips de jogos eletrônicos eram muito mais eficientes do que as CPUs para lidar com o intenso processamento de dados necessário para construir e treinar grandes modelos de IA. Como as GPUs são projetadas para gráficos de games, elas podem realizar um número enorme de cálculos simultaneamente.

    Desde 2010, a Intel tentou pelo menos quatro vezes produzir um chip de IA competitivo, incluindo a aquisição de duas startups e pelo menos dois grandes esforços internos. No entanto, nenhuma dessas tentativas conseguiu competir com a Nvidia ou a AMD neste mercado altamente lucrativo e em rápida expansão.

    Colaboraram Anna Tong e Arsheeya Singh Bajwa.


    SOBRE O AUTOR

    Max A. Cherney é correspondente da agência Reuters especializado em tecnologia. saiba mais