“Alucinações” podem ser o prenúncio de uma nova era: a da IA cognitiva

Máquinas com inteligência cognitiva podem realizar feitos extraordinários com diversas aplicações no mundo real

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Michelle Zhou 4 minutos de leitura

O mais novo brinquedo da humanidade, a IA generativa, provou ser extremamente eficiente em interpretar a linguagem dos usuários e gerar rapidamente uma ampla variedade de respostas em texto, desde edição até a síntese de diálogos.

No entanto, mesmo com respostas aparentemente confiáveis, aos poucos começamos a identificar falhas nos resultados. Esse fenômeno é conhecido como “alucinação”. Mas será que todas as alucinações da inteligência artificial são realmente prejudiciais?

Antes de responder a essa pergunta, precisamos entender o que causa essas alucinações. Em essência, a IA generativa baseada em linguagem – a tecnologia por trás de ferramentas como o ChatGPT – aprende padrões e estruturas linguísticas a partir de seus dados de treinamento e, em seguida, gera um novo conteúdo com padrões e estruturas semelhantes. Quando os dados de treinamento ou o processo de aprendizado são inadequados ou falhos, o conteúdo gerado será impreciso.

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Embora o ChatGPT cometa erros, sua capacidade de aplicar o que aprendeu para sintetizar novas informações está, de alguma forma, relacionada às capacidades humanas de aprender por analogia ou aplicar a solução de um problema a outra situações. Essas habilidades cognitivas são o que nos diferencia de outros animais.

À medida que as máquinas adquirem habilidades cognitivas cada vez mais avançadas, como traçar paralelos adequados e ler nas entrelinhas, estamos, de fato, testemunhando o surgimento de uma nova era da inteligência artificial: a IA cognitiva.

Máquinas com inteligência cognitiva podem realizar feitos extraordinários com diversas aplicações no mundo real, incluindo educação, saúde e desenvolvimento de carreiras.

Hoje, a IA cognitiva já é capaz de contribuir diretamente de duas formas: traduzir informações ou mensagens com base nas características do usuário, para auxiliar na compreensão de conteúdos; e criar novas experiências com base nas de pessoas com pensamento semelhante.

TRADUZINDO INFORMAÇÕES

Cada ser humano é único e as diferenças individuais fazem com que as pessoas percebam, ouçam e compreendam informações de maneira distinta. Se a IA puder “traduzir” essas informações de uma forma com a qual o indivíduo possa se relacionar e entender mais facilmente, o mundo seria um lugar melhor.

Na área da educação, por exemplo, muitos enfrentam dificuldades em determinadas disciplinas. Imagine um tutor

Máquinas com inteligência cognitiva podem realizar feitos extraordinários com diversas aplicações no mundo real.

de IA capaz de “traduzir” livros e apostilas e criar testes – com exemplos ou situações que o aluno esteja familiarizado ou possa facilmente se relacionar – com base nas suas características individuais, como interesses (por exemplo, esportes), estilo cognitivo (preferência por instruções visuais) e personalidade (extrovertido). Essa assistência personalizada pode despertar o interesse dos alunos e motivá-los a aprender mais.

Na área da saúde, é comum que pacientes tenham dificuldade em compreender informações ou seguir orientações médicas. Imagine um assistente de IA que pode “traduzi-las” usando analogias e histórias geradas com base nas características individuais da pessoa, como seu temperamento (por exemplo, impulsivo), motivação (cuidar da família) e paixão (digamos, jardinagem).

Isso não apenas ajudará os pacientes a entenderem melhor as informações e orientações médicas, mas também poderia motivá-los a cuidar mais da saúde, melhorando sua experiência geral e os resultados.

ADAPTANDO EXPERIÊNCIAS

A experiência individual muitas vezes é limitada devido a diversas restrições, como limitações geográficas, financeiras e de tempo. Se a inteligência artificial puder oferecer novas experiências, isso poderia abrir a mente das pessoas e ajudá-las a descobrir oportunidades para melhorar seu bem-estar.

As "alucinações" podem ser a chave para o próximo estágio da inteligência artificial.

Em termos de carreira, poucos, especialmente os mais jovens, têm uma visão clara de seu futuro profissional. Imagine um orientador de IA capaz de compreender os interesses, talentos e habilidades de cada aluno e os desafios que enfrentam na vida.

Ele poderia ajudá-los a traçar objetivos e explorar experiências e possibilidades de carreira, com base em outros profissionais que se assemelham a eles. Esse orientador de IA também poderia mostrar como aproveitar ao máximo essas oportunidades e maximizar seu potencial.

CONSIDERAÇÕES

Para que a IA cognitiva realmente funcione, será necessário impor algumas condições à tecnologia:

- A IA precisará de um conhecimento rico e preciso, incluindo as experiências reais das pessoas;

- Deverá ter uma compreensão profunda dos usuários e de suas características individuais;

- E contar com especialistas humanos para corrigir falhas e erros.

Estamos apenas no início de uma nova era da IA, que já abriu portas para muitas possibilidades que não poderíamos sequer imaginar há apenas alguns anos. As chamadas alucinações podem não ser um obstáculo em si, mas sim a chave para o próximo estágio da inteligência artificial.


SOBRE A AUTORA

Michelle Zhou é cofundadora e CEO da empresa de tecnologia de inteligência artificial Juji. saiba mais