Ao acusar a oposição de usar IA na campanha, Trump está brincando com fogo

IA é a nova “fake news” de Trump para desacreditar fatos. Mas isso vai ajudá-lo a vencer ou apenas afastar ainda mais seus apoiadores da realidade?

Créditos: Getty Images/ photosmash/ iStock

Joe Berkowitz 3 minutos de leitura

Tamanho importa, especialmente para Donald Trump. O republicano começou seu mandato em 2017 exagerando o modesto público em sua posse; agora, está desesperado para diminuir as multidões que se reúnem para apoiar sua oponente em 2024.

Recentemente, o ex-presidente publicou uma mensagem em sua própria rede social, Truth Social, onde, como de costume, minimizou as multidões nos comícios da vice-presidente Kamala Harris.

Mas, em vez de apenas atribuir o alto comparecimento a convidados especiais como a rapper Megan Thee Stallion, como fez antes, Trump foi além e afirmou que a campanha democrata está usando inteligência artificial para aumentar digitalmente a quantidade de apoiadores presentes.

Com essa alegação, o candidato republicano passou um recado claro aos seus seguidores: não confiem no que veem sobre a crescente popularidade de Harris.  E essa mensagem rapidamente se espalhou pelo TikTok. Mas tanto ele quanto seus apoiadores podem se arrepender disso em breve.

A acusação de manipulação digital de uma foto é apenas a mais recente, e talvez a mais significativa, prova do quanto a troca de candidatos democratas na corrida presidencial mexeu com a campanha de Trump.

Até recentemente, a diferença no tamanho das multidões era um indicador da força do republicano. Mas, agora que Trump enfrenta uma oponente que é legitimamente popular por mérito próprio – ou pelo menos que se beneficiou da novidade –, essa diferença já não é tão evidente.

Afirmar que os apoiadores só comparecem por causa de convidados especiais não estava surtindo efeito – talvez porque fosse uma admissão de que as pessoas estavam, de fato, comparecendo. Então agora ele encontrou uma nova justificativa conveniente para essas multidões: a inteligência artificial.

Crédito: Reprodução/ X (Twitter)

O rápido avanço da IA nos preparou para a possibilidade de desinformação nesta eleição, especialmente em relação a imagens geradas por IA. E a popularidade de ferramentas como DALL-E e Midjourney só agravou o problema.

Por mais assustador que seja imaginar o que se pode fazer com inteligência artificial hoje em dia, parece que Trump nem precisa usar a tecnologia para transformá-la em uma arma. A IA se tornou a nova “fake news”.

parte da razão pela qual Trump foi eleito em 2016 foi porque muitos apoiadores de Hillary Clinton viviam em uma bolha.

Há quase uma década, a simples menção da expressão pelo candidato tem sido suficiente para desacreditar qualquer notícia aos olhos de seus seguidores. Muitos ainda acreditam que a eleição de 2020 foi fraudada e que as várias acusações contra ele são todas ataques políticos. Nesse contexto, acreditar que a campanha de Harris manipulou digitalmente algumas fotos não é tão difícil.

Até pouco tempo, muitos apoiadores de Trump pareciam acreditar que o entusiasmo em torno de Harris era passageiro e logo acabaria. Agora, ele quer convencê-los de que esse entusiasmo nunca existiu. O problema é que, se acreditarem nessa mentira, isso pode acabar prejudicando-o também.

Muitos de seus apoiadores parecem viver em uma bolha. Por exemplo, alguns comentaristas conservadores argumentam que o vice de Kamala Harris, Tim Walz, foi tão prejudicado pelos ataques dos republicanos que estaria prestes a desistir da corrida, quando, na verdade, nenhum desses ataques o impediu de ter um lançamento de campanha extremamente bem-sucedido.

    Viver dentro de um ambiente de informação que afirma que Walz já foi neutralizado deixará alguns apoiadores de Trump totalmente despreparados para o que pode acontecer em novembro. Alguns até podem acreditar que Harris é tão impopular que a vitória de Trump é certa, fazendo com que nem saiam de casa para votar.

    Se isso os levar a não comparecerem às urnas, seria um desfecho irônico para a carreira política do republicano. Afinal, parte da razão pela qual ele foi eleito em 2016 foi porque muitos apoiadores de Hillary Clinton estavam vivendo em uma bolha. E, como disse o famoso escritor Mark Twain, “a história pode não se repetir, mas rima”.


    SOBRE O AUTOR

    Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais