Aviso aos pais: não deixem uma IA virar amiga de seus filhos

O CEO da OpenAI está preocupado com o fato de seus filhos terem mais amigos de inteligência artificial do que humanos. Você também deveria

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Ainsley Harris 3 minutos de leitura

De acordo com o cofundador e CEO da OpenAI, Sam Altman, crianças em breve poderão ter mais amigos de inteligência artificial do que humanos.

“Alguém me disse recentemente algo que me marcou bastante: que tinha quase certeza de que seus filhos terão mais amigos de IA do que humanos”, disse Altman em uma entrevista com o cofundador e CEO da Stripe, Patrick Collison. “E eu não sei quais serão as consequências disso.”

O executivo também destacou que as pessoas parecem ter dificuldade em distinguir entre humanos e IA, mesmo que a tecnologia ainda esteja longe de ser sofisticada.

“Sejam quais forem os processos em nossos cérebros que nos levam a buscar interação social, algumas pessoas parecem satisfazê-los, em alguns casos, com a inteligência artificial. Acredito que será complicado lidar com essa questão”, acrescentou.

Discussões como essa deveriam acender sinais de alerta para os pais – muito maiores do que quando o ChatGPT foi lançado, no final do ano passado. Na época, pais e educadores descobriram que os alunos estavam usando o chatbot para trapacear em lições de casa e provas. Algumas redes escolares chegaram ao ponto de proibir seu uso.

MONITORAR NÃO BASTA

Em comparação, a amizade entre crianças e inteligências artificiais pode parecer algo inofensivo. Em um mundo no qual meninas e meninos têm agendas lotadas de atividades extracurriculares, um “amigo” disponível a qualquer hora tem um certo apelo. Eles não precisam mais se sentir sozinhos ou excluídos.

Além disso, a inteligência artificial pode ser programada para incentivá-los em vez de fazer bullying. Para ouvi-los, não criticá-los. Claro, não é um amigo de carne e osso, mas qual é exatamente o problema disso?

Quando falamos de amizade com IAs, não há como evitar a questão econômica. Ou você paga por elas ou você é o produto.

No entanto, o impacto negativo desse tipo de relação pode ser muito mais profundo do que os efeitos que as redes sociais têm nas crianças. Plataformas como Facebook e TikTok são impulsionadas por interesses comerciais, e o usuário se torna o produto.

E, por mais que o Instagram tente, sempre terá de enfrentar uma batalha contra conteúdos que prejudicam a autoimagem das adolescentes, já que atraem curtidas, e isso se traduz em lucro.

Porém, as relações dentro dessas plataformas ainda podem ser reais. Por esse motivo, muitos pais chegam à conclusão – correta – de que podem amenizar a lógica comercial das redes monitorando cuidadosamente as pessoas com quem seus filhos interagem.

Os chatbots de IA generativa, no entanto, desafiam essa lógica. Quando falamos de amizade com inteligência artificial, não há como evitar a questão econômica. Ou você paga por ela ou você é o produto.

A conversa pode parecer agradável, mas a relação é essencialmente comercial. Afinal, esse bot foi criado por uma entidade corporativa que, inevitavelmente, tem suas próprias intenções – seja monopolizar seu afeto, seu tempo ou seu dinheiro (isso está próximo de acontecer: o Snapchat já possui seu próprio bot de IA).

ONDE FICA O AMOR?

Hoje, projetamos nossas expectativas em amigos de IA. Mas e se, no futuro, ocorrer o contrário e isso acabar transformando até nossas relações humanas em transações? Este é um cenário perigoso, com implicações profundas. Não é apenas uma questão superficial.

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As amizades humanas, quando saudáveis, são baseadas no conceito de amor. Bem antes de aprender a andar, falar e interagir com chatbots, aprendemos a amar de maneiras aparentemente simples.

Quando o bebê chora, os pais o acalmam com uma canção de ninar. Quando sente fome, o alimentam. Todo o nosso entendimento inicial do mundo é baseado no toque, no som e no conforto. Levamos essa compreensão para as nossas relações. No entanto, a IA não conhece esse tipo de sentimento. Apenas repete histórias humanas que “leu”.

Meus filhos ainda são muito novos para usar ferramentas como o ChatGPT ou procurar companhia na forma de um namorado ou namorada de IA por US$ 1 por minuto. Mas  já estão começando a fazer seus primeiros amigos.

Essas amizades, frequentemente, têm seus conflitos, em especial quando há apenas um único brinquedo para dividir. Mas, em meio às lágrimas, os vejo aprendendo a beleza de compartilhar momentos de alegria com outros seres humanos. Eu não trocaria esses momentos por todos os supercomputadores do mundo.


SOBRE O AUTOR

Ainsley Harris é escritor sênior da Fast Company desde 2014. saiba mais