Como os creators estão encarando (e usando) a IA generativa
Levantamento recente da Creator Now mostra que 97% dos criadores já usam IA em seu processo criativo
Estamos apenas no início da massificação do uso da inteligência artificial gerando um hype em muitas áreas, uma delas sendo a dos criadores de conteúdo, ou creators.
Segundo levantamento da plataforma Creator Now, os creators acreditam que essas ferramentas podem alterar seus fluxos de trabalho e, potencialmente, alterar a produtividade, os custos e as parcerias com as marcas. Entre os dois mil entrevistados, 84% eram youtubers; 53%, instagramers; 44%, tiktokers; e 10% usavam outras plataformas.
"A inteligência artificial generativa tem a capacidade de otimizar processos, gerar insights sobre diversos assuntos e, como consequência, impulsionar o mercado", afirma Raphael Pinho, cofundador e CEO da Spark, empresa de marketing de influência.
A tecnologia passou a oferecer subsídios para aperfeiçoar os conteúdos e realizar entregas mais eficazes. A partir disso, os creators têm produzido conteúdo em várias línguas e em larga escala, como scripts, além de elaborar e editar vídeos, aponta o executivo.
"Outro ponto relevante favorecido pela IA generativa é a interação com o público, possibilitando respostas rápidas e precisas com os seguidores e construindo uma legião ainda maior de pessoas engajadas aos seus conteúdos", afirma.
Quase a totalidade (97%) dos entrevistados disseram que já usavam IA em seu processo criativo e que o fizeram para aumentar o fluxo de trabalho, preencher lacunas de habilidades, criar conteúdo de melhor qualidade e reduzir custos.
"A IA é um co-piloto, porque o olhar humano segue sendo essencial. De certa forma, ganha-se tempo e a produtividade aumenta, mas a capacidade humana é o que vai fazer a diferença", afirma Pinho. Segundo o levantamento da Creator Now 44% dos criadores disseram que a IA melhorou e aumentou a produtividade.
HUMOR E CRIATIVIDADE
As ferramentas de IA podem ajudar os creators a gerarem ideias de conteúdo ou fornecer sugestões para ter conteúdos com melhor engajamento. Também podem produzir conteúdo para vários públicos, em diferentes idiomas.
A previsibilidade de performance de um conteúdo também pode ajudar a ter melhores resultados de engajamento. Na pesquisa, 57% dos criadores disseram que estavam usando IA para gerar ideias para seu conteúdo e 31%, que a usaram durante o processo de edição.
Nada menos que 90% dos criadores disseram que estavam usando ChatGPT durante o processo de criação de conteúdo, seguido pelo Midjourney (31%) e Google Bard (19,7%).
Um exemplo dessa nova aliança entre IA e produção de conteúdo é a página The Acid Times, criada pelo publicitário Bruno Zampoli, que une imagens geradas por meio da inteligência artificial acompanhadas de textos humorísticos.
“Via muitos projetos de imagens em IA levando a tecnologia muito a sério ou apenas focados na estética. The Acid Times é um exercício de inversão onde o foco está no dia a dia, com uma dose forte de imaginação, absurdo, ficção e humor. A tecnologia é só um detalhe”, comenta Zampoli.
Além do conteúdo editorial, já há projetos desenvolvidos em parceria com agências e marcas, como Itaú, Gympass e o alicativo Daki.
“A página é resultado de uma mistura de inspirações, passando pela linguagem do meme, pelas sátiras do fotógrafo inglês Martin Parr, pelas imagens nonsense e surreais da publicação italiana "Toilet Paper", pela revista "MAD" e, principalmente, por situações banais do cotidiano”, diz o publicitário.
OS DILEMAS DA IA GENERATIVA
A relação entre criadores de conteúdo e inteligência artificial, apesar de levantar pontos positivos, também traz alguns desafios. Segundo a pesquisa da Creator Now, 23% dos entrevistados enfrentaram dilemas éticos ao usar essas ferramentas.
Mais de metade expressou preocupação com o fato de a tecnologia poder reduzir o seu valor como criadores, especialmente se mais plataformas começarem a adotar conteúdo gerado por IA. "O principal desafio é continuar sendo autoral, porque os conteúdos podem ficar muito iguais", diz Pinho.
Para ele, sai à frente o influenciador que mantém a originalidade em suas publicações e, ao mesmo tempo, consegue aproveitar as vantagens que a tecnologia pode trazer para a construção de textos, vídeos, áudios, entre outros formatos. "Outro receio é o uso indevido de IA para enganar ou manipular as pessoas, o que é uma grande preocupação ética", aponta.
Segundo a Creator Now, 27% dos criadores disseram acreditar que todos os usos da IA deveriam ser divulgados e 40%, que o uso de IA deveria ser divulgado, mas ferramenta por ferramenta.
"A grande questão é entender o funcionamento das ferramentas de IA generativa, quais são suas limitações e qual aplicação, de fato, ela pode ter no dia a dia. Ou seja, ver a ferramenta como um apoio na criação, e não algo que vá sobrepor a personalidade do criador de conteúdo", diz Raquel Braga, CMO da agência de publicidade BKR. "Conseguir adaptar a sugestão da IA generativa para seu próprio contexto e sua própria linguagem é algo de extrema importância."
DÚVIDAS E MEDOS
A executiva lembra que as pessoas consomem conteúdo de creators por que se identificam com a pessoa por trás do conteúdo, o que ela representa, sua personalidade.
"Os creators fazem as pessoas se sentirem representadas de alguma forma. Esse sentimento dificilmente seria construído por uma IA. O conteúdo gerado por uma pessoa é fruto de suas experiências, sua visão de mundo e é isso que atrai a audiência, gerando conexão e empatia. Essas são habilidades humanas que IA não é capaz de reproduzir", argumenta.
Ainda assim, os novos influenciadores digitais – alguns deles criados com a ajuda de IA – estão ganhando atenção no mercado. "Realmente, é uma tecnologia que está revolucionando diversas indústrias, e a de produção de conteúdo é uma das principais. Dentro da estratégia digital de algumas marcas, observamos que os influenciadores virtuais estão crescendo e se tornando concorrentes", afirma Pinho.
"Todos os segmentos já se mostram receosos. A greve dos atores e roteiristas de Hollywood, inclusive, reivindicou a utilização da inteligência artificial nas produções, levando em consideração a preocupação com a substituição de humanos pela tecnologia", lembra o executivo da Spark.