Conheça os profissionais que estão formando um verdadeiro “clube da IA”

Ex-funcionários de empresas como OpenAI e Microsoft estão criando algumas das startups mais promissoras no setor de inteligência artificial

Créditos: Google DeepMind/ Unsplash/ master1305/ iStock

Henry Chandonnet 4 minutos de leitura

Quando olhamos para os executivos responsáveis pelo boom da IA, vemos muitos rostos conhecidos. Eles frequentemente mudam de empresa e alguns estão lançando seus próprios produtos. Isso lembra a “máfia do PayPal” do início dos anos 2000, um grupo de ex-funcionários que passou a dirigir empresas como Tesla, LinkedIn, YouTube e Palantir.

Desta vez, os talentos vêm das gigantes da IA, como OpenAI, Google e Apple. “De 20 mil a 30 mil empresas surgiram porque mais pessoas estão dispostas a deixar os laboratórios”, afirma HP Newquist, diretor executivo do Relayer Group e autointitulado historiador de inteligência artificial. “É um grupo que realmente entende como tudo isso funciona.”

TALENTOS DA OPENAI

Vários ex-funcionários da OpenAI fundaram algumas das maiores empresas de inteligência artificial. Em 2021, o vice-presidente de pesquisa Dario Amodei deixou seu cargo junto com sua irmã Daniela, que era vice-presidente de segurança e políticas.

Os dois criaram a Anthropic, levando consigo pelo menos outros nove ex-funcionários. A Anthropic desenvolveu o Claude, chatbot que compete diretamente com o ChatGPT. Em maio, outro pesquisador, Jan Leike, também deixou a empresa, alegando “preocupações com a segurança”, e se juntou à equipe da startup rival.

Aravind Srinivas, também ex-pesquisador da OpenAI, se tornou um dos cofundadores da Perplexity, um motor de busca que rastreia grandes quantidades de conteúdo digital para criar um banco de dados das informações encontradas.

Em maio, a “Bloomberg” informou que a desenvolvedora do ChatGPT estava investindo em uma função de busca para concorrer com o produto de seu ex-funcionário.

Outro exemplo é Ilya Sutskever, um dos fundadores e cientista-chefe da OpenAI. Depois de apoiar a breve demissão do CEO Sam Altman (algo que posteriormente disse ter se arrependido de fazer), Sutskever saiu para criar sua própria empresa. Pouco se sabe sobre a Safe Superintelligence Inc., exceto que se define como o “primeiro laboratório de SSI direto do mundo”.

De 20 mil a 30 mil empresas surgiram porque mais pessoas estão dispostas a deixar os laboratórios.

Elon Musk também deixou a OpenAI. Musk foi cofundador e investidor-chave, mas saiu em 2018, citando um conflito de interesses – embora relatos afirmem que sua relação com Altman era complicada. Agora, o bilionário está investindo em seu próprio empreendimento de inteligência artificial, xAI.

Outros ex-funcionários criaram mais de uma dúzia de empresas e startups independentes. A Cresta, um serviço de IA generativa para centros de contato e equipes de vendas, foi fundada pelo ex-membro técnico da OpenAI Tim Shi.

A Daedalus, que desenvolve IAs de precisão, foi fundada pelo ex-líder técnico da empresa, Jonas Schneider. E a Gantry, uma startup de infraestrutura de aprendizado de máquina, foi criada pelo ex-cientista de pesquisa Josh Tobin.

OUTROS GRANDES NOMES DA INDÚSTRIA

O Google também viu muitos talentos partirem em novas jornadas. A plataforma de empréstimos Upstart conta com a equipe fundadora formada pelos ex-funcionários Dave Girouard (ex-presidente da empresa) e Anna Counselman (ex-gerente de programas globais de clientes empresariais).

A Nuro, empresa de carros autônomos, é dirigida por Jiajun Zhu e Dave Ferguson, ambos ex-engenheiros do Google. Os fundadores do popular tradutor de IA Lilt se conheceram enquanto trabalhavam no Google Tradutor.

Essa lista fica ainda maior com a DeepMind, que foi adquirida em 2014 e passou a integrar a divisão de IA do Google em 2023. A Mistral, maior empresa de inteligência artificial da Europa, foi criada pelo ex-cientista sênior de pesquisa Arthur Mensch.

Da esq. para a dir: Dario e Daniela Amodei (Anthropic), Aravind Srinivas (Perplexity), Ilya Sutskever (Safe Superintelligence) e Elon Musk (xAI)

Mustafa Suleyman, um dos maiores nomes em IA atualmente, deixou o Google e iniciou seu próprio empreendimento, a Inflection AI, antes de se juntar à Microsoft.

A Apple chegou meio tardie no jogo da IA, tendo anunciado seu produto Apple Intelligence apenas no seu encontro anual de desenvolvedores, em junho. Ainda assim, a empresa tem ex-funcionários espalhados pela indústria.

Imran Chaudhri foi um dos principais designers da Apple por mais de 20 anos, tendo trabalhado em tecnologias clássicas como o Mac e o iPhone. Após sair em 2017, fundou a Humane, empresa de eletrônicos de consumo com IA responsável pelo Pin, classificado por seus criadores como "o primeiro computador vestível com inteligência artificial".

"É um grupo que realmente entende como tudo isso funciona."

A Humane, por sua vez, viu sua própria equipe se fragmentar, com dois executivos saindo para fundar sua própria empresa de verificação de fatos de IA, a Infactory.

Após vender o Workflow para a Apple em 2017, Ari Weinstein e Conrad Kramer recrutaram sua gerente sênior de produtos, Kim Beverett, lançando uma empresa que tenta levar a IA para aplicativos de desktop

POR QUE A INDÚSTRIA ESTÁ SE CONFIGURANDO ASSIM

HP Newquist atribui isso à inquietação que os trabalhadores da tecnologia começam a sentir quando estão em uma indústria em expansão. Muitos querem ser seus próprios chefes e ganhar muito dinheiro. Além disso, o fato de terem uma empresa de renome, como OpenAI ou Apple, no currículo aumenta as chances de o novo empreendimento ter sucesso.

    “É difícil fazer isso organicamente se você não faz parte desse ecossistema”, explica Newquist. “É preciso ter uma conexão com algum lugar ou projeto para passar aos investidores uma sensação maior de segurança.”

    A indústria de IA está crescendo. Startups estão recebendo milhões em financiamento. Mas Newquist acredita que algumas podem não durar muito tempo. “Crescimentos explosivos inevitavelmente resultam em consequências negativas”, aponta.


    SOBRE O AUTOR

    Henry Chandonnet é escritor e editor baseado em Nova York. Atualmente, trabalha como estagiário editorial na Fast Company, onde cobre ... saiba mais