IA da Khan Academy ultrapassa 65 mil alunos e desenvolve novas habilidades

O Khanmigo ganhou novos recursos para auxiliar os alunos na escrita de redações. Mas, de vez em quando, ele ainda comete erros de matemática

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Steven Melendez 4 minutos de leitura

Um ano atrás, a Khan Academy, uma organização sem fins lucrativos de ensino online, lançou o Khanmigo (disponível em inglês, espanhol e português), um professor de IA projetado para oferecer aos alunos um acompanhamento individual, sem fazer a lição de casa por eles.

Nesse período, o acesso experimental à versão piloto da IA se expandiu para cerca de 65 mil alunos, com planos de expansão para algo entre 500 mil e um milhão de alunos e professores. 

O Khanmigo promete ajudar os alunos em atividades curriculares, como resolução de problemas de matemática, debate de ideias para apresentações em sala e a análise de textos literários, com professores que ficam à disposição dos usuários. Um recurso anunciado em novembro pode até ajudar os alunos a revisar suas redações antes de entregá-las.

Depois de um ano sendo testado, o Khanmigo foi adotado por professores e escolas públicas que consideram o software como uma forma de fornecer ajuda mais individualizada e uma alternativa melhor aos chatbots de uso generalizado, que têm seus próprios padrões para definir o que é um conteúdo adequado e que estão propensos demais a fazer o trabalho pelos alunos, em vez de ensiná-los. 

O Khanmigo também pode ser usado por professores para ajudar no planejamento de aulas e na criação de atividades para os alunos. O software tem o objetivo de ajudar os educadores em sala de aula, e não de substituí-los.

Crédito: Khan Academy

De modo geral, os defensores da educação parecem cautelosamente otimistas em relação à IA como ferramenta educativa e de fomento de ideias – desde que sejam tomadas medidas para evitar que os alunos a utilizem simplesmente como um robô que faz a lição de casa, e desde que os professores e alunos sejam treinados para utilizá-la. 

No ano passado, a Federação Americana de Professores assinou um acordo com uma empresa que ajuda a detectar tentativas de “colar” com IA, ao mesmo tempo em que elogiou o potencial educacional geral da tecnologia.

A National Education Association dos EUA publicou orientações para os professores que estão pensando em usar a IA generativa. Outras organizações também desenvolveram ferramentas educacionais de IA, muitas delas com foco em áreas específicas, como codificação, idiomas e habilidades profissionais.

AUXÍLIO PERSONALIZADO

Em novembro, a Khan Academy lançou um recurso que oferece comentários personalizados sobre os rascunhos das redações dos alunos, dando dicas sobre como o estudante poderia aprimorar seus argumentos e seu estilo de texto.

Essa é uma área na qual os professores geralmente sofrem com limitações de tempo, já que, no final das contas, o tempo que eles podem gastar analisando o trabalho dos alunos é muito curto. 

A ferramenta, que recebeu feedback positivo dos professores até o momento, permite que os alunos insiram um rascunho de redação para receber dicas.

os defensores da educação parecem cautelosamente otimistas em relação à IA como ferramenta educativa e de fomento de ideias.

A Khan Academy está trabalhando na assistência de IA que pode auxiliar os alunos enquanto eles trabalham com problemas e trabalhos escolares, o que provavelmente também será útil para aqueles que não sabem quando ou onde pedir ajuda.

Ainda assim, como acontece com muitos produtos voltados para o aprimoramento acadêmico, o Khanmigo talvez seja mais eficaz para conquistar aqueles alunos que já estão curiosos e envolvidos com seus trabalhos escolares.

Por isso, um dos próximos desafios que a Khan Academy vai enfrentar é integrar a inteligência artificial aos materiais de estudo já disponíveis, auxiliando a alcançar aqueles alunos menos propensos a procurar ajuda.

E, como acontece com outras ferramentas de conversa com IA, as respostas do Khanmigo nem sempre estão corretas. Ele ainda comete erros de matemática ao revisar as respostas, embora a empresa alegue que está trabalhando internamente e conversando com os principais fornecedores de modelos de IA para aumentar sua precisão.

Crédito: Peopleimage/ iStock

"Estamos trabalhando no próprio modelo para melhorar cada vez mais – temos uma bateria inteira de casos de teste que chamamos de mais difíceis", revela o fundador e CEO da Khan Academy, Sal Khan. " Com base nesses casos difíceis, ele está melhorando muito." 

Khan ressalta que ainda vale a pena usar o Khanmigo, mesmo que a empresa esteja trabalhando para melhorar a precisão da IA. Afinal, como ele nos lembra, outras formas de estudo assistido – seja por meio de pesquisa na internet ou de acompanhamento humano tradicional – também têm falhas.

A ideia é que os professores possam monitorar as interações dos alunos com a IA.

Tampouco são infalíveis, é claro, as ferramentas de IA de uso geral, utilizadas pelos alunos na ausência de uma alternativa voltada especificamente para a educação.

Muitos desses chatbots também não teriam os cuidados aprimorados da Khanmigo de não fazer o trabalho todo no lugar dos alunos. Parte da proposta da organização para as escolas é que os professores possam monitorar as interações dos alunos com a IA, a fim de identificar tentativas de colar ou outros comportamentos indesejados. 

A Khan Academy também está elaborando uma série de vídeos destinados a orientar os alunos no uso da IA,  incluindo um que oferece conselhos sobre como lidar com casos em que um sistema comete um erro de matemática. "Toda vez que você sentir que a IA não está dando boas respostas, fale com uma pessoa", recomenda Khan.


SOBRE O AUTOR

Steven Melendez é jornalista independente e vive em Nova Orleans. saiba mais