IA do Spotify quer te ajudar a descobrir o que você nem sabia que gostava

Spotify conhece seu passado musical e quer investir na personalização para moldar seu futuro

Créditos: Alexander Shatov/ Unsplash/ Blue Planet Studio/ iStock

Nate Berg 4 minutos de leitura

A inteligência artificial saltou dos nichos tecnológicos mais nerds para o mercado de massa dos memes da cultura pop. Aquela clássica preocupação distópica sobre o surgimento de máquinas assassinas foi suplantada por uma questão bem mais imediata e consumista: como a IA pode nos entreter?

A resposta, aparentemente, é: de mil maneiras. Neste momento de futuro ameaçado, estamos explorando o imenso potencial da IA generativa e do aprendizado de máquina para uma ampla gama de novidades, desde escrever um comercial de TV até rejuvenescer o Indiana Jones ou vestir um casaco fofo no Papa.

O Spotify, gigante do streaming de música e player poderoso da indústria musical do século 21, acaba de entrar nessa briga com sua própria IA. Sua nova ferramenta  DJ usa IA generativa para criar uma voz que fala individualmente com usuários do aplicativo enquanto oferece uma lista de reprodução altamente personalizada, com base nos gostos e no histórico de cada um.

Em uma voz amigável que atende pelo nome de X, o DJ pode avisar a um usuário que vai tocar um gênero específico de música, pode desenterrar algumas das canções mais tocadas pelo ouvinte três anos atrás ou sugerir uma nova música de alguma banda que ele ainda não ouviu, mas é provável que goste.

PROCESSO TRANSPARENTE DE RECOMENDAÇÃO

Quando a ferramenta DJ foi lançada, em fevereiro, em versão beta para clientes premium nos EUA e no Canadá, gerou muita expectativa em clientes de fora dessas regiões. O mundo estava assistindo a um novo recurso sofisticado de inteligência artificial se conectar a um aplicativo muito familiar, que milhões de pessoas já usam diariamente. O poder da IA agora está criando listas de reprodução.

Mas o Spotify encara o seu DJ como muito mais do que um tempero de IA em um caldo criado por algoritmos. De acordo com a empresa, trata-se de uma ferramenta essencial para ajudar as pessoas a encontrar novas músicas de que realmente gostem.

Enquanto grande parte da internet está se tornando uma névoa incompreensível de curadoria algorítmica, o DJ do Spotify oferece uma janela de transparência em seu processo de recomendação.

Ajudar as pessoas a encontrar novas músicas é fundamental para o modelo de negócios do Spotify, dando a elas mais motivos para continuar pagando para ouvir.

"Acredito que a descoberta de novas canções é uma necessidade humana fundamental”, diz Emily Galloway, diretora sênior de design de produto da equipe de personalização do Spotify. “Não acho que essa necessidade humana básica tenha mudado com o tempo, mas continuamos a tentar diferentes tipos de tecnologia para resolver isso e inovar nesse espaço”.

Ajudar as pessoas a encontrar novas músicas também é fundamental para o modelo de negócios do Spotify, dando a elas mais motivos para continuar pagando para ouvir. Acontece que a IA é uma maneira prática de fazer isso acontecer.

Mas o DJ vai além de vasculhar o histórico do usuário e sugerir novas músicas para tocar, o que o Spotify já fazia. O verdadeiro poder da IA é seu elemento vocal, baseado na voz lúdica do chefe de parcerias culturais do Spotify, Xavier “X” Jernigan.

O DJ X chama o ouvinte pelo nome, anuncia algumas músicas e fornece fatos ou informações sobre por que certos gêneros ou artistas estão sendo tocados. “Descobrimos que essa estratégia realmente faz sucesso porque as pessoas se abrem mais a escutar algo de que nunca ouviram falar se elas entenderem por que estão sendo recomendadas para aquela música”, diz Galloway.

Crédito: Spotify

O LADO HUMANO DA TECNOLOGIA

A IA generativa faz as recomendações e a função de voz, mas grande parte da personalidade dessa IA vem de uma sala cheia de profissionais humanos, bem vivos. Essa equipe tenta dar personalidade ao DJ X e trabalhar com os editores do app injetando conhecimento de música e cultura musical no recurso de IA, o que treina o algoritmo. No fim das contas, é mais ou menos isso o que você ouviria de um DJ de verdade em uma estação de rádio.

O verdadeiro poder da IA é seu elemento vocal, baseado na voz lúdica do chefe de parcerias culturais do Spotify, Xavier “X” Jernigan.

Chamar uma ferramenta de inteligência artificial de “DJ” certamente irritará algumas pessoas, principalmente os verdadeiros disc jockeys que se especializam em escolher a música certa para o momento certo. Galloway diz que dar nome a uma ferramenta é sempre complicado, mas que o DJ não está tentando substituir o formador de opinião humano.

“O que é mais exclusivo nessa experiência, em comparação com a maioria das coisas no Spotify, é aquilo a que sempre retornamos: tem uma voz falando com você”, diz ela. “Queríamos chamar o usuário pelo nome, para remeter a esse aspecto único.”

O objetivo do DJ é simplificar e filtrar os estimados 100 milhões de músicas e faixas da biblioteca do Spotify, ajudando os ouvintes a ouvir o que gostam, mas também sonoridades que ainda não sabem que gostam. E isso vale para os artistas e criadores de conteúdo que despejam suas criações em um catálogo infinito, que pode parecer um buraco negro.

“No final das contas, também estamos tentando otimizar a descoberta de novos sons e conduzir essas conexões profundas e significativas. Assim, temos que pensar em ouvintes e criadores e em promover esses encontros”, diz Galloway. “A personalização realmente está na raiz do Spotify.”


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais