IA e IH: 5 habilidades para desenvolver nossa inteligência humana

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Taise Kodama 4 minutos de leitura

Pensar sobre as IAs (inteligências artificiais) é também pensar sobre as IHs (inteligências humanas). É pensar nosso papel ativo como criadores e entender que essa evolução tecnológica tem um impacto bombástico para além das funções e das atividades corporativas.

Também nos convida a repensar, inclusive, nossa ideia de trabalho, de profissão e do próprio valor e essência do que nos torna seres inteligentes, humanos e de como nossas sociedades, culturas e economias estão estruturadas.

Essa discussão tem se popularizado, já que as ferramentas de IA deixam de ser restritas a profissões tecnológicas e inundam nosso dia a dia nos algoritmos de redes sociais, no reconhecimento facial do app do banco, nos chatbots e com o boom de ferramentas como DALL-E e ChatGPT.

As IAs não estão imaginando sozinhas (ainda não?). Assim como um assistente (humano), precisam ser bem orientadas e alimentadas, com o direcionamento certo para realizar tarefas. Para desenvolver esse potencial, cabe a quem delega e demanda ser cuidadoso e, claro, saber o que deseja.

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Boa parte dos problemas no trabalho vem de um direcionamento que já começa confuso ou equivocado, e todos sabemos que um micro erro de demanda vira um desvio grande na entrega final. Isso pede ainda mais responsabilidade no início, durante e na revisão de todo processo.

Nessa lógica de podermos usar as IAs como assistentes – que nos economizam tempo e colaboram em atividades associativas, de organização e de visualização (assim espero) –, em vez de matar a criatividade, elas podem ser ferramentas de estímulo, de desenvolvimento e de atenção muito maior ao o quê precisa ser executado e não ao como fazer.

A partir dessas considerações, colocando a dimensão humana como o alimento deste processo, quais habilidades de IH se tornam cada vez mais necessárias e urgentes?

1. Clareza na expressão do desafio

Parece simples, mas este é o legítimo caso de que a simplicidade é a complexidade resolvida. Discernir as dores e as necessidades, planejando as etapas de execução de um projeto ou tarefa, é tão importante quanto saber o que se quer. É preciso saber como pedir, ter atenção à expressão e à formulação do pedido (prompt) antes de sair delegando.

2. Entender e classificar seu repertório

Estar atento, pois tudo o que experienciamos é repertório.

É fundamental refletir sobre os caminhos por onde o desenvolvimento e os usos da IA podem nos levar.

Mais do que abarrotar gavetas mentais ou sofrer na hora de nomear as pastas dos “salvos”, é importante ter uma boa ideia de taxonomia, ou seja, juntar as referências em categorias que possam ser buscadas futuramente com mais facilidade.

As IAs podem nos auxiliar nesta fast fashion de repertório, mas não se engane: ter repertório, saber quem são os especialistas no que você sabe menos, vai ajudar a fazer aquele check-in correto e não passar adiante informações equivocadas.

3. Capacidade analítica

É a habilidade de, no tsunami de informações e dados em que estamos submersos, conseguir identificar, classificar e utilizar o que é, de fato, relevante para a tomada de decisão. Seja para identificar o ponto fora da curva que nos leva a novas ideias, a territórios diferenciados (o delírio dos criativos), ou para nos apontar caminhos seguros comprovados – casos que contam com um padrão de eficiência e sucesso que podem nos trazer grandes aprendizados.

4. Estar aberto a aprender de forma constante

A ideia de estar sempre aprendendo é música para os ouvidos dos naturalmente curiosos e inquietos. Mas pode ser também extremamente angustiante quando parece que tudo o que aprendemos – e “apreendemos” de forma sistemática – vem sofrendo imensas transformações.

Talvez o melhor caminho seja, justamente, desapegar da ideia de que esse aprendizado tenha alguma conclusão de fato. Olhar para o ato de aprender como forma constante de viver tira o peso do estar formado e desloca o foco lá do fim para nos concentrarmos na beleza do processo, da descoberta que o aprendizado diário traz. É o aprendizado como prática, não como meta.

5. Conduta ética e transparente

Para que as novas tecnologias – e as velhas também, como as relações humanas – sejam usadas de maneira responsável e transparente, as IAs chegam com um poder gigante de facilitar o trabalho do ser humano e a forma como produzimos e consumimos conteúdo, produtos, serviços e informações.

Capacidade analítica é a habilidade de conseguir identificar, classificar e utilizar o que é, de fato, relevante para a tomada de decisão.

A era da pós-verdade não começou agora, mas tem seu ápice na velocidade da geração de conteúdo em que vivemos – na qual ter uma foto, um áudio ou um vídeo já não garante a veracidade de um fato. Ou pior, já nem verificamos ou nos importamos mais se é ou não verdade, desde que seja trend.

Tenso. Pois é. Imagina, então, esse tema na produção do meio acadêmico, no jornalismo, na política, na saúde, no seu grupo da família no “zapzap”.

É fundamental refletir sobre os caminhos por onde o desenvolvimento e os usos da IA podem nos levar. Retomar a discussão sobre ética e transparência além dos ambientes corporativos e científicos pode ser encarado como um efeito colateral positivo para quem acredita que podemos evoluir também nos nossos desafios como humanos, encontrando razão, utilidade e significado para nossa inteligência.

Mais do que nos preocupar somente em acompanhar as inteligências artificiais, o grande tema é desenvolver nossas inteligências humanas. Afinal, tudo que desejamos é construir experiências consistentes, verdadeiras, que reforcem e criem valor para marcas, negócios e, principalmente, para as pessoas e a sociedade.


SOBRE A AUTORA

Taise Kodama é sócia e head de design & digital da consultoria de marca e experiência Gad. saiba mais