Microsoft adota estratégia geopolítica para ampliar poder no campo da IA

A empresa está buscando se manter à frente na corrida da inteligência artificial

Créditos: Paul Silvan/ Sandip Kalal/ Unsplash,

Mark Sullivan 3 minutos de leitura

O recente acordo anunciado pela Microsoft sobre a aquisição de uma participação de US$ 1,5 bilhão no grupo de IA dos Emirados Árabes Unidos G42 é resultado de meses de coordenação e negociação entre as empresas e seus respectivos governos.

A G42 agora terá acesso ao poder computacional dos data centers Azure, da Microsoft, e vai revender alguns dos serviços de inteligência artificial da gigante da tecnologia.

Por trás do envolvimento do governo dos EUA no acordo estão o desejo de conter a crescente influência da China na região do Golfo Pérsico e a busca pela supremacia em IA.

Os termos exigem que a G42 e a Microsoft cumpram medidas especiais de segurança para proteger ativos tecnológicos e propriedade intelectual, presumivelmente para evitar vazamentos para a China ou outros adversários dos EUA. O grupo, com sede em Abu Dhabi, também concordou em substituir todos os seus servidores da fabricante chinesa Huawei de sua infraestrutura.

Para o governo norte-americano, o acordo é um novo capítulo na crescente disputa com a China – uma rivalidade onde as peças de xadrez não são armas nucleares e exércitos, mas sim a influência tecnológica e econômica.

Os presidentes da Microsoft, Brad Smith (esq.), da Group 42, Tahnoon bin Zayed Al Nahyan, e o CEO da empresa, Peng Xiao (Crédito: Divulgação)

O governo chinês anunciou mais de US$ 110 bilhões em acordos de fusão e aquisição de tecnologia desde 2015, segundo o Instituto Brookings. O governo pode acessar facilmente a tecnologia de IA desenvolvida pelo setor privado de seu país para uso em inteligência e defesa – um conceito chamado de “fusão civil-militar”.

A ameaça chinesa é a principal justificativa para o aumento dos gastos com defesa dos EUA – que podem chegar a US$ 1 trilhão no ano fiscal de 2024.

PENSANDO NO FUTURO

Para a Microsoft, o acordo representa um movimento importante nessa nova e diferente guerra fria. A gigante da tecnologia emergiu como um player central na corrida da IA e tem sido extremamente bem-sucedida em exercer sua influência sobre algumas das empresas mais importantes do setor.

Ela foi a primeira big tech a perceber o potencial da OpenAI e a investir nela. No início de 2023, pagou US$ 10 bilhões por uma participação de 49% na empresa. E apoiou o CEO Sam Altman durante as breves e tumultuadas mudanças de liderança no ano passado.

Também investiu na Inflection AI, empresa criada pelo fundador do DeepMind, Mustafa Suleyman, e pelo bilionário do LinkedIn, Reid Hoffman. Quando a Inflection desistiu de seus planos de focar em produtos para consumidores, a Microsoft rapidamente contratou Suleyman e grande parte de sua equipe, além de obter os direitos de distribuição de seu modelo de IA emocionalmente inteligente por meio da Azure.

Por trás do envolvimento do governo dos EUA no acordo está o desejo de conter a crescente influência da China no Golfo Pérsico.

“Satya [Nadella] entende o jogo”, diz Dan Faggella, fundador da Emerj Artificial Intelligence Research, sobre o CEO da Microsoft. “Se os EUA não conseguirem fornecer energia para seus data centers, ele está totalmente ciente de que pode recorrer ao Oriente Médio. Existem empresas na região que ainda não estão no radar da maioria e estão levantando enormes quantias de dinheiro e construindo gigantescos data centers projetados especificamente para IA, para treinamento e inferência.”

A Microsoft tem uma relação boa e de longa data com o governo dos EUA, tendo vários contratos para construir redes de computadores e até mesmo headsets de realidade aumentada para o exército.

A empresa tem um batalhão de lobistas em Washington, bem como o apoio de grandes nomes, como o advogado Brad Smith, que é visto como um rosto confiável e amigável do mundo da tecnologia (assim como Eric Schmidt, ex-CEO do Google).

Ao ajudar a administração Biden na esfera da geopolítica, a Microsoft aumenta sua própria influência no campo da IA.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais