Na era da IA, vale a pena incentivar as pessoas a continuar estudando?
É preciso aproveitar a IA para transformar a abordagem educacional em experiências de aprendizado dinâmicas, personalizadas e baseadas na prática
Se perguntássemos a alunos do quarto ano se eles gostariam que o ChatGPT fizesse suas tarefas de casa, certamente ouviríamos um “sim” unânime. Afinal, se a inteligência artificial pode dar conta do trabalho, por que gastar tempo fazendo redações ou resolvendo problemas de matemática?
Essa não é a primeira vez que nos deparamos com essa questão. Com calculadoras, computadores e acesso ilimitado à informação, há muito tempo debatemos quais habilidades realmente precisamos aprender. Alguns argumentam que, à medida que a IA avança e automatiza cada vez mais tarefas, não precisaremos mais adquirir habilidades ou conhecimento por conta própria.
No entanto, essa linha de pensamento está equivocada e pode ser perigosa. A história nos mostra que o surgimento de novas tecnologias aumenta a demanda por profissionais qualificados.
Na verdade, à medida que a IA e outras tecnologias avançam, a complexidade das habilidades necessárias para ter sucesso no mercado de trabalho também aumenta. Em vez de abandonar o aprendizado, devemos abraçá-lo e adaptar nossos sistemas educacionais para preparar as pessoas para os desafios e oportunidades que estão por vir.
DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À ERA DA INFORMAÇÃO
Ao longo da história, a evolução tecnológica tem levado a uma maior demanda por profissionais qualificados, acompanhada de um aumento na complexidade dessas habilidades. Esse fenômeno pode ser observado em diversos momentos da história, desde a Revolução Industrial até a Era da Informação.Conforme a tecnologia avança, o tempo necessário para aprender e dominar essas habilidades também aumenta.
A história nos mostra que o surgimento de novas tecnologias aumenta a demanda por profissionais qualificados.
Consideremos a Revolução Industrial, quando o trabalho agrícola começou a ser substituído por atividades em fábricas, que exigiam treinamento especializado de pelo menos alguns meses. Com o surgimento de máquinas a vapor e de novos processos de fabricação, os trabalhadores precisaram aprender a operar esses equipamentos. Essa mudança levou à criação de escolas técnicas e programas de aprendizagem para formar indivíduos com as habilidades necessárias.
À medida que avançamos para os séculos 20 e 21, com a introdução dos computadores e a ascensão da internet, testemunhamos uma transformação significativa na forma como trabalhamos e vivemos. Esse novo cenário aumentou a demanda por profissionais altamente qualificados em áreas como programação e análise de dados.
A complexidade dessas habilidades muitas vezes requer anos de formação e treinamento especializado, começando com o aprendizado básico de leitura e escrita aos cinco anos, seguido por ciências, matemática e outras competências, até alcançar uma posição profissional aos 25 anos – quase 20 anos de preparação. Além disso, os profissionais precisam se manter constantemente atualizados para acompanhar as rápidas mudanças tecnológicas.
A principal lição desses exemplos históricos é que quanto mais avançada a tecnologia se torna, maior é a necessidade de pessoas altamente qualificadas e mais tempo é necessário para aprender e dominar essas habilidades. É improvável que essa tendência mude com a IA.
O NÍVEL DE EXIGÊNCIA ESTÁ PRESTES A AUMENTAR
A integração da IA em diversas indústrias certamente automatizará muitas tarefas, mas também criará novas funções mais complexas e especializadas. Esses empregos exigirão um profundo entendimento dos princípios da IA, considerações éticas e a capacidade de trabalhar harmoniosamente com máquinas inteligentes.
Além disso, o ritmo acelerado dos avanços desta tecnologia significa que as habilidades necessárias para se destacar nessas novas funções estão em constante evolução, tornando a aprendizagem ao longo da vida mais importante do que nunca.
quanto mais avançada a tecnologia se torna, maior é a necessidade de pessoas altamente qualificadas.
Devemos também ter em mente que, com a automação impulsionada pela IA e a substituição de empregos existentes, haverá dezenas de milhares de pessoas cujos meios de subsistência serão ameaçados.
Como disse John Maynard Keynes em 1930, cada avanço tecnológico causa uma “fase temporária de desajuste” – mesmo que traga benefícios à humanidade no longo prazo. Muitos dos profissionais de hoje precisarão aprender novas habilidades para encontrar novas oportunidades de emprego.
Isso ressalta ainda mais a importância do aprendizado e a necessidade de sistemas educacionais sólidos que possam ajudar as pessoas a se adaptar e prosperar em um mundo impulsionado pela IA. É fundamental que aprendamos com a história e abordemos proativamente os potenciais impactos sociais e econômicos da substituição de empregos por meio da educação e do desenvolvimento de habilidades.
COMO SOBREVIVER E PROSPERAR
Pesquisadores do MIT conversaram com educadores ao redor do mundo para compreender o impacto de tecnologias como o ChatGPT no ensino e no aprendizado. Eles constataram que o pensamento crítico é agora mais importante do que nunca para os estudantes – enquanto habilidades como memorização estão se tornando obsoletas.
Ao reconhecermos a crescente importância da aprendizagem humana na era da IA, é essencial também compreender como ela pode revolucionar os sistemas educacionais e as abordagens para o desenvolvimento de habilidades.
Os métodos tradicionais de ensino, baseados em salas de aula, com conteúdos densos e padronizados, não são adequados para preparar indivíduos para as habilidades complexas e dinâmicas necessárias nas indústrias em rápida evolução.
A integração da IA em diversas indústrias automatizará muitas tarefas, mas também criará novas funções mais complexas e especializadas.
Para prosperar nesta nova realidade, precisamos aproveitar a inteligência artificial para transformar nossa abordagem educacional em experiências de aprendizado dinâmicas, personalizadas e baseadas na prática. As plataformas de IA podem facilitar a aprendizagem adaptativa, ajustada às necessidades de cada um, fornecendo feedback em tempo real e acelerando o processo de aprendizado.
Além disso, podem nos ajudar a identificar e prever as habilidades futuras com alta demanda, capacitando educadores e formuladores de políticas a projetar currículos acadêmicos e programas de treinamento que promovam o sucesso na economia emergente liderada pela IA.
A colaboração entre instituições educacionais, empresas e legisladores é essencial para garantir que os currículos e os programas de treinamento estejam alinhados com as necessidades em constante evolução do mercado de trabalho. Trabalhando juntos, podemos promover uma cultura de aprendizado contínuo e de adaptabilidade, preparando as pessoas para se destacarem em meio a essa nova realidade.
Ao transformar os sistemas educacionais, promover uma cultura de aprendizado contínuo e usar a IA como uma ferramenta para o desenvolvimento de habilidades, podemos garantir que a humanidade não apenas sobreviva, mas prospere na era da inteligência artificial.