“Namoro” com IA começa a virar tendência, mas há sinais de perigo à vista

Os avanços em inteligência artificial estão inaugurando uma nova era para relacionamentos

Crédito: Freepik

Valerie A. Lapointe, David Lafortune e Simon Dubé 4 minutos de leitura

Há uma década, os assistentes virtuais alimentados por inteligência artificial – como a Siri, da Apple, e a Alexa, da Amazon – começaram a fazer parte das tecnologias que usamos no dia a dia. Agora, um novo tipo de chatbot vem ganhando cada vez mais espaço: os “namorados” de IA.

Atualmente, existem mais de 100 aplicativos, como o myanima.ai, Eva AI, Nomi.AI e Replika, que oferecem companheiros românticos e sexuais com diversas opções de personalização, incluindo características físicas e de personalidade.

Esses chatbots são incrivelmente realistas e adaptáveis e interagem com fluidez. Além disso, aprendem com as conversas, ajustando suas respostas com base nos interesses, necessidades e estilos de comunicação dos usuários.

E estão cada vez mais parecidos com humanos, o que aumenta as chances de as pessoas se envolverem e criarem vínculos emocionais – chegando até a se apaixonar. A solidão levou muitos a usar a inteligência artificial como substituta para conselheiros, amigos e parceiros românticos.

Pesquisas mostram que chatbots de IA podem oferecer companhia, aliviar a solidão e fazer as pessoas se sentirem bem com mensagens de apoio. Também proporcionam um espaço livre de julgamentos para conversas abertas e conselhos quando há poucas opções.

Com isso, muitos usuários acabam desenvolvendo uma conexão mais íntima e sentimental com a inteligência artificial – uma conexão que se assemelha bastante aos relacionamentos humanos.

Surpreendentemente, não parece haver diferença na satisfação, excitação sexual e resposta emocional, quer acreditem estar interagindo com uma pessoa de verdade ou com um chatbot. Inclusive, um estudo aponta que os usuários sentem uma conexão emocional mais forte com bots em comparação com humanos que não se abrem muito durante uma conversa.

O LADO SOMBRIO DOS RELACIONAMENTOS COM IA

Esses chatbots são programados para oferecer uma forma única de companheirismo, com disponibilidade constante e interações perfeitas, evitando conflitos e a necessidade de compromisso. O que levanta preocupações sobre o impacto nas expectativas dos usuários em relação a relacionamentos românticos e sexuais com outras pessoas.

Pesquisas mostram que chatbots de IA podem oferecer companhia e aliviar a solidão.

Isso pode acabar prejudicando o desenvolvimento de habilidades sociais necessárias para construir relações no mundo real, incluindo controle emocional e a habilidade de lidar com conflitos.

Sem isso, os usuários podem perder a capacidade de cultivar relacionamentos genuínos, complexos e de mão dupla com outros humanos. Relacionamentos muitas vezes envolvem desafios e conflitos que contribuem tanto para o crescimento pessoal quanto para aprofundar conexões emocionais.

VIGILÂNCIA ÍNTIMA

Em 2023, uma análise de segurança da Fundação Mozilla de 11 aplicativos populares de chatbots de IA revelou questões alarmantes de privacidade. A maioria compartilha ou vende dados pessoais e metade deles impede os usuários de excluir suas informações.

Ainda mais preocupante é que muitos desses aplicativos possuem milhares de rastreadores que monitoram a atividade nos dispositivos para fins de marketing. Outro estudo recente envolvendo 21 apps de “parceiros românticos” de IA identificou questões de privacidade semelhantes.

BENEFÍCIOS DOS “NAMOROS” COM IA

Embora dados empíricos ainda estejam surgindo, as interações impulsionadas por inteligência artificial podem oferecer uma alternativa segura e de baixo risco aos relacionamentos sexuais e românticos.

Os chatbots têm um potencial promissor para pessoas que enfrentam grande dificuldade em estabelecer relações satisfatórias devido a doenças, bloqueios sexuais, barreiras psicológicas ou limitações de mobilidade.

Créditos: dimdimich/ iStock

Além disso, as tecnologias de IA podem ajudar grupos marginalizados e indivíduos socialmente isolados a explorar sua sexualidade e satisfazer suas necessidades de interação romântica. 

Também podem ser usadas como uma ferramenta de socialização, ajudando pessoas a criar vínculos e melhorar suas habilidades de interação. Por exemplo, pesquisas mostram sua eficácia em melhorar a comunicação emocional em relacionamentos à distância. E novos estudos estão explorando seu potencial para ajudar indivíduos a lidar com o sofrimento de serem ignorados em aplicativos de namoro.

REVOLUÇÃO NOS RELACIONAMENTOS

Os avanços atuais em IA estão inaugurando uma nova era para relacionamentos íntimos. Os chatbots podem oferecer interações românticas e emocionais personalizadas e gratificantes, com potencial de aliviar a solidão, melhorar as habilidades sociais e fornecer suporte para aqueles que têm dificuldade com a intimidade.

    Mas também levantam questões de privacidade e preocupações éticas que destacam a necessidade de uma abordagem responsável, regulamentada e com base em pesquisas para que possam ter uma integração positiva em nossas vidas – já que as tendências atuais indicam que os “namorados” de IA vieram para ficar.

    Este artigo foi publicado no “The Conversation” e reproduzido sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


    SOBRE O AUTOR

    Valerie A. Lapointe é candidata ao doutorado em psicologia e David Lafortune é professor do departamento de sexologia, ambos na Univer... saiba mais