Nova tecla de IA pode virar um problema de negócios para a Microsoft

O novo recurso lembra as tentativas da empresa de impor o Internet Explorer aos usuários

Créditos: Aryan Dhiman/ Unsplash/ Microsoft

Chris Stokel-Walker 4 minutos de leitura

Basta olhar para um teclado de computador dos anos 1990 para perceber que pouca coisa mudou em comparação com os modelos mais recentes. A configuração, o layout e o número de teclas permanecem praticamente os mesmos.

Mas isso está prestes a mudar.

Na semana passada, a Microsoft anunciou “a primeira mudança significativa no teclado dos PCs com Windows em quase três décadas”. A tecla Copilot será adicionada aos novos computadores com Windows 11 nas próximas semanas e ficará entre o “Alt” da direita e as teclas de seta na maioria dos teclados.

Quando pressionada, ela ativa o assistente de IA da empresa, Copilot, que é alimentado pela mesma tecnologia por trás do ChatGPT.

A estratégia de pré-instalar o Internet Explorer no Windows ajudou a consolidar a posição do navegador no topo do mercado.

Embora a Microsoft tenha apresentado o novo recurso como uma vantagem para os usuários, alguns céticos a veem como algo semelhante às teclas de função especializada que causaram problemas nos anos 1990.

Também existem preocupações de que a empresa esteja chamando a atenção para sua posição dominante no espaço de IA, apenas um mês após o órgão regulador antitruste do Reino Unido afirmar que está examinando se os vínculos da Microsoft com a OpenAI são anticompetitivos.

“A introdução da tecla de IA nos teclados da Microsoft traz de volta a discussão em torno de produtos pré-instalados que ajudou a empresa a ganhar poder de mercado na chamada ‘guerra dos navegadores’ dos anos 90”, afirma Catalina Goanta, professora associada de direito privado e tecnologia na Universidade de Utrecht, na Holanda.

Crédito: Microsoft

A estratégia de pré-instalar o Internet Explorer no Windows ajudou a consolidar a posição do navegador no topo do mercado por muitos anos, à medida que as pessoas começaram a migrar para a internet.

A iniciativa foi considerada ilegal pelo governo dos EUA em uma ação antitruste no início dos anos 2000, o que permitiu aos usuários um acesso mais fácil a alternativas. Uma questão semelhante foi levantada na Europa em 2010, com a Microsoft se comprometendo a permitir que os usuários escolhessem qualquer navegador como padrão.

Oferecer escolha, em vez de prender as pessoas a uma única opção, é essencial.

“Naquela época, os navegadores eram a única porta de entrada do consumidor para a internet, então, uma empresa que pré-instalasse seu próprio navegador e o tornasse a forma padrão de acessar a internet definitivamente teria uma vantagem sobre os concorrentes”, observa Goanta.

Embora haja ecos da “guerra dos navegadores” e preocupações em torno de produtos pré-instalados, há algumas diferenças importantes entre aquela época e agora. Desde os anos 1990, o mercado de tecnologia se diversificou bastante, enquanto os serviços de IA generativa passaram a ser integrados de maneira mais nativa em várias ferramentas. A Microsoft não respondeu quando procurada pela Fast Company.

NOVO CAMPO DE BATALHA

Outras pessoas estão mais preocupadas com o fato de que isso possa sugerir que a Microsoft talvez tenha conseguido ficar fora do radar enquanto os órgãos reguladores e a opinião pública se concentram em outras coisas.

“A Microsoft está se beneficiando da reputação que conseguiu reconstruir ao longo das últimas duas décadas”, afirma Juan Ortiz Freuler, advogado de tecnologia afiliado ao Berkman Klein Center, da Universidade de Harvard. “Ela conseguiu se afastar das reações negativas ao Google, Amazon, Facebook e, em menor medida, Apple, e está mais uma vez sob os holofotes.”

Para Ortiz Freuler, “a tecla é a parte visível de um sistema verticalmente integrado” e “busca consolidar a liderança da Microsoft” no processamento de dados, em parte impulsionada pelo investimento de mais de US$ 10 bilhões da empresa na OpenAI.

Primeira versão do Internet Explorer (Crédito: Microsoft)

“Assim como quando os reguladores buscaram manter a web aberta desafiando a decisão da Microsoft de pré-instalar o Internet Explorer no Windows, o acesso a motores de IA se tornou o novo campo de batalha para a tecnologia e requer uma resposta semelhante”, diz ele. “Muito poder pode acabar nas mãos de poucos se não agirem rapidamente.”

Ele gostaria que a nova tecla oferecesse aos usuários o poder de escolher entre diferentes serviços de IA generativa, semelhante à forma como a Microsoft permite escolher outros navegadores padrão.

Oferecer escolha, em vez de prender as pessoas a uma única opção, é essencial. O motivo? O amplo uso da IA generativa pouco mais de um ano após o lançamento do ChatGPT e o papel central que se espera que ela desempenhe nas nossas vidas no futuro.

“Enquanto uma pequena parcela das pessoas utilizava a internet no início dos anos 2000, hoje mais da metade da população mundial está conectada à internet e tem acesso a um motor de IA”, diz ele. “Os riscos são maiores.”


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais