O abismo criativo entre os seres humanos e a inteligência artificial

A IA pode tornar o trabalho mais eficiente, mas será que ela pode mexer com as nossas emoções?

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Michael McIntyre 3 minutos de leitura

Gostaria muito que o ChatGPT pudesse gerar uma piada engraçada o suficiente para fazer minha família rir. Mas, infelizmente, todas são sempre recebidas com olhares entediados dos meus filhos adolescentes, que têm um senso de humor muito exigente.

Até hoje, a inteligência artificial não conseguiu nos entregar uma grande obra de arte, filme ou série de TV de sucesso ou campanhas publicitárias memoráveis. Isso nos faz questionar: será que a IA já produziu algo realmente valioso, além da promessa de um futuro mais produtivo?

Com as máquinas começando a exercer gradualmente sua influência mecânica nas artes, aqui estão três pontos que sugerem que nós, humanos, continuaremos no controle criativo.

EMOÇÕES

A inteligência artificial, seja o ChatGPT, Midjourney ou Runway, nunca foi capaz de me fazer rir (intencionalmente, pelo menos). Da mesma forma, também nunca me fez chorar, despertou sentimentos de nostalgia ou amor, ou me inspirou a agir. Isso acontece porque, para expressar emoções, é necessário entendê-las.

O que é  engraçado ou não é algo que só os humanos realmente compreendem. A comédia é uma combinação delicada e complexa de sagacidade, timing e normas culturais, que apela para o que é conhecido e então subverte a expectativa. Embora a IA possa gerar o absurdo, criar uma piada genuinamente engraçada requer o toque humano.

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Quando se trata de música, a inteligência artificial pode criar playlists com seus algoritmos, mas não consegue explicar por que uma determinada canção mexe tanto com as nossas emoções.

A sugestão de músicas pode ser útil como ponto de partida, mas decidir qual usar em um anúncio, filme, trailer ou programa de TV para evocar uma emoção específica continua sendo um trabalho para criativos humanos.

O “conteúdo” vai além dos pixels e bytes que o compõem. Ele tem a ver com o significado por trás do trabalho, com a capacidade de mexer com as emoções das pessoas e provocar reações ou ações. A IA carece da profundidade emocional e depende da criatividade e do significado que só os humanos podem proporcionar.

MENTORIA

Descobrir no que somos bons leva tempo. Normalmente, envolve tentativa e erro e requer orientação de pessoas mais experientes. Editores assistentes, por exemplo, analisam centenas de milhares de horas de filmagem para montar uma cena e identificar as melhores tomadas.

Redatores iniciantes escrevem milhares de textos ruins até dominar totalmente a escrita. Designers novatos produzem centenas de logotipos até encontrar a solução “certa”. Tudo isso fortifica nosso músculo mental para que possamos ser cada vez mais criativos.

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A inteligência artificial pode processar dados e gerar resultados rapidamente, mas não pode ensinar o que é bom gosto. Os aspirantes a criativos devem ter cuidado para não depender demais da IA como uma espécie de muleta criativa, em vez de usá-la apenas como um assistente de produtividade.

A JORNADA

Só por diversão, recentemente pedi ao ChatGPT para sugerir ideias para o trailer de um filme distópico dos anos 90 em que estávamos trabalhando. As sugestões eram lógicas, mas faltou a elas as nuances e o toque humano que fazem uma obra memorável.

Mas, como ferramenta produtiva, a IA pode ser excelente. Ela pode fornecer sugestões e pontos de partida, permitindo que os criativos explorem diferentes direções. 

Usamos ferramentas como o Midjourney e o Runway para criar protótipos visuais em tempo recorde, o que nos ajuda a mostrar aos clientes uma ideia de como será o resultado final.

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No entanto, o perigo é depender demais da IA. Nenhum algoritmo pode replicar o sentimento de ouvir uma música que sua mãe colocou durante uma viagem de carro ou a experiência de enfrentar um valentão na escola – um abismo criativo que separa o homem da máquina.

Mexer com sentimentos, seja emocional ou comercialmente, sempre exigirá um toque humano. Compreender emoções e articular o porquê por trás de uma história confere valor artístico a qualquer projeto criativo.

A IA certamente mudará a forma como trabalhamos, tornando nossos processos e fluxos de trabalho mais eficientes e fornecendo ideias baseadas em vastos conjuntos de dados. Mas precisamos decidir o que fazer com essas ideias e como transformá-las em algo verdadeiramente significativo e impactante.

A inteligência artificial nos dá apenas um ponto de partida. Todo o resto cabe a nós, humanos, decidir.


SOBRE O AUTOR

Michael McIntyre é cofundador e CEO da agência de marketing Mocean. saiba mais