O futuro da IA chega mais rápido do que os humanos conseguem acompanhar

Vinod Khosla, um dos primeiros investidores da OpenAI, partilhou suas apostas sobre tudo, desde a desinformação eleitoral até o papel da IA na medicina

Créditos: gremlin/ iStock/ Richard Horvath/ Unsplash

Mark Sullivan 4 minutos de leitura

Vinod Khosla, um experiente investidor de capital de risco, lançou algumas pérolas de sabedoria diante de uma plateia entusiasmada durante uma breve entrevista no palco da conferência sobre inteligência artificial da "Fortune", em São Francisco (EUA).

Khosla foi um dos primeiros investidores da OpenAI, a queridinha do setor de IA que quase desmoronou depois de seu conselho ter demitido o CEO Sam Altman, em novembro

Confira a seguir um resumo rápido das principais apostas de Khosla:

Sobre os riscos da IA: "Os discursos apocalípticos e sombrios demais nem merecem ser discutidos", disse ele, acrescentando que a IA tem quase a mesma chance de acabar com a raça humana que um meteorito gigante.

Sobre a desinformação eleitoral provocada pela IA: Khosla acredita que a China e a Rússia usarão a IA para interferir nas eleições dos EUA no ano que vem. "É capaz de haver um bot [que serve para espalhar desinformação] para cada eleitor em 2024", disse ele.

Sobre o lugar da IA no futuro: "Quem vencer a corrida da IA vencerá a corrida econômica", afirmou Khosla. "E quem vence a corrida econômica, ganha influência sobre a sociedade." 

Crédito: David Paul Morris/ Bloomberg/ Getty Images

Sobre o efeito da IA no trabalho: 80% (das funções de trabalho) que compreendem 80% dos empregos economicamente relevantes poderão ser realizados pela IA. Essa é uma ampliação de uma teoria apresentada em um artigo de Khosla de 2016, que dizia que a IA poderia realizar 80% das tarefas atualmente executadas por médicos.

Sobre a IA no setor de saúde: Khosla disse que uma das formas como a IA afetará o setor de saúde é "pressionando" os pacientes para que eles façam atividades preventivas (ou seja, exercitar-se ou seguir instruções de tratamento pós-consulta). O sistema é bom no fornecimento de atendimentos primários por médicos e outros profissionais de saúde, mas não é tão bom no acompanhamento. "A IA se encarregaria de dar esse tipo de atenção sob orientação humana", disse ele.

Sobre a criação de medicamentos por IA: Khosla disse que,

Quem vencer a corrida da IA vencerá a corrida econômica. E quem vence a corrida econômica ganha influência sobre a sociedade.

na verdade, é bastante estranho que todos tomem os mesmos medicamentos, apesar de termos uma composição genética única e, portanto, reações diferentes às substâncias. "Estamos praticando uma medicina rudimentar", disse ele. Os sistemas de IA serão capazes de adaptar os medicamentos a cada uma de nossas constituições exclusivas. "Não creio que estejamos muito longe de poder criar um medicamento para cada pessoa."

Sobre o papel da IA na codificação: "Um bilhão de pessoas no mundo serão programadoras nos próximos 10 anos. Você vai escrever em seu idioma o que precisa. Em seguida, a IA fará perguntas de esclarecimento." Em outras palavras, o desenvolvimento de software não será mais restrito a pessoas que conhecem linguagens de programação. Ele será escrito por meio de conversas com a IA, que fará a codificação em segundo plano.

O DRAMA DA OPENAI CONTINUA

Khosla foi um dos investidores originais da OpenAI, a queridinha do setor de IA que quase desmoronou depois que seu conselho demitiu o CEO Sam Altman, no mês passado. As verdadeiras razões por trás da demissão de Altman ainda não vieram à tona (o conselho disse apenas que Altman não havia sido transparente com eles). 

O "The Washington Postinformou que alguns funcionários haviam se queixado à diretoria sobre o comportamento "psicologicamente abusivo" e "tóxico" de Altman.

Khosla conhece as verdadeiras razões, mas, quando perguntado pelos repórteres, alega não saber de nada. Com US$ 50 milhões investidos na OpenAI, ele provavelmente não quer deixar o barco virar logo agora que está se equilibrando. 

Sam Altman (Crédito: Michael Dziedzic/ Unsplash)

Quando perguntado novamente, Altman declarou apenas que a OpenAI foi prejudicada pela "diretoria errada". Segundo ele, a empresa já estava "muito melhor do que há um mês", antes de cinco membros do conselho terem perdido seus cargos, incluindo o cientista-chefe e cofundador Ilya Sutskever, que votou a favor da demissão de Altman.

Até agora, a melhor hipótese sobre o que aconteceu é que Sutskever perdeu uma disputa de poder com Altman. Os dois têm visões muito diferentes sobre a rapidez, a segurança e a transparência com que as descobertas de IA devem ser produzidas e expostas ao público.

Khosla foi um dos primeiros investidores da OpenAI, que quase desmoronou quando o conselho demitiu o CEO Sam Altman, em novembro.

Sutskever é um cientista e humanista que acredita na liberação da inteligência artificial de forma lenta, cuidadosa e para o benefício de muitos, e não de poucos (essa ideia, inclusive, consta no estatuto da OpenAI).

De acordo com o que um especialista em IA confiável me confirmou nos bastidores, Altman é um empreendedor inveterado, com forte impulso para criar produtos novos que atendam às necessidades do mercado, vendê-los e expandir rapidamente os negócios. 

Com a reintegração de Altman, os funcionários e investidores externos da OpenAI – incluindo Khosla – tiraram o controle das mãos de Sutskever e de seus apoiadores dentro da empresa.

Mas será que a OpenAI é realmente uma empresa mais forte do que era há um mês, antes da mudança, como afirmou Khosla? Isso vai depender da opinião de cada um sobre a responsabilidade da IA e do quanto cada um apostou na possibilidade de que a OpenAI se tornaria uma empresa extremamente lucrativa.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais