Poderá uma inteligência artificial um dia ser indicada ao Grammy?

Presidente da entidade que organiza a premiação admite que a linha que separa arte e IA está cada vez mais tênue

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Christopher Zara 3 minutos de leitura

E o Grammy nunca irá para – um robô.

A principal mensagem que o CEO da Recording Academy gostaria que os fãs entendessem diz respeito ao crescente debate sobre IA e música. Embora reconheça que a discussão está repleta de ressalvas, Harvey Mason Jr., que lidera a principal organização da indústria da música desde 2021, afirmou que, embora haja espaço para a tecnologia em qualquer negócio criativo, os prêmios destinam-se a reconhecer as realizações humanas.

A IA tem o potencial de ser uma ferramenta poderosa para a criatividade e um instrumento que permite que ela seja ainda mais liberada.

“Se a IA está executando a música, mas há humanos escrevendo, então ela é elegível para uma categoria de escrita", disse Mason durante o Fast Company Innovation Festival, em Nova York. "E vice-versa: se a IA escreveu a música, mas um cantor – humano – está cantando, então a canção será elegível para a categoria de performance. Acho que isso é bem direto.”

Direto, sim – até não ser mais. Mason admitiu que o debate se torna complicado quando artistas colaboram com ferramentas de IA para produzir trabalhos dignos de prêmios. Essa é uma possibilidade passou a ser vista como mais plausível este ano, quando um criador anônimo lançou uma música viral com a voz replicada por IA do astro do rap Drake.

“Quando você começa a analisar alguns dos modelamentos de voz, algumas outras coisas, onde um humano está realmente cantando, mas estão usando um plug-in para fazer parecer que é outra pessoa – isso é IA? Isso não é IA? O humano que está cantando originalmente é elegível ou não? Há muito a se pensar”, analisou.

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Adam Sharp, presidente da Academia de Arte e Ciência Televisiva dos EUA, interveio dizendo que, tecnicamente já são concedidos Emmys para IA. Ele lembrou que empresas receberam prêmios de tecnologia e engenharia por softwares capazes de simular multidões em programas de TV.

“O negócio é não ser tão inflexível a ponto de sufocar a criatividade", disse ele. "A inteligência artificial tem o potencial de ser uma ferramenta muito poderosa para a criatividade e um instrumento auxiliar que permite que a criatividade seja ainda mais liberada.”

Embora o tópico venha gerando polêmica após o lançamento do ChatGPT e de outras ferramentas de IA generativa ao público no ano passado, os criativos podem se consolar com a ideia de que tais debates não são novos no mundo do entretenimento.

o debate se torna complicado quando artistas colaboram com ferramentas de IA para produzir trabalhos dignos de prêmios.

Vale lembrar que, há mais de uma década, o mestre da captura de movimento Andy Serkis foi considerado digno de uma indicação ao Oscar por seu trabalho em atuação em "Planeta dos Macacos: A Origem", no qual interpretou um chimpanzé em CGI.

Na época, a ideia levantou questões legítimas sobre se o ator ou a equipe de animadores que criou os efeitos deveria ser elegível para receber o prêmio.

De certa forma, a IA é apenas o tema mais recente de uma longa lista de discussões – desde categorias de gênero neutro até gêneros completamente novos de música – que levaram os programas de premiação a reavaliarem suas diretrizes de elegibilidade e a se adaptarem ao longo dos anos.

“Isso vai mudar rapidamente, e nós vamos mudar rapidamente", disse Mason. "Precisamos ser capazes de nos ajustar, e a IA vai nos forçar a fazer isso, garantindo que continuemos sempre ouvindo e aprendendo.”


SOBRE O AUTOR

Christopher Zara é editor sênior de notícias da Fast Company e especializado em mídia, tecnologia, negócios, cultura e teatro. saiba mais