Por que devemos temer mais o desemprego do que a inteligência da IA

O desemprego em massa é uma questão muito mais urgente do que tecnologias conscientes e rebeldes

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Michael Wilkowski 4 minutos de leitura

Como diretor de tecnologia de uma empresa em rápido crescimento, que utiliza  inteligência artificial para criar modelos de compliance personalizados para alguns dos principais bancos do mundo, fiquei desapontado ao saber que o cofundador da Apple, Steve Wozniak, Elon Musk e outros especialistas estavam questionando o propósito da IA e pedindo uma pausa temporária no desenvolvimento de tecnologias de caixa preta.

Quando li a carta, uma frase em particular chamou minha atenção: “Deveríamos desenvolver mentes não humanas que possam, em algum momento, nos superar em número e em inteligência, nos tornar obsoletos e nos substituir?”

Desde o início do ano, tenho ouvido inúmeras pessoas expressarem medos semelhantes, que parecem ser

Afinal, quem investiria bilhões de dólares para desenvolver um modelo de IA que ataca seres humanos?

alimentados por uma obsessão inspirada em Hollywood por robôs conscientes, ciborgues e androides.

Acho tudo isso um pouco estranho, porque, embora todos estejam animados com o fato de que essas tecnologias agora podem ser usadas pelo público em geral, a IA está presente há anos. Essas máquinas aprendem continuamente e, em algum momento, se tornarão mais inteligentes do que os humanos.

Mas ainda estamos longe do ponto em que elas sejam inteligentes o suficiente para se autogerarem e colocarem nossas vidas em risco. As máquinas apenas cumprem o que são programadas para fazer. Se as construirmos com o objetivo de fazê-las se aprimorar de alguma forma, então sim, isso será possível.

No entanto, elas não foram programadas com esse objetivo em mente nem são capazes de desenvolver esse tipo de pensamento. E, talvez mais importante, ainda não temos a estrutura necessária para melhorá-las nesse sentido. Tecnicamente, ainda estamos muito limitados em termos de processamento.

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Acredito que o maior perigo está relacionado a questões de renda básica universal (RBU) e desemprego. A RBU é uma proposta de bem-estar social que visa fornecer renda a toda a população de um país.

No futuro próximo, acredito que esta será uma medida essencial caso os governos não encontrem uma estratégia alternativa para lidar com o desemprego em massa que a rápida adoção da tecnologia de IA desencadeará. Muitos cargos se tornarão obsoletos e levará tempo para que as pessoas aprendam novas habilidades e encontrem novas funções.

Embora a maioria dos empregos em setores especializados, como ciência de dados, comunicações e engenharia, estejam seguros, os bots podem substituir trabalhadores no setor de varejo. Mas sempre haverá a necessidade de pessoas para vender certos produtos. Por quê? Porque não temos problemas em dizer “não” para uma máquina.

As pessoas deveriam se preocupar mais com a perda gradual de empregos e com a necessidade de se requalificarem para adquirir novas habilidades.

A abordagem humana gera confiança, constrói relações e faz com que pensemos: “talvez essa pessoa possa me ajudar”. Por mais que a função de vendedor seja um trabalho desafiador e instável, esse tipo de atividade se tornará ainda mais importante, já que é improvável que a IA consiga substituir todo o processo de vendas.

Acredito que ainda não precisamos nos preocupar com a substituição total dos empregos por IA. Levará tempo até que as pessoas descubram exatamente o que a inteligência artificial é capaz de fazer e ainda mais tempo para integrar todos os sistemas necessários. Além disso, demorará anos para que criemos uma legislação que permita a inclusão de indústrias regulamentadas.

Substituir seres humanos seria um processo longo e complexo, que envolve a integração de sistemas globais em todos os setores. Para se ter uma ideia, a integração de duas empresas normalmente leva de seis a 12 meses. Quando estamos falando de sistemas, o processo é ainda mais demorado e requer aprovação de todos os órgãos reguladores em diferentes instâncias.

TRANSIÇÃO GRADUAL

De acordo com o Relatório de Futuro do Trabalho de 2020 do Fórum Econômico Mundial, estima-se que a IA causará uma grande disrupção no mercado de trabalho, substituindo cerca de 85 milhões de empregos até 2025.

Por outro lado, o relatório também observa que a IA ajudará a criar aproximadamente 97 milhões de novas vagas. Portanto, o processo de transição será gradual e não algo que ocorrerá repentinamente em 2023.

Estimo que treinar um modelo de IA custe entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões, sem incluir as despesas com equipe e testes.

Substituir seres humanos seria um processo longo e complexo, que envolve a integração de sistemas globais em todos os setores.

Inicialmente, o hardware necessário é relativamente pequeno. Mas um modelo que requer cada vez mais poder de computação para se aprimorar exigirá dezenas de milhares de máquinas para hospedagem e processamento.

Da perspectiva de um especialista em IA com mais de 20 anos de experiência, acredito que o desemprego em massa é uma questão muito mais urgente do que tecnologias conscientes e rebeldes.

Entendo que muitas pessoas possam perder rapidamente seus empregos devido à tecnologia, mas não concordo com a ideia de que a IA represente uma ameaça iminente à nossa existência. Afinal, quem investiria bilhões de dólares para desenvolver um modelo que ataca seres humanos?

As pessoas deveriam se preocupar mais com a perda gradual de empregos e com a necessidade de se requalificarem para adquirir novas habilidades. Hoje, temos mais ferramentas para ajudar na construção e no desenvolvimento mais rápido.Mas cada vez mais recursos serão necessários, incluindo profissionais qualificados, o que é um grande desafio já que são realmente difíceis de encontrar.


SOBRE O AUTOR

Michael Wilkowski é diretor de tecnologia da Silent Eight, empresa de tecnologia que usa IA para criar plataformas de compliance para ... saiba mais