Temores sobre as consequências da IA são superestimados, dizem especialistas
Nem todos acreditam no potencial destrutivo da inteligência artificial
Basta assistir TV o suficiente ou ler notícias online com frequência para acreditar que realmente estamos à beira do colapso da humanidade. A inteligência artificial vai transformar a realidade e, de acordo com muitos, provavelmente para pior.
Para aqueles que acreditam que a IA se tornará uma ameaça para a sociedade, não estamos apenas caminhando para isso, mas sim correndo em direção ao nosso fim.
Mas nem todos estão convencidos do potencial destrutivo da IA. Um grupo de especialistas afirma que os temores sobre a tecnologia são exagerados. A seguir estão sete contrapontos apresentados por eles que podem aliviar pelo menos algumas das nossas preocupações.
1. Yann Lecun: a IA é menos inteligente do que um cão
Yann LeCun, chefe de IA da Meta, teoricamente deveria ser um dos que mais exaltariam as capacidades da inteligência artificial generativa. Ele é um especialista experiente, uma das forças motrizes por trás da adoção das redes neurais que sustentam muitas das ferramentas de IA que nos impressionam tanto hoje.
E ainda assim, disse em uma conferência de tecnologia em junho que “não veremos uma inteligência em nível humano, nem mesmo em nível de cachorro ou gato” até que a IA entenda que um objeto flutuante é algo incomum.
"Um medo que foi popularizado pela ficção científica [é] que, se os robôs forem mais inteligentes do que nós, eles vão querer dominar o mundo... mas não há correlação entre ser inteligente e tentar tomar o controle.”
2. Nick Clegg: o hype está um pouco à frente da tecnologia
Colega de LeCun e presidente de assuntos globais da Meta, Nick Clegg é igualmente pessimista em relação às perspectivas da IA. O “hype está um pouco à frente da tecnologia”, disse ele à BBC. Em muitos aspectos, os modelos de IA são “bastante limitados”, de acordo com Clegg.
3. Emily Bender: comparar IA a humanos é subestimar a humanidade
Emily Bender é uma das críticas mais ferrenhas quanto ao potencial da IA. Ela é coautora de um artigo publicado em 2021 que destaca como os modelos de inteligência artificial são como “papagaios” que apenas repetem coisas.
Em uma entrevista em março à “New York Magazine”, Bender defendeu que aqueles que comparam a IA a seres humanos estão prestando um desserviço a todos nós. “As pessoas querem tanto acreditar que esses modelos de linguagem são realmente inteligentes que estão dispostas a se comparar a eles e se diminuir para exaltar o que o modelo pode fazer.”
4. Michio Kaku: a IA não passa de um gravador superestimado
Michio Kaku, físico teórico do City College da Universidade da Cidade de Nova York, disse à CNN que a IA generativa não é a tecnologia incrível que as pessoas parecem pensar que é.
“Ela pega na internet trechos de coisas criadas por humanos, os emenda e os apresenta como se os tivesse criado”, explica Kaku. “E as pessoas então pensam, ‘meu Deus, é humano, é parecido com um humano'. Longe disso. Não passa de um ‘gravador superestimado’.”
5. Melanie Mitchell: compreensão aquém da humana
Professora do Instituto Santa Fé, no Novo México, Melanie Mitchell é outra que expressa cautela em relação às afirmações exageradas sobre as capacidades da IA.
Em uma entrevista à “New Scientist”, ela apontou que as habilidades dos grandes modelos de linguagem se limitam a prever a próxima palavra em uma frase – não muito mais do que isso. “Simplesmente ampliar esses modelos não nos levará à compreensão semelhante à humana que desejamos.”
6. Noam Chomsky: IA demonstra "inteligência pré-humana
O renomado linguista e filósofo Noam Chomsky coescreveu um ensaio em março para o “The New York Times” sobre como o ChatGPT se mostrou uma promessa enganosa. “O ChatGPT, da OpenAI; o Bard, do Google; e o Sydney, da Microsoft são maravilhas do machine learning”, afirmou. Mas isso era tudo o que Chomsky estava disposto a falar de positivo sobre a tecnologia.
“Esses programas estão em uma fase de evolução cognitiva pré-humana ou não humana”, observou o filósofo. “A verdadeira inteligência é demonstrada na capacidade de pensar e expressar coisas improváveis, mas perspicazes.”
7. Evgen Morozov: nem artificial, nem inteligente
Conhecido por traduzir conceitos complexos em ideias compreensíveis, o autor Evgeny Morozov escreveu em março que a IA “não é artificial, nem inteligente. As máquinas não têm um senso de passado, presente e futuro; de história ou de nostalgia (apenas mero conhecimento)”, afirmou.
“Sem esse senso, não há emoção, o que contraria um de seus componentes. Dessa forma, as máquinas permanecem presas à lógica formal singular e a parte da ‘inteligência’ se perde.”