iPhone Air, o smartphone que emagreceu, mas não inovou

Lançamento reacende debates sobre o fim da era criativa da Apple, enquanto recursos realmente disruptivos surgem em outros produtos

Créditos: Apple, Tony Avelar / AFP / Getty Images

Mark Wilson 3 minutos de leitura

Anunciado nesta terça-feira (dia 09), o iPhone Air será lançado em 19 de setembro por US$ 999. Seu grande atrativo? Ele tem 5,6 milímetros de espessura. Exceto pela câmera – essa parte ainda continua saliente.

O aparelho é a tentativa da Apple de reacender o entusiasmo pelo negócio do iPhone, que no ano passado registrou o pior nível de novas ativações em seis anos, já que as pessoas decidiram ficar mais tempo com seus celulares perfeitamente adequados.

A obsessão pela espessura foi um bom chamariz durante a era de ouro da Apple, mas era um artifício que as pessoas gostavam. A Apple pode ter usado essa questão como um recurso vantajoso, mas nunca deixou a espessura definir o design. Era apenas um dos avanços que permitiam repensar categorias inteiras de produtos.

Sim, a busca por uma espessura cada vez menor movimenta toda a indústria de eletrônicos portáteis. Mas, nas mãos da Apple, isso muitas vezes significou mais. Era uma ferramenta de disrupção a curto e longo prazo.

No auge, a Apple usava a espessura para redefinir o que um produto era e até onde ele poderia ir. Mas o iPhone Air não está criando uma nova categoria de celulares finos. No máximo, é um vislumbre do futuro de aparelhos mais delgados, ou talvez uma prévia de um futuro iPhone dobrável.

IPHONE AIR É UM PRODUTO DA ENGENHARIA, NÃO DO DESIGN

Não me incomoda que a Apple tenha lançado um iPhone mais fino. Ela faz isso todo ano. O que me incomoda é que não tenha ressuscitado o querido iPhone Mini – um celular que cabe no bolso e cuja tela menor pode ser mais confortável para o polegar – antes de priorizar outras ideias. O Air não acrescenta nada de significativo à experiência de usar um iPhone.

Também não consigo deixar de pensar: se a Apple está voltando à sua era dos gadgets, por que não vemos versões Mini/ Nano/ Shuffle do que o iPhone poderia ser? Talvez essas explorações fossem tolas e equivocadas. Mas, ao menos, seriam diferentes.

celular iPhone Air segurado entre o indicador e o polegar
Crédito: Apple

Para mim, o anúncio de hardware mais notável do dia foi que os AirPods Pro vão ganhar um monitor de batimentos cardíacos, eliminando uma das principais vantagens do Apple Watch e apontando para ambições maiores da empresa em torno do que será um fone de ouvido com IA daqui a poucos anos.

O segundo é que a câmera do iPhone ganhou um novo sensor que permite tirar uma foto em modo paisagem mesmo segurando o celular em retrato – ou seja, mídia é mídia, não importa como você segura o aparelho.

Com o iPhone Air, a Apple não apresentou um “carro-conceito do futuro”, algo que desafiasse o status quo ou inaugurasse uma nova linguagem de design. Não imaginou como a fusão entre IA e design poderia gerar uma ideia radical, ou pelo menos notável. Em vez disso, está vendendo três modelos de iPhone que são, essencialmente, a mesma coisa em diferentes espessuras.

vista lateral de celulares iPhone Air enfileirados

Mesmo que a Apple quisesse se concentrar apenas na estética – se visse este como o momento de realmente unir seu design com a experiência de usuário do Liquid Glass –, poderia ser interessante. Talvez pouco importante do ponto de vista funcional, mas ao menos seria um produto com ponto de vista.

Mas o iPhone Air é como muito do que vemos hoje saindo da Apple: não nasce do coração da inovação, mas sim da pressão dos acionistas, ansiosos para saber quando a empresa vai oferecer a mesma linha de hardware que já vemos em Samsung, Google e Meta.

Com o iPhone Air, a Apple parece estar fazendo cosplay de si mesma.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais