Já deixou alguém falando sozinho? Ghosting, às vezes, é um mal necessário

Muitas vezes, não responder é o mais adequado. E, francamente, às vezes é até melhor

Créditos: Freepik/ Gerd Altmann/ Pixabay

Steffi Cao e Delia Cai 3 minutos de leitura

Existem certas regras nas redes sociais que todo mundo conhece: ignorar uma conversa é falta de educação e responder com um simples “joinha” é agressivo e indelicado.

Mas, e quanto ao resto? Quando é aceitável cobrar uma dívida antiga de um amigo virtual? O que fazer quando alguém flerta com você no LinkedIn?

Felizmente, as escritoras Delia Cai e Steffi Cao estão aqui para ajudar com suas dúvidas digitais, sejam grandes ou pequenas. Desta vez, elas abordam a eterna questão do ghosting e discutem em que situações isso pode ser aceitável – se é que existe alguma.

Delia Cai – Recentemente, dei alguns conselhos sobre a ideia – ou melhor, sobre a expectativa irreal – de que devemos estar sempre disponíveis para todo mundo. Acredito que nem todos merecem uma resposta. Ignorar ou deixar de responder alguém não só é aceitável, como também um direito seu.

A questão do ghosting, tanto em relacionamentos românticos quanto em outros contextos, nos incomoda porque, no fundo, se trata de entender o que realmente devemos às pessoas ao nosso redor, especialmente em relações mais ambíguas do que “namorado” ou “melhor amigo”. É por isso que gera tantos mal-entendidos e expectativas frustradas.

Poderia falar por horas sobre como a palavra “amigo” virou um termo genérico usado para qualquer um, o que só causa ainda mais confusão. Claro, devemos mais consideração a um amigo de infância do que a alguém que conhecemos no bar e trocamos Instagram. Mas quanto a mais? Isso depende da relação, e só você pode dizer.

Não existe uma regra universal para definir quem deve ou não ser ignorado. Minha regra pessoal, tanto para relacionamentos quanto para amizades, é simples: “passei tempo com essa pessoa de forma intencional mais de uma vez no último ano?”

Ignorar ou deixar de responder alguém não só é aceitável, como também um direito seu.

Se a resposta for sim – seja porque saímos mais de uma vez, fizemos questão de nos encontrar em eventos ou nos reencontramos na reunião da faculdade e em um casamento –, considero ela mais do que uma conhecida e sinto que merece algum tipo de resposta.

Steffi Cao – Concordo, em parte. De modo geral, odeio ghosting. Por que não simplesmente dizer “olha, não estou a fim de sair agora porque preciso focar em outras coisas”? É verdade que ninguém é obrigado a gastar seu tempo com outros, mas é importante estabelecer e comunicar seus próprios limites de forma firme e carinhosa.

Ainda assim, existem nuances. Não acho que todas as situações exijam esse tipo de comportamento. Se alguém que mal conheço me envia várias DMs ou comenta em todos os meus stories, não vejo isso como o início de uma conversa – é só engajamento.

Algumas plataformas, como Instagram e Twitter, são focadas em conteúdo e não em conversas. Então, o ghosting acaba sendo justificável. Muitas vezes, não responder é o mais adequado. E, francamente, às vezes é até melhor.

Delia tem razão ao dizer que isso causa estresse. É esquisito ignorar alguém. Além da culpa, parece que você está desaparecendo do mapa só porque um amigo sugeriu tomar um café. Muitas vezes, é difícil saber quando e como devemos dizer como nos sentimos e se realmente precisamos fazer isso.

Dito isso, há situações em que o ghosting é necessário – seja pelo momento, estado mental ou jornada emocional que estamos passando. Minha outra dica é lembrar que somos apenas um pixel na internet de alguém.

Será que seu colega de faculdade vai realmente ficar em prantos porque você não quis tomar uma cerveja com ele? Ou que aquele ex-colega de três empregos atrás vai ter uma crise porque você não respondeu ao emoji de foguinho que ele mandou no seu story?

Não existe uma regra universal para definir quem deve ou não ser ignorado.

Todos nós somos apenas um pequeno pixel na internet de outra pessoa. É duro, mas lembrar disso pode ser libertador. O importante é entender quando você está ignorando alguém porque acha que é o melhor a fazer e quando está fazendo isso por não saber como expressar o que realmente quer dizer.

Para mim, o ghosting é sempre doloroso, tanto para quem faz quanto para quem recebe. Prefiro ser sincera. Gosto que as pessoas saibam como estou emocionalmente. Não me importo de enfrentar as consequências. Mas sou do tipo que prefere ser vista como grossa a ser ignorada. Respeito quem recorre ao ghosting, até certo ponto. Mas não é algo que eu faria.


SOBRE A AUTORA

Steffi Cao escreve sobre cultura digital para publicações como Forbes, The Washington Post e Teen Vogue. Delia Cai é autora da newslet... saiba mais